sexta-feira, 29 de abril de 2011

Investidor-anjo francês chega ao Brasil

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"A hora de investir nas empresas brasileiras é agora. Daqui a cinco anos, terá sido tarde", afirma Stéphane Darracq, fundador e presidente da Equinoxe
O francês Stéphane Darracq, que atua como empresário e investidor, vê no Brasil um grande potencial para a criação de algo semelhante ao Vale do Silício, a região da Califórnia onde se concentram muitas empresas de tecnologia da informação (TI) e de onde parte boa da inovação nos Estados Unidos.

Como fundador e presidente da LeadMedia, companhia especializada em sistemas e serviços de marketing na internet, ele foi responsável pela aquisição, em janeiro, da Media Factory - antes pertencente ao grupo IdeiasNet - e do site Busca Descontos, em junho de 2010. Agora, no papel de investidor-anjo, Darracq prepara-se para fazer novas aquisições no país.

No fim do ano passado, o empresário fundou a empresa de investimentos Equinoxe, voltada exclusivamente para aportes em companhias brasileiras de TI. O nome Equinoxe é homenagem à antiga companhia marítima francesa, que nos séculos XVI e XVII enviava embarcações da França ao Brasil para importar pau-brasil. "Como estamos voltando ao país para fazer negócios, achei apropriado retomar o nome histórico", afirma Darracq.

A Equinoxe foi fundada com capital inicial de US$ 10 milhões, aportado por oito investidores-anjos europeus, incluindo Darracq. A companhia tem como meta investir em pequenas e microempresas das áreas de internet, serviços para dispositivos móveis, comércio eletrônico, jogos e redes sociais, que tenham receita anual entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões e apresentem alto potencial de crescimento.

Em cada empresa, a Equinoxe prevê investir entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão. A meta é associar-se a até 20 companhias iniciantes brasileiras. "No momento, negocio com quatro companhias. A estimativa é fechar sociedade com duas ou três até julho", afirma Darracq. Ele mantém os nomes das empresas em sigilo, mas diz que na lista estão uma companhia de jogos on-line, uma de comércio eletrônico e outra concentrada na venda de anúncios em redes sociais.

De acordo com o presidente da Equinoxe, o aporte de capital pode ser majoritário ou minoritário. Não há prazo de duração da sociedade. "O plano é levar as empresas mais prósperas à abertura de capital. O ideal seria encontrar de três a cinco 'Buscapé'", afirma Darracq, referindo-se ao site brasileiro de comparação de preços. Criado por quatro estudantes, em 1999, o Buscapé foi vendido em 2009 ao grupo de mídia sul-africano Naspers, por US$ 342 milhões.

Darracq tem uma longa experiência em negociação com empresas de tecnologia. Ele começou em 1989 na área de fusões e aquisições da Hill Samuel & Co. Depois disso, teve passagens pelo European Bank for Reconstruction and Development (EBRD), pelo fundo de private equity Invesco Asset Management, pela consultoria Opta Limited e pelo banco de investimento Anglo-Suisse Capital.

O empresário diz que, em média, de cada dez empresas de TI nas quais investe, duas a três não dão certo; quatro a seis chegam ao ponto de equilíbrio e duas ou três fazem sucesso. "O sucesso dessas duas ou três empresas costuma ser tão grande que mais do que compensa todos os outros investimentos não lucrativos", afirma. A vantagem de investir na área de TI, diz Darracq, é que o investimento inicial costuma ser mais baixo que negócios tradicionais, como empresas de varejo e de manufatura.

Na avaliação do empresário, o Brasil está hoje no momento ideal para investir, com a economia em crescimento, estabilidade política, um mercado de tecnologia consideravelmente grande e com forte potencial de expansão nos próximos anos. "O momento de investir no Brasil é agora porque as empresas ainda têm um preço baixo. Daqui a cinco anos, o mercado estará maduro, mas os preços das empresas estará alto e terá sido tarde pensar em investir", afirma.

Para dar início às operações no Brasil, Darracq contratou a Ficus Investimentos, que vai apoiar as negociações. Ele também contratou três executivos para captação de novos sócios. Além dos oito investidores europeus, a empresa tem por meta atrair dois sócios investidores brasileiros.
Valor 29.4.11

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Davos faz 40 anos e debate inovação no Rio

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Marisol Barillas, diretora-sênior e chefe para América Latina do WEF: recuperação da crise explica interesse pela AL

Inovação, tecnologia e sustentabilidade estão no centro dos debates da sexta edição latino-americana do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) que será realizada hoje e amanhã no hotel Intercontinental, no Rio. Essa é a terceira edição do evento realizada no Brasil. Mais conhecido como Fórum de Davos, nome da cidade suíça onde foi criado, o WEF comemora 40 anos este ano.

A organização do evento registrou recorde de participação, a ponto de ser obrigada a encerrar as inscrições um mês antes do previsto, informou Marisol Argueta de Barillas, diretora-sênior e chefe para América Latina do WEF. São mais de 700 inscritos entre líderes de empresas, governos, acadêmicos e outros setores da sociedade civil, representando 46 nacionalidades. Na edição anterior foram 540 inscritos.

Tanto interesse se justifica pela forma como a região se recuperou da crise financeira internacional, pelos indicadores e perspectivas da região, disse Marisol. Nos próximos cinco anos, se espera que a economia da América Latina cresça 4,7% em comparação com 2,1% da Europa e 2,7% dos EUA.

Hoje, cinco países da região ostentam a mais alta classificação entre as agências de avaliação de risco de crédito. Ao México e ao Chile, que durante anos foram os únicos países com grau de investimento, hoje se somam Brasil, Peru e Panamá. "Esses indicadores mostram o potencial de crescimento da América Latina", afirmou Marisol.

O tema de fundo dos 25 painéis que compõem o fórum é "Criando a Plataforma para uma Década Latino-Americana". O programa está distribuído em três grandes áreas. A primeira é relacionada com governabilidade nacional e o papel da América Latina na governança global. A segunda é a inovação e produtividade, buscando trazer as discussões das experiências e melhores práticas das grandes empresas e outras sociedades que praticam tecnologia e inovação. A terceira está relacionada com a promoção de alianças para a sustentabilidade.

"Para as empresas latinas, o tema que mais interessa é a inovação", disse Ingo Plöger, presidente do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal) e um dos participantes. Segundo ele, inovação é o que vai dar o destaque de competitividade, especialmente no Brasil.

"Há uma migração da pesquisa e desenvolvimento dos países do Primeiro Mundo para o Brasil em setores como pré-sal, mineração, aeronáutico, automotivo e agronegócios", disse Plöger, lembrando que esses são ramos de atividade que se destacam pela capacidade de crescimento e absorção de soluções inovadoras.

"O foco do evento é definir o que queremos ser daqui a dez anos, e o que precisa ser feito para atingirmos metas de melhoria em áreas críticas, como educação e inovação", afirmou Frederico Fleury Curado, presidente da Embraer e co-presidente da seção latino-americana do WEF.

Plöger destaca ainda os temas de cunho social que estão na programação do fórum, principalmente a participação da mulher e o impacto cultural da ascensão social de amplas camadas da população. A organização do WEF reservou espaço também para a discussão do desenvolvimento urbano e dos riscos de catástrofes naturais.

Marisol acredita que outro motivo que levou a um recorde de participação no fórum este ano foi o interesse em conhecer a equipe do novo governo brasileiro - a presidente Dilma Rousseff confirmou participação na abertura e trará cinco ministros ao evento.

"Creio que a demonstração de estabilidade da América Latina, junto com os vastos recursos que existem no Brasil, o interesse por conhecer a nova presidenta e o novo governo, o posicionamento global do país nos últimos anos põem o Brasil em um alinhamento muito interessante para os participantes", disse a executiva.

O Brasil também está no foco pelos eventos que vai sediar, principalmente Copa do Mundo de 2014, Olimpíada de 2016 e a reunião Rio+ 20, que serão assunto de dois painéis específicos.

O WEF é realizado por uma organização constituída como fundação em 1971, sediada em Genebra, na Suíça. Os participantes são selecionados a partir de um processo amplo, que envolve consultas bilaterais com líderes de diferentes setores dos países, as empresas membros do fórum e também com os membros do Conselho Global sobre América Latina que se reune periodicamente para discutir a situação da região.
Valor 28.4.11

terça-feira, 26 de abril de 2011

Governo deve aumentar verbas para inovação

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A economia aquecida e o destaque do Brasil no mercado externo ajudam a chamar a atenção para as oportunidades dentro de ensino, pesquisa e tecnologia. É neste contexto que as iniciativas em inovação têm ganhado espaço no Governo, nas universidades, nas empresas e nos intitutos de pesquisa, fortalecendo a tendência de que esse espaço de discussão seja convertido em ações e aumento de verba para a inovação tecnológica no País.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, por exemplo, chegou a dizer que em vez de o Governo destinar R$ 40 millhões ao longo de três anos, como o fez por meio do PAC de Tecnologia, essa deveria ser a verba disponível anualmente. Ele reconheceu a necessidade premente de aumento da destinação de recursos para a ciência e disse que, limitar os recursos é ruim, visto que essas pesquisas são essenciais para o futuro do País.

Na semana passada, o ministro anunciou que o Governo estuda a criação de quatro novos fundos setoriais para ciência, tecnologia e inovação, pelo menos um deles a ser financiado com tributação sobre automóveis que não usam biocombustíveis. Os fundos, segundo ele, usariam recursos do setor financeiro, da indústria automotiva, da mineração e da construção civil.

O problema, conforme pontua Isa Assef, presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (Abipti), é que ainda falta gestão adequada dos recursos e, principalmente, fortalecimento da relação entre institutos de pesquisa, academia e empresas para aplicação das verbas em inovação. "O Brasil vive uma situação muito diferente dos Estados Unidos, por exemplo, onde os empresários investem nas universidades. O Governo precisa agir para induzir movimentos como este no País. A Lei da Informática é um exemplo de como isso é possível", afirma Isa.

Para propor melhorias nesse contexto, a Abipti vai realizar um encontro com seus mais de 200 associados no dia 27 para redigir um documento com propostas a serem entregues ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Segundo Isa, entre os tópicos a serem tratados estão a revisão dos marcos regulatórios legais para financiamentos, a necessidade de mais agilidade na liberação de recursos e a permissão de uso das verbas para pagamento de pessoal das próprias instituições de pesquisa (atualmente, o dinheiro só pode ser destinado ao pagamento de terceiros).

Mas o Brasil tem histórias de sucesso de iniciativas em inovação. A Universidade de Campinas (Unicamp), por exemplo, destaca- se como modelo que se traduz em uma nova fonte de receitas para a instituição por meio de royalties. No ano passado, a universidade alcançou a marca de 600 famílias de patentes registradas.

Ao longo dos últimos cinco anos, essas patentes renderam R$ 1,3milhão em licenciamentos. Apenas em 2010, foram 43 patentes registradas, o maior número durante um ano. Em 2009, a Unicamp havia recebido R$ 5,5 milhões em verbas de convênios para sua agência de inovação, a Inova.

A receita de royalties ainda é inconstante. No ano passado, foi de R$ 191.681,57. Em 2007, os licenciamentos chegaram a render quase R$ 305 mil. A queda, segundo Roberto Lotufo, diretor-executivo da Inova, se deve à dificuldade de encontrar empresas dispostas a comercializar ou investir em projetos ainda em fase inicial.

"Quando se deposita uma patente, a pesquisa na maioria das vezes está em fase inicial. Isso dificulta a universidade ou o próprio pesquisador a encontrar empresas que queiram investir nesses projetos." A queda nos últimos anos deve ser revertida com a construção de um novo centro de inovação dentro da universidade, que poderá render novas pesquisas e empresas - uma estrutura passível de ser copiada por outras instituições do País.
Fonte: Brasil Econômico - 19/04/2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

PNI aprova 26 projetos de incubadoras e parques tecnológicos

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A FINEP acaba de divulgar os resultados de dois editais lançados no âmbito do PNI – Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos. Um deles, com R$ 40 milhões destinados a parques tecnológicos, aprovou 12 projetos. Já o outro, que oferece R$ 10 milhões para incubadoras, selecionou 14 propostas. Ambos os apoios serão não reembolsáveis (que não precisam ser devolvidos).

A chamada pública para parques tecnológicos foi direcionada para aqueles já existentes e em adiantado estágio de implementação. O objetivo é apoiar a aceleração e consolidação dos parques em funcionamento no país, buscando alcançar novos patamares de eficiência e performance. Os recursos poderão ser aplicados em despesas de capital (infraestrutura, instalações, construção de novos prédios, compra de equipamentos), recursos humanos e materiais de consumo. A FINEP recebeu 26 propostas, que somaram uma demanda de R$ 164 milhões.

Foram selecionados 12 parques, sendo quatro na região Sul e cinco no Sudeste. Já as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste tiveram um projeto contemplado cada.

A carta-convite lançada para consolidar a formação de redes de incubadoras no Brasil ofereceu recursos para financiar despesas operacionais, melhoria das instalações e bolsas de pesquisa pelo CNPq. Foram convidadas a participar as incubadoras-âncora selecionadas nas chamadas de 2006 e 2009.

A FINEP recebeu 15 propostas, que contabilizaram R$ 26 milhões. Após a avaliação, foram selecionadas 14 incubadoras. Sudeste e Sul tiveram quatro escolhidas cada e Nordeste, Norte e Centro-Oeste tiveram duas cada.

fonte Finep (7/4/2011)

terça-feira, 12 de abril de 2011

Nanofábrica produz nanocápsulas para medicamentos



Cientistas do MIT estão transformando em realidade um objetivo longamente sonhado pela nanotecnologia.

Minsoung Rhee e seus colegas construíram uma máquina capaz de construir objetos em nanoescala com alta precisão.

E os produtos que saem dessa nanofábrica não são objetos curiosos para demonstração de uma tecnologia futurística, são nanoesferas capazes de transportar medicamentos dentro do corpo humano.

Microfluídica e nanocarregadores

Os pesquisadores uniram dois conceitos que já estão em uso prático para criar sua nanolinha de produção.

De um lado, estão os chamados nanocarregadores, partículas microscópicas que transportam medicamentos diretamente para o local onde eles são necessários, evitando os danos colaterais produzidos quando o medicamento entra em contato com áreas sadias do corpo.

Do outro lado estão os biochips, ou chips microfluídicos, verdadeiros microlaboratórios nos quais as amostras passam por análises químicas ou sofrem reações no interior de microcanais construídos dentro de uma pastilha de vidro.

O que os cientistas fizeram foi demonstrar que os dispositivos microfluídicos podem ser transformados em fábricas para criar as nanoesferas carregadoras de medicamentos.

Nanofábrica


Para que entrem no corpo humano sem causar danos e sem serem alvejados pelo sistema imunológico, os nanocarregadores devem ter composições e formatos muito precisos.

O novo sistema de produção oferece um algo nível de controle sobre o tamanho e a composição das partículas, permitindo a fabricação de nanopartículas homogêneas em larga escala.

Na linha de produção da nanofábrica, um fluxo do polímero é injetado através de um canal microfluídico que é controlado em três dimensões.
Nanofábrica produz nanocápsulas para medicamentos
Nanoesferas fabricadas dentro da fábrica microfluídica: embaixo, da esquerda para a direita, partículas reais com 33 nanômetros, 55 nanômetros e 200 nanômetros. [Imagem: Advanced Materials]

Isso significa que o polímero não toca as paredes dos canais, permitindo a formação de nanoesferas perfeitas quando o polímero entra em contato com um fluxo de água que viaja na direção oposta.

O sistema usa um solvente orgânico chamado acetonitrila para manter os polímeros longe das paredes e evitar a deformação e a aglomeração das nanoesferas.

Nanocarregadores

O polímero utilizado na composição das nanoesferas é totalmente biodegradável e biocompatível, podendo transportar uma grande variedade de moléculas - os medicamentos - de forma controlada, sem dispararem o alerta do sistema imunológico.

Além do medicamento, que normalmente vai em seu interior, as nanoesferas possuem em sua superfície moléculas que se ligam unicamente a proteínas existentes nas células a serem alvejadas - as células de um tumor, por exemplo.

Depois de liberarem os medicamentos no lugar certo, as nanoesferas são eliminadas pelo organismo.
fonte: Redação do Site Inovação Tecnológica - 11/04/2011

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Indústria e governo discutem incentivos à inovação

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O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, e dirigentes de 24 grandes empresas discutirão, nesta sexta-feira, 8 de abril, propostas para o incentivo à inovação. Eles participarão da reunião da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), que ocorrerá das 9h às 11h30, no escritório da CNI em São Paulo. O encontro também terá a presença do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, do secretário-executivo do Ministério das Ciências e Tecnologia, Luiz Elias, e de Heloísa Menezes, secretária de Desenvolvimento da Produção, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

As propostas que serão avaliadas tratam da ampliação dos incentivos fiscais para o desenvolvimento de produtos e processos, da atração de centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e aperfeiçoamento dos instrumentos de apoio à etapa pré-competitiva. Essa fase, considerada uma das mais caras e arriscadas do processo de inovação, corresponde ao período em que o produto novo sai do laboratório para ganhar escala de mercado.

Entre os empresários que participarão do encontro da MEI estão os presidentes do Grupo Ultra, Pedro Wongtschowski, da Aché, José Ricardo Mendes da Silva, da Braskem, Carlos Fadigas, da Embraer, Frederico Curado, da General Electric do Brasil, João Geraldo Ferreira, e da IBM Brasil, Ricardo Pelegrini.

O evento também contará com a presença dos presidentes da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Mauro Borges, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Jorge Ávila, e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Luiz Barretto. A MEI é uma iniciativa da CNI que pretende dobrar, em quatro anos, o número de empresas inovadoras no Brasil.
Agência CNI 08.04.2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sites de crowdfunding chegam ao Brasil

Sites ajudam a tirar projetos do papel

Sites de crowdfunding chegam ao Brasil e já permitem que microempresas se transformem em patrocinadores de diversos tipos de projetos e, assim, façam propaganda

Vai ficar mais difícil para o pequeno empresário reclamar de falta de dinheiro para tirar uma ideia do papel ou para divulgar sua marca. Depois de se popularizarem lá fora, os sites de crowdfunding chegam ao Brasil e já permitem que microempresas se transformem em patrocinadores de diversos tipos de projetos e, assim, façam propaganda gastando a partir de R$ 100. Eles também tornam possível a captação de recursos diretamente do público interessado em sua ideia, sem precisar recorrer a bancos ou investidores.

Como? Um bom exemplo é o do designer norte-americano Scott Wilson, cuja ideia foi criar pulseiras que, uma vez acopladas ao iPod Nano, se transformavam em relógios bem bacanas. Ele poderia ter procurado a própria Apple, criadora do iPod, para custear a fabricação do produto. Ou então pedir um empréstimo a uma instituição financeira no valor de US$ 15 mil - dinheiro necessário para produzir os tais relógios. Mas decidiu seguir por outro caminho.

O inventor colocou seu projeto no site www.kickstarter.com, que divulga produtos inovadores, e pediu a colaboração dos consumidores que tivessem gostado dos relógios. Não se tratava, porém, de uma doação. Quem desse pelo menos US$ 25 já teria o direito de receber em casa o relógio - batizado de Tik-Tok. Para colaborações acima desse valor, as recompensas variavam, podendo chegar até a uma edição especial dos produtos.

Para que todo mundo fosse contemplado, o projeto teria de arrecadar o valor total pleiteado (US$ 15 mil). Ou então a ideia naufragaria e o dinheiro seria devolvido aos colaboradores. Resultado: Wilson conseguiu angariar nada menos de US$ 941,7 mil, além de testar com sucesso a aceitação de seu produto e fazer uma bela venda inicial.

E os colaboradores do projeto também saíram ganhando: levaram para casa os relógios a US$ 25, um preço mais baixo do que os US$ 34,95 que ele viria a custar no varejo logo depois de pronto.

Foram casos como esse que inspiraram empreendedores brasileiros a trazer o sistema crowdfunding ao País. O JT pesquisou oito sites que entraram no ar este ano. O Catarse http://blog.catarse.me/, lançado em janeiro, foi um dos primeiros deste tipo no Brasil. "Com a web, é possível mudar a forma de financiamento de boas ideias, incentivar a inovação e fazer todo mundo sair ganhando", afirma Diego Reeberg, estudante de Administração da FGV-SP e um dos fundadores do Catarse.

Mesmo com pouco tempo de vida, o Catarse já tem projetos bem-sucedidos em sua lista, como o Rabiscaria. O designer Carlos Filho, um dos idealizadores do Rabiscaria, queria criar um site em que artistas mandassem desenhos que pudessem ilustrar produtos - e assim torná-los únicos.

A ideia era que os desenhos com maior aceitação dos visitantes do site fossem estampados em copos, chinelos, garrafas térmicas e o que mais viesse à cabeça. Depois de customizado, carregando a marca do artista, o produto seria colocado à venda no site - e o artista receberia 10% do valor da venda.

Tudo certo. Só faltava o dinheiro para tirar a ideia do papel. Eles já tinham toda a estrutura do site, os artistas parceiros, mas não os recursos necessários para produzir o primeiro lote e, assim, se capitalizar para produzir e vender mais.

Carlos Filho e seus sócios precisariam de R$ 22,5 mil para a primeira produção. "Os bancos cobram juros muito altos, vimos que não teríamos condições de fazer um empréstimo", diz Filho. "E para essa quantia tão baixa os investidores também nem dão bola. Tivemos que buscar outra fonte de recursos."

No Catarse, conseguiram arrecadar pouco mais de R$ 23 mil. Mais da metade veio de apenas três apoiadores, que deram R$ 4 mil cada e receberam em troca telas do artistas naïf Moacir, da Chapada dos Veadeiros, avaliadas em mais de R$ 15 mil.

Criar recompensas atraentes, aliás, é chave para um projeto ser bem-sucedido no sistema crowdfunding. O pessoal do Motiva.me sabe disso e está de olho no potencial de pequenas e médias empresas como patrocinadoras de projetos. "Desenvolvemos um sistema para que as empresas possam colaborar em troca de banners no site e anúncios nas mídias sociais", conta Luiz Antonio da Luz, um dos fundadores do Motiva.me.

Eles garantem, por exemplo, a citação da marca toda vez que os criadores do projeto fizerem um post no Twitter. "Já recebemos contatos de empresas e instituições interessadas na ideia", informa Luz. O preço da propaganda vai depender do valor do projeto.
Carolina Dall’ Olio, do Jornal da Tarde 04.04.2011

Laranja de mesa ganha terreno com inovações

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A década de 60 chegava ao fim quando Gilson Lucato desembarcou em São Paulo para estudar e trabalhar. Seu pai tinha uma pequena produção de laranja em Limeira, onde vivia, e logo ele conseguiu emprego no box que os tios tinham acabado de montar na Ceagesp, que nasceu em 1969 a partir da integração entre as estatais paulistas Ceasa e Cagesp.

Gilson trabalhou durante dez anos com os tios, até que eles desistiram do box e voltaram a se concentrar apenas na produção da fruta, também em Limeira. Era a oportunidade de assumir o box, e com as condições favoráveis oferecidas pelos parentes um novo ramo dos Lucato assumiu o ponto na Ceagesp.

Hoje "seu" Gilson passa mais tempo no interior que na capital. O box continua no mesmo lugar, mas suas laranjas não cabem mais nele. As vendas já alcançam 25 mil toneladas por ano, e a partir de investimentos em tecnologia, distribuição e marketing a Citrícola Lucato tornou-se exemplo de que é possível crescer mesmo focada na venda de laranja para mesa, um mercado desarticulado e que há décadas vive à sombra da cadeia exportadora de suco, que absorve cerca de 70% da produção nacional da fruta.

Definidas pelo empresário, as mudanças na Lucato começaram em 1979, com a construção de um barracão em Limeira, e nos últimos anos passaram a ser conduzidas por seus três filhos. Foram eles - Gilson Lucato Junior, Carlos Alberto Lucato e Paulo Henrique Lucato - que receberam o Valor na semana passada, no mesmo terreno em que o antigo barracão há algum tempo foi substituído por um moderno "packinghouse", atualmente em fase de ampliação.

Mas a história não é assim tão linear, e por pouco a Citrícola Lucato não teve vida curta. Em 1984, "seu" Gilson, cansado da ponte terrestre Limeira-São Paulo, resolveu alugar o box na Ceagesp e passou a se dedicar a negócios em outras áreas, sobretudo a venda de combustíveis. Mas também iniciou sua própria produção de laranja, e quando voltou ao comércio da fruta, reassumiu o box e reativou o barracão, em 1995, deu prosseguimento às transformações.

Naquela época, o filho mais velho, Junior, então com 18 anos, seguiu o caminho do pai e também trocou Limeira por São Paulo para estudar e trabalhar. Batia ponto na Ceagesp, e teve voz na guinada que tempos depois abriu as portas do grande varejo à Lucato. "A questão era como voltaríamos ao mercado. Sabíamos das dificuldades em se trabalhar pensando em volume, que é o foco da cadeia exportadora de suco, e decidimos apostar em frutas de qualidade para o mercado de mesa", lembra Junior, que se formou em administração.

A primeira missão foi prospectar bons fornecedores, já que grande parte da laranja vendida pela Citrícola era - e continua sendo - produzida por terceiros. Foi preciso superar inclusive a concorrência de indústrias exportadoras nesse processo, e muitas vezes a disputa foi ganha com o pagamento de preços superiores aos praticados no mercado da matéria-prima.

Carlos Alberto explica que a colheita de laranja já era direcionada a caixas plásticas, não a silos - "não era gasto, era investimento" -, a comercialização era realizada em caixas de madeira maiores que as usuais e as estratégias de venda foram sendo sofisticadas. As caixas de madeiras depois também foram trocadas por caixas de plástico e as vendas começaram a ser fechadas por quilo, não por caixa.

"Nessa época [entre 2003 e 2004], o mercado interno estava difícil, mas a demanda por produtos de qualidade era forte", diz Junior. Nesse cenário, e com forte influência de Carlos Alberto, que é engenheiro, começaram os investimentos em tecnologia e maquinário. Carlos foi para a Califórnia em meados da década passada para conhecer as novidades, já que em 2006 começariam as vendas para supermercados e ao varejo focado em produtos de qualidade superior e público de alta renda.

A primeira máquina, importada da Nova Zelândia por US$ 500 mil, chegou em 2008. Para quem não conhece, ver o calibrador eletrônico Compac modelo 5000 em operação impressiona. Ele identifica todas as frutas descarregadas em uma esteira e as seleciona a partir de critérios como tamanho, aparência, cor e peso. Mesmo frutas secas, de difícil identificação, são descartadas. As que estão no padrão são encaminhadas ao cliente, com rastreabilidade total; os descartes são vendidos no mercado spot para as indústrias de suco.

Antes disso, e também por conta do aumento da clientela e de suas exigências, a Lucato começou a produzir laranja em Madre de Deus de Minas, em Minas Gerais, em uma fazenda que hoje tem 200 mil pés em produção, toda ela irrigada pelo sistema de gotejamento - o mesmo implantado em outra unidade em Fernando Prestes, em São Paulo, adquirida em 2008 e onde há cerca de 100 mil pés.

E outras melhorias vieram, como a aplicação de novas tecnologias para o pós-colheita, câmaras frias para ampliar a durabilidade das frutas, frota própria de caminhões, investimentos em marketing em pontos-de-venda e embalagens modernas, como as encontradas na Califórnia e na Espanha - principal referência europeia em laranja de mesa. Para embalar as frutas, outra máquina foi comprada em 2009 e duas chegarão em 2011, e a etiquetadora automática foi trocada recentemente.

Nas gôndolas do Pão de Açúcar na capital paulista, por exemplo - a Lucato também está e é possível encontrar pacotes de 2, 3 ou 5 quilos de laranjas lima ou pêra, com preços que variam de R$ 6 a R$ 14. E vem aí a laranja bahia, a ortanic (híbrido de laranja pêra com tangerina) e o limão, já cultivados nas fazendas da empresa, como adianta Paulo Henrique, o filho mais novo de "seu" Gilson.

Como no caso de concorrentes que trilham estratégias similares e também despontam no grande varejo com frutas de qualidade superior, a Citrícola Lucato, que vem crescendo 20% ao ano e emprega mais de 100 pessoas, tem suas vendas concentradas em São Paulo, mas 20% delas já são direcionadas aos Estados de Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. E se as vendas da empresa ao varejo cresceram 90 vezes de 2006 para cá, os tradicionais feirantes, que compravam 90% das frutas no passado, hoje não representam mais do que 2%.

"Muitos consumidores ainda não reconhecem a qualidade diferenciada de uma fruta tratada dessa maneira, mas aos poucos esse comportamento está mudando. O mercado doméstico é forte e vale a pena trabalhar com laranja de mesa". Palavras dos irmãos Lucato, para orgulho de "seu" Gilson.
Valor Fernando Lopes | De Limeira (SP)
04/04/2011