segunda-feira, 29 de agosto de 2011

À caça de talentos


Ao encerrar as inscrições para seu programa Jovens Engenheiros, em julho, a Mineração Usiminas deu início a um intenso trabalho: selecionar 30 entre os 3.600 candidatos formados entre 2008 e 2011 para ocupar, a partir de setembro, as vagas destinadas a jovens graduados nas áreas de engenharia civil, de minas, mecânica, metalurgia, e ambiental, ou em mecatrônica e geologia. O salário inicial, de R$ 4.633, e os benefícios previstos no contrato foram grandes atrativos. Mas havia outro igualmente importante: o acesso a conhecimento especializado por meio de ações de treinamento, além de acompanhamento de engenheiros experientes durante 36 meses.

Criada em 2010 como uma joint venture a partir de parceria com o grupo japonês Sumitomo, a Mineração Usiminas tem como meta, até 2015, elevar de 7 milhões para 29 milhões de toneladas sua produção anual de minério de ferro. E não há nada de que a companhia necessite mais hoje do que profissionais com os conhecimentos técnicos específicos demandados pela atividade.



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Como os candidatos que participaram do programa da mineradora, cerca de 80% dos engenheiros saem hoje da universidade decididos a encontrar um emprego, diz o professor Segen Estefen, diretor de tecnologia e inovação da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas a maioria precisa, ainda, de treinamento intensivo por um simples motivo: a falta crônica de profissionais especializados, capazes de atender as necessidades de uma economia em crescimento, está ligada a fatores complexos, de difícil solução, que mistura deficiência nos ensinos básico e fundamental, professores despreparados para estimular o interesse dos jovens pelas ciências exatas, currículos universitários muito teóricos e desvalorização da profissão num passado recente.

Estefen diz que o Brasil precisa investir na melhoria do ensino de base, como fazem Europa, Japão e os países asiáticos, onde a preparação para as ciências exatas começa de forma sólida já no ensino básico. "Aqui, além de não se estimular a preparação de professores capazes de transmitir esses conhecimentos, convivemos com uma cultura de aversão ao risco, um desestímulo ao processo criativo", diz. Nesse ambiente não se formam profissionais inovadores, tampouco jovens cientistas interessados na carreira acadêmica ou em se tornar empreendedores de alta tecnologia, avalia.

Pedro Wongtschowski, presidente do grupo Ultra e do Movimento Empresarial pela Inovação (MEI), ligado à Confederação Nacional da Indústria (CNI), tem a mesma visão: "A forma de ensino no Brasil não desperta a característica inovadora das pessoas. O ensino discursivo continua em muitas salas de aula". Segundo ele, embora a evasão nos cursos de engenharia tenha diminuído de 45% para 20%, ainda é alto o percentual de universitários que deixa a universidade por falta de preparo para acompanhar do curso.

Para Ronald Dausha, diretor de tecnologia e inovação da Siemens, os cursos precisam ter currículos mais adequados e com maior carga de matemática e demais disciplinas que estimulem o raciocínio lógico. Além disso, os pais precisam estimular os filhos a se interessar pelo estudo dessas disciplinas.

"O que faz um país crescer são as ciências duras", complementa o professor Oswaldo Massambani, que levou para o Centro Paula Souza a experiência de coordenador da Agência USP de Inovação, que ajudou a criar. Massambani defende a criação de mais cursos de ciências exatas. "É mais difícil, custa mais, precisa de laboratórios, mas é necessário."

A boa notícia: já se nota um movimento de renovação do interesse dos jovens pelas diversas áreas da engenharia, em decorrência do boom da construção civil, da indústria do petróleo e do agronegócio. Isso sem falar da implantação de diversos programas e iniciativas nos últimos anos que aproximam empresa e universidade, preveem bolsas de estudo para a pesquisa científica e tecnológica, disseminando a cultura de inovação e do empreendedorismo de alta tecnologia. O Inova Paula Souza é uma dessas iniciativas, cuja meta é promover a cultura de inovação entre os 8 mil professores e 200 mil alunos das Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Estado de São Paulo.

O Idea, do Coppe, é outro. O objetivo do projeto é estimular alunos e pesquisadores a transformar os resultados de suas pesquisas em produtos e novos empreendimentos e, assim, ampliar o número de micro e pequenas empresas de base tecnológica no país, diz o professor Stefen. A grande questão, porém, é como fazer a sociedade despertar para a questão de que a educação básica é fundamental.
Por Marlene Jaggi | Para o Valor, de São Paulo

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Paraná terá “banco do empreendedor”


Agência de Fomento quer espalhar agentes em todos os 399 municípios do Estado ao longo dos próximos quatro anos

A partir de setembro, a Agência de Fomento do Paraná coloca em marcha duas iniciativas para apoiar pequenos empresários – inclusive aqueles que estão bem longe da sede da instituição, na Avenida Vicente Machado, centro de Curitiba. “Precisamos acreditar no empreendedor”, conclama o presidente da Fomento, Juraci Barbosa Sobrinho, em depoimento a AMANHÃ TV. Uma das novidades é a criação do “Banco do Empreendedor”, como Juraci denomina a rede de agentes de crédito que a Fomento quer espalhar por todos os 399 municípios do Paraná ao longo dos próximos quatro anos.

É uma maneira de driblar um impedimento legal: a Fomento não pode estender braços pelo Estado, como um banco. Trabalhará, então, de modo articulado com CDLs e outras entidades empresariais e comunitárias das regiões para ter localmente um “agente de crédito” que estimulará os empreendedores a utilizar as linhas da Agência Fomento do Paraná. A instituição também lançará em setembro o “Programa Fomento Tecnologia” com o objetivo de fornecer capital de giro e de investimento para pequenas empresas que têm produtos e serviços inovadores e não estão cobertos por incubadoras. Com prazo de três anos para pagar, o empreendedor tomará estes recursos pagando TJLP mais juros de 6% ao ano. Tudo somado, nas condições atuais isso significa um juro ao redor de 1% ao mês.

Amanhã 24.8.2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011

BNDES e Finep selecionam planos de inovação de empresas do setor sucroalcooleiro


O BNDES e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) anunciaram o resultado da primeira etapa do Plano Conjunto de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico (PAISS).

Nessa primeira etapa, 57 empresas enviaram Cartas de Manifestação de Interesse para as diversas linhas temáticas contempladas pelo PAISS. Desse total, 39 empresas foram selecionadas para a segunda etapa, quando deverão enviar planos de negócio para análise conjunta pelo BNDES e a Finep.

As informações detalhadas para as empresas selecionadas para a segunda etapa do processo seletivo estão disponíveis no portal do Banco e no site da Finep (www.finep.gov.br).

Os prazos para envio dos planos de negócio são: 14 de outubro, para as empresas selecionadas nas linhas temáticas 2 e 3 (Novos produtos de cana-de-açúcar e Gaseificação da biomassa de cana), e 18 de novembro, para as empresas selecionadas na linha temática 1 (Bioetanol de 2ª geração).

O PAISS é uma iniciativa conjunta do BNDES e da Finep, e conta com R$ 1 bilhão para utilização no período 2011-2014. Seu objetivo é fomentar projetos que visem o desenvolvimento, a produção e a comercialização de novas tecnologias industriais destinadas ao processamento da biomassa proveniente da cana-de-açúcar.

Os projetos derivados dos planos de negócio selecionados terão apoio das instituições, de uma e/ou de outra, com base nas linhas de financiamento, programas e fundos já existentes. Ou seja, os investidores poderão obter financiamento dentro das diversas linhas e programas do BNDES e da Finep, de acordo com as características dos projetos, incluindo participação societária por intermédio da BNDESPAR. O custo para o tomador, portanto, dependerá do modelo do projeto apresentado.

A iniciativa do governo brasileiro une esforços dos principais órgãos de fomento do País, a fim de que o Brasil alcance, nas tecnologias mais avançadas, o mesmo protagonismo já desempenhado na produção de biocombustíveis convencionais.

O Brasil ocupa posição privilegiada no mundo como grande produtor de biocombustíveis, em particular de etanol a partir da cana-de-açúcar, mas a tecnologia industrial atual está próxima de seus limites. O novo desafio diz respeito ao domínio das tecnologias de produção do etanol de segunda geração, ou seja, a partir da biomassa.

BNDES 22/08/2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Para agência de fomento alemã, cooperação em ciência deve ser reforçada




Conheça a DFG Brasil


O aumento dos investimentos públicos dirigidos à produção científica e à inovação pode ser considerado uma das razões pelas quais a Alemanha superou a crise financeira internacional de 2008 primeiro que seus vizinhos e, atualmente, se apresenta melhor que o resto da Europa, imersa na recessão econômica e nos problemas do alto endividamento público. A opinião é do engenheiro de produção Matthias Kleiner, presidente Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG), fundação nacional alemã responsável pelo financiamento à pesquisa acadêmica no país, órgão equivalente no Brasil ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência de fomento do Ministério da Ciência e Tecnologia, ou à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do governo estadual.

Há três anos, logo no início das turbulências da economia mundial, Kleiner conta que o governo alemão decidiu aportar, de forma extraordinária, € 18 bilhões para a DFG aumentar a concessão de bolsas de mestrado e doutorado, apoiar universidades na construção de novas habitações a estudantes e criar uma linha específica de financiamento para centros de pesquisa de excelência.

Quando a Europa dava os primeiros sinais, em 2010, de que poderia mergulhar em nova crise, a DFG conseguiu dos governos federal e estaduais da Alemanha, responsáveis por 99% dos recursos da entidade, a fixação de um aumento anual de 5% de seu orçamento para os próximos cinco anos. A medida vale a partir deste ano, quando a agência pretende gastar € 2,5 bilhões para financiar estudos de mais de 20 mil doutorandos, além de mestrandos, graduandos e projetos de educação básica.

Em passagem de dois dias pelo Brasil, Kleiner fechou parcerias de intercâmbio com fundações estaduais de apoio à pesquisa, com maior atenção às áreas de energia, utilização do solo e mudanças climáticas, se reuniu com a direção das agências federais do setor e com empresários brasileiros e alemães - potenciais doadores da DFG. Na visão de Kleiner, "a produção acadêmica do Brasil avança rapidamente", com a formação de mais de 10 mil doutores por ano.

Para Kleiner, ciência e inovação estão ganhando destaque nas agendas de governos do mundo todo e são motivo de cooperação entre países, e Brasil é um país que lidera esse processo. "É importante para a Alemanha e outros países trabalharem juntos nesse campo. Temos desafios globais relevantes que só podem ser enfrentados com cooperação, veja o tema das mudanças climáticas, de energia, os problemas de saúde", observou. (LM)
Valor 19.8.2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

São Carlos, a terra do doutor-empreendedor

Vanderlei Bagnato, professor da USP-Sao Carlos: processo lento
No meio acadêmico de São Carlos é comum ouvir que "em qualquer lugar e a qualquer hora" uma ideia pode virar negócio. Interessadas nesse pensamento - ainda pouco difundido na universidade brasileira -, empresas nacionais e estrangeiras, principalmente do setor de tecnologia, estão desembarcando na cidade e projetando aumentar seus investimentos locais de olho em um tipo diferente de ativo: os doutores-empreendedores. São alunos, professores e pesquisadores universitários com sólida formação intelectual e forte disposição para fazer a ponte entre academia e mercado e, assim, contribuir com o lançamento de produtos inovadores e também para fundar e administrar seus próprios negócios.

São Carlos, município de 225 mil habitantes, a 230 quilômetros da capital paulista, abriga dois campi da USP, uma universidade federal (Ufscar), duas particulares e dois laboratórios de grande porte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Essa densidade acadêmica dá ao município o título de cidade com o maior número per capita de doutores do país. A proporção é de um titulado com doutorado para cada 180 habitantes, ante uma média nacional de um para cada 5.423, de acordo com levantamento de 2010 feito pelo Departamento de Estatística da Ufscar.

A economia local mescla grandes e pequenas indústrias de várias atividades, setor de serviços diversificado e tradicional produção de laranja, cana e leite. Atualmente, um quarto do parque industrial de São Carlos é composto por cerca de 250 empresas de base tecnológica. Boa parte delas nasceu da integração entre universidade e mercado.

Guiadas por esse perfil, nos próximos meses pelo menos 90 fabricantes de equipamentos médicos, de materiais especiais e de tecnologia da informação (TI) começam a se instalar em um novo condomínio empresarial na cidade, reservado apenas para negócios do setor de tecnologia. Estima-se investimento de até R$ 20 milhões e a criação de mais de 3 mil empregos com média salarial mensal em torno de R$ 5 mil.

Batizado de Parque Eco Tecnológico Damha, o empreendimento ocupa área de 3,6 milhões de metros quadrados de uma fazenda desativada que pertencia a uma empresa falida de São Carlos, a Companhia Brasileira de Tratores (CBT). Projetado pelo grupo Encalso/Damha, o parque é considerado o primeiro distrito empresarial de terceira geração do Brasil, por congregar empresas de tecnologia, conjuntos residenciais de médio e alto padrões e amplos espaços comerciais e de lazer, como um shopping center e um campo de golfe.

Os quatro empreendimentos imobiliários foram lançados ao longo dos últimos oito anos e registram hoje valorização de até 500% no preço do metro quadrado. A parte empresarial do condomínio, de 460.000 m2, está na fase de finalização da infraestrutura e início das obras das empresas. Os lotes de 2.000 m2 vendidos às empresas estão 20% mais caros do que à época do lançamento, no ano passado.

As companhias que compraram terrenos no distrito empresarial têm direito a benefício fiscal previsto na política estadual Sistema Paulista de Parques Tecnológicos. O decreto 53.826, de dezembro de 2008, determina adiantamento de crédito acumulado do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) recolhido sobre o plano de investimentos no condomínio, incluindo consumo de energia elétrica e compras locais e importação de equipamentos. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, oferecem juros mais baixos para empréstimos a projetos de pesquisa e inovação de empresas em parques tecnológicos.




Luis Ushirobira/Valor


Jarbas Castro, presidente da Opto Eletrônica: no setor privado já há 30 anos


"Mas o enfoque não são os incentivos públicos, porque o parque é uma iniciativa estritamente privada. As empresas esperam um ambiente colaborativo e com suporte para buscar a inovação sempre", explica J. Octávio Paschoal, presidente do Instituto Inova. A escolha das empresas que vão compor o distrito tecnológico de São Carlos passou pelo crivo do instituto, que administra o empreendimento e faz o canal com o governo do Estado e as instituições de fomento federais. Aspectos de sustentabilidade, como utilização parcial de energia solar, aproveitamento de água de reúso e reciclagem do lixo, são critérios de seleção.

O instituto vai montar um núcleo de inovação no parque para receber incubadoras de tecnologia e facilitar o contato das empresas do local com as universidades de São Carlos e outros centros de pesquisas do país. A unidade também prestará serviços de certificação, design e marketing de produtos, consultoria de mercado e promoção das empresas do condomínio em feiras e eventos de inovação. "Na área tecnológica é muito comum uma nova empresa desenvolver um produto inovador com ajuda da universidade, mas rapidamente ele se torna obsoleto porque falta estrutura para a empresa se comportar no mercado e continuar inovando. O parque veio para criar um locus próprio de inovação", afirma Paschoal, ex-professor de engenharia da USP. O condomínio também contará com um centro de pesquisa financiado pelo Ministério da Saúde.

Na opinião do secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia de São Carlos, Marcos Alberto Martinelli, o parque tecnológico aumentará a interação entre empresas e as universidades da cidade, que serão as maiores fornecedoras de mão de obra do empreendimento. "As empresas não escolheram vir para cá à toa. Além dos incentivos recebidos por estarem num parque tecnológico, elas se aproveitam da proximidade das universidades para absorver mão de obra qualificada", diz.

A prova disso está impressa no cartão de visitas do diretor da Materials Institute of Brazil (MIB), Marcelo Tadeu Milan, que fez questão de destacar o título de PhD em engenharia de materiais. Graduado pela USP de São Carlos e doutor pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, ele trocou o laboratório acadêmico pelo mercado há poucos anos. "Queria profissionalizar meus experimentos e isso pode ser muito lento na universidade. É frustrante ter o conhecimento, saber o que precisa ser feito com ele, e não ter os recursos à disposição", lembra Milan.

Na iniciativa privada ele coordena os investimentos da MIB, que comprou dois lotes no parque tecnológico por R$ 120 mil cada e se prepara para investir, com financiamento do BNDES, R$ 2,5 milhões na construção de sua nova unidade. A Vale já demanda serviços do doutor, agora empresário, na área de transporte ferroviário de cargas para avaliação de desgastes e manutenção de trilhos e rodas dos trens da mineradora.

O físico Jarbas Castro, ex-pesquisador do Instituto Nacional de Óptica e Fotônica (Inof) da USP São Carlos, fez a transição para o setor privado há 30 anos, depois de voltar do doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT). "Vivi uma transformação. Lá respeita-se o empresário porque ele gera riqueza. 95% dos físicos nos Estados Unidos estão no setor produtivo e 5%, na academia. Na minha época era exatamente o oposto no Brasil. Mas isso está mudando, em São Paulo são mais de 50% dos físicos nas empresas", conta Castro, que ainda leciona na USP.

De lá para cá, ele fundou a empresa Opto Eletrônica, que não deu lucro por vários anos, mas hoje fatura anualmente R$ 100 milhões com o desenvolvimento de lentes para os satélites do Programa Espacial Brasileiro e modernos microscópios para clínicas e hospitais. "Nos primeiros dez anos fomos basicamente um laboratório privado. Nos arrumamos mesmo quando vendemos a tecnologia de laser de leitura de código de barras para a Itautec, em 1986, e passamos a investir mais em pesquisas para outros produtos. Hoje temos um planejamento do produto que queremos lançar daqui a dez anos", completa Castro, que coordena uma equipe de 15 doutores e 20 mestres. "Cursos de mestrado e doutorado são considerados hora trabalhada aqui na empresa."

Já Vanderlei Bagnato dedica tempo integral às aulas e às pesquisas acadêmicas do Inof. Sob sua coordenação, o instituto da USP São Carlos registrou mais de 30 patentes nos últimos anos e desenvolve pesquisa para várias empresas que não têm condições de realizar pesquisas. Entre os equipamentos desenvolvidos estão bisturis ultrassônicos, "que cortam dissolvendo a proteína do tecido celular e não carbonizam a pele", e até um instrumento para tratamento de câncer de pele por meio de terapia fotodinâmica (luzes de LED). "Já está patenteado, tem uma empresa para produzir, só dependemos de certificação, aceitação da comunidade médica. É um processo lento", conta Bagnato.

Para ele, o verdadeiro empreendedorismo é a geração de conhecimento. "Não é papel da academia formular inovação tecnológica para obter renda, mas conhecimento para que empresas e profissionais gerem riqueza", diz o físico, que também passou pelo MIT. "É o lugar onde ganhar dinheiro com conhecimento é motivo de aplausos e não de críticas."

Luis Ushirobira/Valor / 17.8.2011

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Brasil Maior: inovar para competir e para crescer

Ontem, a presidente Dilma Rousseff lançou o Plano Brasil Maior, a nova política industrial, tecnológica e de comércio exterior do governo federal. Mais do que um slogan de lançamento, "inovar para competir, competir para crescer", este é um desafio colossal. As experiências bem-sucedidas de nações que alcançaram um estágio superior de desenvolvimento evidenciam dois importantes ensinamentos, que o Brasil deve ter atenção.

O primeiro é que a história de cada país é formada pelas próprias mãos de seu povo. Não existe, portanto, um "modelo de desenvolvimento" ideal a ser seguido, como propõe o liberalismo econômico e suas variadas matizes contemporâneas, nas quais se supõe que o caminho do desenvolvimento se dá por um conjunto normativo de conduta racional dos agentes econômicos objetivando o bom funcionamento do mercado e a superação de suas falhas. A crença cega no sistema de preços como mecanismo de autorregulação do mercado tem sido o pomo da discórdia das teorias econômicas, desde o século XIX. Como amplamente evidenciado na historiografia de formação dos mercados nas nações ainda hoje hegemônicas (vide Marx, Polanyi e Braudel), a introdução da moeda, a criação do sistema de preços e o desenvolvimento da economia monetária são construções sociais, surgidas de conflitos antagônicos em geral superados pelo uso da violência e outras formas não canônicas de conduta dos agentes econômicos.

Nesse sentido, o mercado foi construído pela capacidade dos Estados Nacionais instituírem a ordem econômica, começando pela imposição do curso legal da moeda. Ao contrário do imaginário corrente, as trajetórias bem sucedidas de industrialização não foram o resultado natural do funcionamento da "mão invisível" e sim produto dos esforços dos povos na construção de modernos estados nacionais, com poder de comando sobre o território.


O esforço da inovação será alavanca decisiva na estratégia do salto da nossa indústria rumo ao futuro
O segundo importante ensinamento da história contemporânea das nações é o papel central do conhecimento científico e tecnológico. O que já se sabia sobre o poder social e econômico do conhecimento nas antigas civilizações (orientais e ocidentais) foi imensamente amplificado com o surgimento da indústria fabril como motor da produção material. A entrada no novo milênio significou o terceiro século da civilização sob o domínio do sistema fabril de produção. As quatro revoluções tecnológicas que se sucederam trouxeram em escala crescente o conhecimento para o comando operacional do sistema fabril. Os chamados "sistemas embarcados" são a expressão maior desse processo, no qual o computador é completamente encapsulado ou dedicado ao dispositivo ou sistema que ele controla. Pela engenharia mecatrônica pode-se otimizar o projeto reduzindo tamanho, recursos computacionais e custo do produto. A próxima revolução será a difusão da "impressora em três dimensões" diretamente no processo de produção, trazendo a possibilidade de ganhos de produtividade pela produção flexível, o que mudará definitivamente os parâmetros de retornos crescentes pela lei secular da escala e escopo.

Essas inovações radicais no sistema fabril poderão, paradoxalmente, ser aceleradas pela profundidade e extensão da atual crise econômica mundial. A busca de um novo ciclo de ganhos sustentáveis de produtividade, agora sob a pressão ambiental, pode mais uma vez ser o caminho de inflexão da crise e de retomada da expansão econômica. Como em outras crises sistêmicas da economia monetária mundial, a "destruição criadora" revigora uns e aniquila outros. Na última crise dessa natureza, a grande depressão de 1929, o Brasil saiu melhor do que entrou. Como nos ensinou Celso Furtado em sua "Formação Econômica do Brasil", a ação deliberada do Estado foi então decisiva para que o país conseguisse se integrar ao ciclo de industrialização e expansão econômica mundial que se seguiu.

O atual contexto histórico impõe a urgência das medidas que serão adotadas. O grande desafio do Brasil é se preparar para um novo salto da produtividade do trabalho via inovação tecnológica, de tal forma a mudar nossa posição competitiva num mundo em profunda transformação. De um lado, as economias capitalistas mais avançadas mergulhadas na crise, e de outro um grupo de países emergentes, liderados pelo extraordinário crescimento chinês.

O Plano Brasil Maior é uma resposta contemporânea de política de desenvolvimento produtivo a este grande desafio do salto de produtividade. Com um parque manufatureiro e uma rede de serviços avançados, e um sistema de ciência e tecnologia com escala e densidade significativas, a arma principal do país contra o acirramento da competição e apreciação cambial de nossa moeda é explorar as forças conquistadas no período recente, a estabilidade e a retomada do investimento e do crescimento. Mercado grande e em expansão, poder de compras públicas, extensa fronteira de recursos energéticos, força de trabalho jovem e capacidade empresarial constituem ativos institucionais, físicos e sociais formidáveis. Para colocar tais forças em movimento na velocidade exigida, o esforço da inovação será alavanca decisiva na estratégia do salto da nossa indústria, rumo ao futuro.

Fernando Pimentel é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
Nacho Doce/Reuters