sexta-feira, 28 de maio de 2010

Tecnologia para etanol terá linha de financiamento de R$ 1 bilhão

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Na prática, a Finep passará a ser um agente qualificado de repasse da linha de inovação do BNDES antes operada diretamente pelo banco.

RIO - O governo brasileiro decidiu criar um programa de apoio ao desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de etanol e de outros produtos a partir de novos aproveitamentos da cana-de-açúcar. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o BNDES vão aplicar R$ 1 bilhão no financiamento de novos projetos na área.

Destinada a ser embrião do desenvolvimento de um complexo industrial do etanol no país, a linha concorre com esforços feitos por outros países, especialmente os EUA, a partir de outras plantas. A nova linha é parte de um acordo de parceria de R$ 1,75 bilhão assinado esta semana entre as duas instituições. "Temos vantagem comparativa, fruto de desenvolvimento tecnológico já alcançado (na área do etanol), mas isso tem prazo de validade", disse o presidente da Finep, Luis Fernandes.

Os financiamentos serão focados tanto na produção de etanol a partir do bagaço e da palha da cana (tecnologia da lignocelulose), como também a fabricação de novos produtos, como polímeros, óleos especiais e biodiesel. Fernandes disse que as duas instituições vão estruturar ao longo de junho as condições da nova linha que estará disponível no fim de julho. Os recursos deverão ser liberados ao longo de três ou quatro anos.

O outro acordo assinado entre a Finep e o BNDES prevê o repasse de R$ 750 bilhões da linha de inovação do banco para que a agência, cuja finalidade específica é financiar a pesquisa e desenvolvimento de nova tecnologias, possa ampliar seu raio de ação.

Na prática, a Finep passará a ser um agente qualificado de repasse da linha de inovação do BNDES antes operada diretamente pelo banco. Os financiamentos têm juros subsidiados de 3,5% para áreas prioritárias da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do governo e de 4,5% para estudos ou ações de mudanças de processos de pesquisa e desenvolvimento (P & D) pelas empresas.

A Finep anunciou também linha de R$ 130 milhões para aplicação em novas tecnologias voltadas para o pré-sal. O dinheiro será distribuído entre duas chamadas públicas a serem feitas na próxima semana: uma, de R$ 100 milhões, para projetos em parceria de empresas com instituições de ciência e tecnologia voltados para soluções em equipamentos para pré-sal.

Os outros R$ 30 milhões irão apoiar a criação ou capacitação de laboratórios em instituições de ciência e tecnologia para atender a demandas de fornecedores da cadeia e petróleo e gás.

Valor on line 28.5.2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Inovação na indústria depende de mais incentivos para pesquisa

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Competitividade do Brasil depende do aumento da inovação das empresas. Documento da CNI aponta soluções para garantir crescimento sustentado da economia brasileira

Ampliar em 50% os recursos de subvenção à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do setor privado é uma das propostas da indústria brasileira para aumentar o nível de inovação das empresas. Essa sugestão está no documento A Indústria e o Brasil, uma Agenda para Crescer Mais e Melhor, entregue nesta terça-feira, 25 de maio, aos pré-candidatos à Presidência da República Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), no encontro promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O setor industrial entende que a competitividade do Brasil no mundo depende do aumento da inovação das empresas. Mas o avanço da produtividade brasileira, medida pela razão entre a produção e o número de horas trabalhadas, perdeu força entre 2000 e 2008. Num ranking com 20 países, o Brasil ficou na 17ª colocação, crescendo a uma taxa média anual de apenas 0,9%, percentual bem aquém de líderes como Coréia do Sul (7,4%), Taiwan (5,2%) e Suécia (4,8%). O Brasil ficou numa situação melhor somente em comparação com a Itália, Cingapura e Canadá.

Na questão da inovação da indústria lembra que as subvenções, os incentivos fiscais e as encomendas governamentais são os instrumentos clássicos de apoio governamental à inovação. Porém, o Brasil precisa atuar mais nessas áreas. Para se ter uma ideia, apenas 6,5% das empresas brasileiras declararam em 2005 receber algum tipo de apoio para inovação, segundo a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE.

A indústria entende que os incentivos fiscais à inovação no Brasil são restritos, pois deixam de fora pequenas e médias indústrias optantes pelo regime de lucro presumido. "No Brasil, os incentivos fiscais estão concentrados na Lei de Informática, que é relevante, mas representam um incentivo apenas marginal para P&D", diz o documento.

Diante desse cenário, a indústria propõe a revisão do sistema de incentivos à inovação, permitindo que um maior número de empresas possa ter acesso a eles. Para começar, os incentivos fiscais devem ser estendidos às empresas que apuram os impostos pelo lucro presumido. Seria importante também permitir que os beneficiários de incentivos fiscais utilizem os créditos tributários para além do exercício fiscal, de modo a flexibilizar essa aplicação.

Ampliar as compras governamentais, que garantem mercado para produtos inovadores, também é uma sugestão da indústria. Segundo o documento, que será entregue aos presidenciáveis, esse mecanismo é considerado um dos mais eficientes nos países emergentes e mesmo em países desenvolvidos, como nos Estados Unidos. A ideia é priorizar a inovação nas compras do setor público, com a generalização dessa prática para além das áreas de Defesa e Saúde Pública.

A criação de um quadro institucional adequado também é uma sugestão do documento. Uma alternativa seria a criação de uma Agência de Inovação diretamente ligada à Presidência da República. Mas seria importante ainda uma melhor articulação entre os ministérios da área econômica do Governo e os de Ciência e Tecnologia. Hoje, com exceção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os agentes públicos mais relevantes na área de inovação estão vinculados ao Ministério de Ciência e Tecnologia e têm pouca interlocução com a área econômica do Governo.

Além da inovação, no documento entregue aos presidenciáveis a CNI faz um diagnóstico e aponta soluções para outras 11 áreas imprescindíveis para garantir o crescimento sustentado da economia brasileira.

(Fonte: Agência CNI - 24/05/2010)

Gasto com pesquisa é o maior em 11 anos

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Ciência e tecnologia: Investimento privado aumenta, mas só 2 mil dos 87 mil doutores do país estão nas empresas

Sérgio Rezende: "Sempre faltam recursos, mas a nossa experiência, no caso das subvenções, mostra que a qualidade dos projetos ainda deixa a desejar"

O Brasil está investindo, neste ano, o equivalente a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento (P&D). É o maior patamar de investimento dos últimos 11 anos - no ano 2000, o país aplicou 1,02% do PIB e, no ano passado, 1,3% do PIB. Do total deste ano, 0,65% está sendo desembolsado por empresas privadas e estatais, percentual praticamente idêntico ao do setor público.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, diz que, nos últimos anos, a estabilização da economia e a abertura comercial do país forçaram as empresas a investir mais em P&D, mas ele acha que elas ainda investem muito pouco. "Falta cultura", afirma Rezende nesta entrevista. Ele informa que, dos 87 mil doutores existentes no Brasil, apenas dois mil trabalham em empresas. O ministro acredita, no entanto, que há um processo de mudança em curso.

Físico de materiais com doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), Rezende afiança que o Brasil está começando a ser percebido lá fora como um ator emergente não só na economia, mas também na área de ciência e tecnologia. Há duas semanas, ele foi à Costa Oeste americana, em viagem organizada pelo diplomata Rodrigo Baena, responsável na Secretaria de Comunicação do governo pela divulgação do Brasil no exterior.

Já como resultado da viagem, a Intel manifestou interesse em entender melhor as condições para implantar um centro de pesquisa no Brasil. A IBM decidirá, entre Brasil, Austrália e Emirados Árabes, onde instalar o seu. E a General Eletric (GE), recordado o ministro, optou recentemente pelo Brasil.

De amanhã até sexta-feira, o ministro comandará, em Brasília, a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), que, até sexta-feira, já tinha quase 5 mil inscritos.

Valor: Que avanços o senhor julga que ocorreram na área de C&T nos últimos anos?

Sérgio Rezende: Houve quatro avanços, que estão relacionados às quatro prioridades do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação, lançado em 2007. O primeiro foi a consolidação de um sistema nacional de C&T. O sistema já existia com esse nome há muito tempo, mas somente agora ele está funcionando efetivamente.

Valor: No que consiste esse sistema?

Rezende: Consiste em decidir sobre a apoio a programas não de cima para baixo, mas de maneira articulada com sociedades científicas e entidades empresariais e com os Estados e até com alguns municípios. Hoje, existe um conselho de secretarias estaduais de C&T. Vários dos programas que temos atualmente foram articulados com os Estados, que têm que entrar com contrapartida, algo que foi definido pelo próprio conselho.

Valor: Como funciona a contrapartida?

Rezende: No caso de São Paulo, é um para um - para cada real colocado pelo governo federal num programa de pesquisa, o Estado coloca outro. Nos casos de Rio de Janeiro e Minas Gerais, a gente entra com 1,5 e eles, com 1. Nos Estados mais pobres, a proporção é de 5 para 1. Há um programa, destinado a expandir e consolidar o sistema de C&T, que é o de Núcleos de Excelência (Pronex). O edital é feito pelas fundações estaduais e uma boa parte dos recursos vem do governo federal. O resultado efetivo desse programa, que foi criado em 1997, mas sofreu esvaziamento e depois foi revigorado pelo governo Lula, é que os Estados passaram a colocar recursos. Os governadores passaram a ver que, se colocassem mais recursos nesses programas, mais eles receberiam do governo federal.

Valor: Há outros programas em parceria com os Estados?

Rezende: Há, por exemplo, o Programa de Apoio à Pesquisa em Pequena Empresa (Pappe). A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) entra com os recursos da subvenção [a fundo perdido], mas a empresa tem que disputar isso por meio de edital. O governo estadual também coloca recursos, mas não pode escolher diretamente os projetos. A Lei de Inovação exige que haja disputa, via edital de concorrência, pelos recursos que vêm de subvenção.

Valor: Qual foi o segundo avanço?

Rezende: Foi o grande aumento nos recursos financeiros. No ano 2000, os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que inclui dinheiro para pesquisa e subvenções dadas a empresas, limitaram-se a R$ 220 milhões, em valores de hoje. Em 2010, vão a R$ 3,1 bilhões. Considerando todos os recursos federais, o que inclui as verbas dos institutos do MCT, os programas nuclear e espacial, o CNPq e outras ações do ministério, o orçamento saltou, no mesmo período, de R$ 1,070 bilhão para R$ 5,376 bilhões.

Valor: Na semana passada, o governo anunciou que cortará R$ 10 bilhões do orçamento. A sua área sofrerá cortes?

Rezende: Não houve nem haverá contingenciamento no MCT. Um artigo que está na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) há alguns anos proíbe o contingenciamento de recursos dos fundos setoriais.

Valor: Mas eles foram contingenciados nos últimos anos.

Rezende: Em 2007, o presidente Lula decidiu que o contingenciamento dos fundos seria decrescente até chegar a zero em 2010. É isso o que está ocorrendo.

Valor: Qual foi o terceiro avanço?

Rezende: Foi a percepção de muitos empresários e empreendedores da necessidade de investir em C&T e inovação, isso em paralelo à criação dos novos instrumentos de apoio. O setor privado está investindo 0,65% do PIB em P&D. Em 2000, investia 0,47% do PIB.

Valor: Os críticos dizem que é muito pouco quando se comparam aos investimentos feitos por países que concorrem com o Brasil?

Rezende: Isso é verdade. O interesse das empresas cresceu, mas ainda é muito pequeno. Mas antes não havia nada. Temos três modalidades de subvenção econômica: o Pappe; o edital nacional, criado em 2006; e o Prime (Primeira Empresa Inovadora), para novas empresas, lançado no ano passado. Nos três programas, foram beneficiadas até agora cerca de 2.500 empresas. Em 2006, do primeiro programa [de subvenção nacional], foram beneficiadas aproximadamente 200 empresas.

Valor: Quanto foi liberado?

Rezende: O total chegou a cerca de R$ 2 bilhões. As liberações são crescentes, o que demonstra o interesse das empresas. O edital nacional deste ano, que será anunciado durante a conferência pela Finep, vai dispor R$ 500 milhões.

Valor: Por que o interesse empresarial ainda é aquém das necessidade? Faltam recursos?

Rezende: Falta cultura. Sempre faltam recursos, claro, mas a nossa experiência, no caso das subvenções, mostra que a demanda é muito grande, mas a qualidade dos projetos, que são julgados por comitês com representantes das empresas, do meio acadêmico e do ministério, ainda deixa a desejar.

Valor: Por quê?

Rezende: Porque as empresas não têm pesquisadores de uma maneira geral.

Valor: E por que elas não contratam pesquisadores?

Rezende: Porque é uma questão cultural. Até a década de 80, a preocupação das empresas era pagar os salários no fim do mês, correr contra a inflação. Na década de 90, aconteceram duas coisas marcantes: uma foi a estabilização da economia; outra foi a abertura comercial. Com a abertura, aquelas empresas que não tinham gestão foram engolidas, muitas desapareceram, outras foram à falência. Mas já havia um movimento, que começou no governo e foi tendo a adesão das empresas, para desenvolver programas de gestão da qualidade. As empresas passaram a ver que tinham que ter certos padrões para ter boa gestão. Hoje, muitas das pessoas que foram líderes daquele processo, como Jorge Gerdau, são os que lideram agora o movimento para a inovação. Uma vez que a empresa tem gestão da qualidade, ela possui um produto de mercado, vai bem e sobrevive. Mas, para fazer grandes avanços, ela tem que ter coisa nova.

Valor: Faltam mestres e doutores na empresa brasileira?

Rezende: Na Coreia do Sul, 80% dos pesquisadores estão nas empresas. Nos Estados Unidos, mais de 60% estão nas companhias, embora lá haja um grande contingente no governo por causa dos laboratórios e dos investimentos em defesa. No Brasil, a maioria está no governo [principalmente, nas universidades]. Dos 87.063 doutores que temos no Brasil [dados de 2008), apenas 2 mil, o equivalente a 2,3% do total, estão trabalhando em empresas. Mas essa situação está começando a mudar.

Valor: Como?

Rezende: Há dez anos, havia somente 200 doutores nas empresas. A mudança foi grande e tenho certeza de que será maior ainda na próxima década. Além disso, o Brasil está formando mais de 10 mil doutores por ano [em 2009, foram 11,4 mil] e quase 39 mil mestres [38,8 mil no ano passado]. No caso dos doutores, formamos mais do que França, Itália, Coreia do Sul, Espanha e Finlândia e menos do que Índia, Rússia, China, Japão, Alemanha e Estados Unidos.

Valor: O que está faltando para que as empresas contratem pesquisadores, mestres e doutores?

Rezende: Está faltando o sistema empresarial ver que isso faz diferença. Uma empresa que possui doutores tem mais competitividade e maior lucratividade. Não adianta o governo falar. O governo pode criar mecanismos para estimular. Criamos, por exemplo, a Lei da Inovação, que procura aproximar os pesquisadores das empresas. Essa lei criou a subvenção tanto para financiar projetos quanto para contratar mestres e doutores, mas a demanda das empresas para esse tipo de contratação ainda é muito pequena. Há uma interpretação no mercado de que, de um modo geral, o doutor aprofundou os estudos e é muito acadêmico. As empresas acabam preferindo o engenheiro.

Valor: O doutor formado no Brasil não é mesmo muito acadêmico e distante da realidade das empresas?

Rezende: A maioria certamente é, mas isso é um processo. Há muitas universidades formando engenheiros com doutorado. O engenheiro sai do doutorado com uma base teórica, mas muitas vezes experimental também, muito grande. Mas quando chega à empresa, ele precisa se envolver com os problemas e usar toda aquela formação para tentar resolver as questões da companhia.

Valor: O problema está na forma como a universidade brasileira prepara seus doutores?

Rezende: Nós temos, por causa da demanda, um público na área de ciências humanas - ciências sociais, direito, administração etc. - proporcionalmente maior que o de outros países. Na Coreia, na China e na Índia, há uma procura muito maior pelas engenharias.

Valor: O senhor acha que é um problema o país formar mais doutores nas ciências humanas?

Rezende: Não. Isso reflete um estágio da nossa cultura e também das oportunidades existentes. O Brasil forma uma quantidade enorme de advogados, que têm muitas oportunidades no mercado de trabalho. Um exemplo: há inúmeros concursos na área pública para pessoas formadas em direito. O mercado tem um papel importante. Entre 1982 e 2002, o número de estudantes formados em engenharia diminuiu de 26 mil para 15 mil. Isso ocorreu por causa dos anos de estagnação da economia. Os jovens olham para as carreiras que oferecem oportunidades. Hoje, com a retomada do investimento e o crescimento da economia, está faltando engenheiro, e não se forma um da noite para o dia. A Vale e a Petrobras estão procurando profissionais no exterior.

Valor: O que o governo está fazendo para valorizar as ciências exatas?

Rezende: Estamos fazendo, com o Ministério da Educação, algo que terá resultado em dez anos: a Olimpíada Brasileira de Matemática na escola pública. Começou em 2005, por ordem do presidente Lula. O que ocorria até então é que os estudantes das escolas públicas não concorriam na olimpíada nacional de matemática por medo, então, o governo criou uma só para a escola pública. Em 2005, tivemos 10,5 milhões de concorrentes. Em 2009, foram 19,1 milhões, 10% da população brasileira. As crianças não são obrigadas a concorrer, como no exame do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Valor: O que os estudantes ganham ao participar da olimpíada?

Rezende: Os 300 melhores ganham medalha de ouro, os 600 seguintes, medalha de prata, outros 2.100 seguintes, medalha de bronze, e todos ganham uma bolsa de R$ 150 para, no ano seguinte, fazer curso de matemática, fora da sala de aula. Em 2009, estudantes de 43 mil escolas públicas em 5.650 cidades participaram da olimpíada, o que equivale a 99,1% dos municípios. Isso vai estimular muitos estudantes a optarem por engenharia e áreas afins mais adiante.

Valor: É muito comum comparar-se o fracasso brasileiro nessa área ao sucesso da Coreia do Sul.

Rezende: É muito diferente fazer uma política industrial e tecnológica para um país de 8,5 milhões de Km2 e 190 milhões de pessoas, do que fazer para a Coreia, que hoje é um país democrático, mas que quando deu o grande salto não era. Os "chaebols", os grandes grupos coreanos, eram empresas da área de agricultura, de exploração de recursos naturais, que o governo chamou e disse o que é que eles iam fazer. A política industrial coreana, portanto, foi forçada.

Valor: Qual foi o quarto avanço?

Rezende: Foi o fato de termos priorizado também C&T para o desenvolvimento social, num sentido bem abrangente - inclusão digital, melhoria do ensino nas escolas públicas etc. Há coisas que o MCT não fazia antes. Inclusão digital, por exemplo, não era assunto desse ministério.

Valor: O Brasil é muto atrasado e desigual no acesso à internet rápida. Por que é assim?

Rezende: Eu não diria que está tão atrasado, afinal, existem 60 milhões de usuários de internet no Brasil. Em média, o brasileiro fica na internet três vezes mais tempo do que a média dos outros países.

Valor: O que explica isso não é a internet lenta?

Rezende: Certamente, isso contribui, mas não só. Não há mais acesso porque o custo é alto. Outra razão é que não existe internet ainda nos locais coletivos - principalmente, nas escolas públicas e nos centros comunitários, onde a população mais pobre poderia ter acesso. As escolas estão tendo acesso gradualmente, até o fim deste ano deve chegar a 56 mil. Agora, surge o plano nacional de banda larga porque, há quatro anos, não se falava disso; falava-se apenas de internet. Na medida em que a internet vai ficando sofisticada, a informação passa a ser mais completa e isso exige mais velocidade. O governo decidiu usar os cabos de fibra óptica que pertenciam a empresas estatais de energia e recriar a Telebrás para gerir isso.

Valor: Como ela vai operar?

Rezende: Não está definido ainda. Há visões diferentes dentro do governo.

Valor: Qual é a sua?

Rezende: É que a Telebrás deveria chegar aos municípios e, lá, oferecer o serviço a um provedor de internet a um determinado custo, menor do que aquele que as grandes empresas comerciais cobram hoje. Só no Rio Grande do Sul, há 600 licenças concedidas pela Anatel a pequenos provedores para exploração de internet. Falta chegar a infraestrutura.

Valor: É possível chegar a um custo mais baixo ou haverá subsídio?

Rezende: Por um bom tempo, quem vai bancar isso é o governo. A Telebrás vai levar o serviço aos locais onde não existe banda larga e também onde os preços estão muito altos. No fundo, o que o governo quer é contribuir para a regulação desse mercado, forçando os preços para baixo.

Valor: O setor de telecomunicação era muito ineficiente antes da privatização. O senhor não teme que a recriação de uma estatal crie novas ineficiências?

Rezende: O plano da Telebrás é ser uma empresa enxuta, que vai contratar serviços de outras empresas, como já fazem as empresas privadas. Prefiro correr esse risco a continuar como está hoje. Estão aí os preços altos cobrados pelas empresas privadas e a falta de cobertura. Com a Telebrás, as empresas serão obrigadas a cortar custos e a reduzir preços.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sudeste precisa avançar na área de tecnologia, design e qualidade

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Os problemas que os Arranjos Produtivos Locais (APLs) enfrentam no Sudeste na área de produção são: elevada informalidade, dificuldade em manter um fluxo constante de fornecimento de produtos e serviços, barreiras ambientais, ausência de fornecedores de matérias-primas e equipamentos para a indústria local.

A conclusão faz parte de um levantamento produzido no ano passado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O mesmo estudo indica que os gargalos em tecnologia e inovação são: baixo conteúdo tecnológico, pequena incorporação de design aos produtos, ausência ou deficiência nos programas de assistência técnica. Os APLs do Sudeste encontram ainda dificuldades em financiar capital de giro e em investir em métodos gerenciais, administração de empregados e controle de qualidade. Também enfrentam ausência de informações sobre o mercado e baixa eficiência dos sistemas de comercialização e marketing.

No Sudeste, são 41 os APLs, dos quais 24 ficam em São Paulo. Os setores de móveis organizados nos arranjos estão em Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. O setor calçadista está presente nos Estados mineiro e paulista. A região abriga ainda APLs em outros setores, como extração mineral, madeira e móveis, confecções, metalomecânico, tecnologia da informação, bebidas, entretenimento, fruticultura, aeroespacial, agroindústria, álcool e biotecnologia.

Luciano Almeida, secretário de Desenvolvimento de São Paulo, diz que o Estado tem 24 APLs e 22 aglomerados produtivos (ainda sem estrutura local e governança), distribuídos em 119 municípios. Para fomentar cerca de 2 mil empresas, em 15 APLs, que geram mais de 60 mil empregos diretos, a secretaria assinou um convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Sebrae-SP, para viabilizar um projeto-piloto de US$ 20 milhões, em andamento desde 2008.

O Sebrae-SP tem forte atuação no apoio aos APLs desde 2002, com o objetivo de reforçar os polos produtivos industriais melhorando a competitividade das empresas. A atuação, inicialmente concentrada em capacitação e consultoria, foi reorientada a partir de 2009. Segundo Ilsiane Peloso, do Sebrae-SP passou a atuar mais setorialmente, promovendo uma análise efetiva de mercado. O objetivo foi identificar o que os consumidores mais exigentes esperam dos produtos e, assim, adequar melhor a relação varejo/indústria. Para as empresas, essas ações possibilitaram adicionar serviços e agregar valor aos produtos.

Para José Ricardo Roriz Coelho, diretor-titular do Departamento de Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a criação da Rede Paulista de Arranjos Produtivos Locais tem ajudado a organizar as demandas locais. "Além disso, induziu as localidades a terem muito claro quais investimentos fixos devem demandar, quais os atores locais devem estar envolvidos e quais objetivos de apoio à competitividade das MPEs locais devem ser atendidos", afirma.
Valor, 24,05,2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

Especialista diz que inovação abre portas no mercado externo

Presidente da Ompi afirma que uma inovação não serve apenas para bloquear os concorrentes no mercado interno, mas também para abrir inúmeras possibilidades de negócio

A inovação tem que fazer parte do DNA de uma empresa. Este foi o ponto comum dos especialistas que participaram do painel que abriu o segundo dia de trabalho do 6º Encontro Anual da Rede Internacional para as Pequenas e Médias Empresas (Insme). O evento, realizado no Rio de Janeiro, reúne 185 delegados de 25 países, de organizações públicas e privadas.

Para o conselheiro da divisão de micro e pequena empresa da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi), Marco Marzano de Marinis, uma inovação não serve apenas para bloquear seus concorrentes no mercado mas também para abrir inúmeras possibilidades de negócio. Como exemplo, citou Eric Favre, da empresa suíça Monodor, que inventou o processo Nespresso, tipo de café expresso em que o pó é armazenado em cápsulas que conservam o aroma e o sabor, um dos produtos mais bem sucedidos do mundo.

"Eles tem apenas 50 empregados na Suíça e são considerados uma pequena empresa, mas explora acordo de patente e está presente em vários países. E a mesma idéia está sendo utilizada para o chá", destacou Marinis. O conselheiro defende que é preciso modificar a abordagem sobre a propriedade intelectual. No portal da Ompi, pode ser encontrada uma ferramenta de ensino a distância com módulos que falam sobre a criação e negociação de uma marca. Por enquanto, a ferramenta está disponível apenas em inglês e árabe, mas em breve será traduzido para todas as línguas das Nações Unidas (ONU).

Representantes da África do Sul, Holanda e Estados Unidos apresentaram diversas soluções para promover parcerias mais estreitas com universidades, prolongar o tempo de incubação e acompanhar empresas para manter os laços ou facilitar o acesso a recursos com o mínimo de burocracia. Outro ponto comum entre diferentes culturas são mitos que tratam a inovação: uma boa idéia sempre vai receber investimento ou um produto inovador terá aceitação imediata no mercado foram alguns exemplos.

O diretor da Academia Nacional de Ciências (NAS) de Washington (EUA), Charles Wessner, defende que o modelo linear que coloca a inovação em categorias estanques, como pesquisa básica, aplicada, desenvolvimento e comercialização, deve ser repensado. Como exemplo, ele citou as dificuldades que os criadores do Google, hoje citada como exemplo de negócio visionário, enfrentaram para conseguir financiamento.

Programas do governo que incentivam a inovação e a importância do papel do Sebrae na disseminação do conhecimento foram ressaltadas pelo presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).

"Temos características diversificadas e inovações que seguem o mesmo padrão, como o que aconteceu em Recife, onde uma área portuária decadente foi transformada em polo da ciência da computação, procurado por estudantes de todo o mundo. Lugares como este, espalhados por todo o Brasil, são focos de oportunidade. Neste contexto, quero valorizar o papel do Sebrae que trabalha tanto para aumentar o número de empresas apoiadas pelas incubadoras como para acelerar o crescimento delas. A proposta de todos nós é criar uma nova geração de líderes de negócios que tem a inovação como processo natural".

terça-feira, 11 de maio de 2010

Sebrae/RJ assessora empresas a participarem de editais

É preciso estar atento às exigências das instituições de fomento. Segundo a Finep, em média, 35% dos projetos são rejeitados por não estarem de acordo com as regras dos editais

Inovar faz parte da natureza das micro e pequenas empresas em estágio inicial, já que elas estão mais dispostas a correr riscos. Mas, para isso, são necessários recursos financeiros.

A Financiadora de Estudos e Projetos, do governo federal (Finep), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e o BNDES oferecem linhas de crédito ou lançam, com certa frequência, editais que incentivam a inovação nos pequenos negócios.

Mas é preciso estar atento aos prazos, no caso dos editais, e, em muitos casos, buscar ajuda para se adequar às inúmeras exigências das instituições de fomento. A PHDsoft é exemplo de que é possível. A empresa acaba de receber R$ 500 mil do Edital Rio Inovação, da Faperj, para desenvolver um software de gestão da integridade de usinas nucleares. O diretor da PHDsoft, Duperron Marangon, conta que, desde que foi criada, a empresa obteve recursos participando de vários editais.

Tudo começou em 2000, quando ela recebeu uma verba de R$ 150 mil da linha Venture Capital, de capital de risco, da Finep, que permitiu sua formalização e o fechamento de contratos importantes: "A partir daí, a empresa dobrou seu faturamento a cada ano, e hoje temos uma tecnologia que é a líder mundial", comenta Marangon.

Outro exemplo dos resultados do fomento à inovação é a Polinova, especializada em materiais plásticos, que surgiu em 2004, incubada na Coppe/UFRJ, desenvolvendo produtos para outras empresas.

Dois anos depois, os sócios vislumbraram a possibilidade de desenvolver sua linha própria de produtos, e não somente ser uma terceirizada. Só que a empresa não tinha capital para investir nessa empreitada. Era o primeiro ano do Rio Inovação e o projeto foi aceito pela Faperj, recebendo R$ 175 mil.

Agora, em 2010, a Polinova conseguiu aprovação em outro edital da Faperj, para pesquisar o desenvolvimento de reparos plásticos no setor de petróleo e gás, e quatro bolsas do CNPq para profissionais especializados na área. Hoje, a Polinova é a única empresa do País que desenvolve massas epóxi de alto desempenho para o setor de petróleo e gás.

Sebrae/RJ presta assessoria para quem quer participar de editais

É claro que participar de editais de financiamento ou de subvenção não é fácil. Dados da Finep revelam que, em média, 30 a 35% dos projetos submetidos à sua avaliação são rejeitados por não estarem de acordo com os editais. Esse quadro levou o Sebrae/RJ a estruturar o Programa de Assessoria para Editais de Financiamento (Paef).

O objetivo, explica o gerente de Inovação e Acesso à Tecnologia da instituição, Ricardo Wargas, é contribuir para democratizar o acesso a financiamentos governamentais. Mas o Paef não se limita a ajudar a preencher os formulários de forma correta: o programa também aponta possíveis melhorias nos projetos apresentados.

"No último Edital Rio Inovação/Pappe Subvenção, de 260 projetos que assessoramos pelo Paef no estado, 204 foram aprovados. Agora, o Sebrae Nacional quer replicar o programa para todo o País", conta Wargas.

(Fonte: O Globo - 09/05/2010)