quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Fundo vai subsidiar inovação no Centro-Oeste

A partir de hoje, os empresários da região Centro-Oeste que quiserem tomar um empréstimo para investimentos em inovação terão à disposição uma linha de crédito subsidiado, com juros de 5,7% a 8,5% ao ano, e cinco anos de carência. Trata-se do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), que lança linha específica ao financiamento de investimentos, capital de giro e compra de insumos para ciência, tecnologia e inovação. Com R$ 15 bilhões em carteira e metade do aporte de R$ 4,8 bilhões que o Tesouro fez no início deste ano à disposição, o FCO inicia, aos poucos, a transição para um modelo de financiamento que o governo Dilma Rousseff incumbiu aos operadores de crédito público no país, focado na inovação, especialmente à indústria. Administrados pela Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e pelo Banco do Brasil (BB), os recursos do FCO serão disponíveis a qualquer empresa que apresentar um projeto de inovação, independentemente do setor. Para o microempresário que tomar empréstimos de até R$ 240 mil, os juros serão de 5,7% ao ano. Já os empréstimos que superarem R$ 35 milhões terão juros de 8,5% ao ano. Todas as modalidades terão a mesma carência - de cinco anos para crédito ao investimento e três anos para capital de giro - e o mesmo prazo, que vai de 15 a 20 anos, para o pagamento do principal. A Sudeco estima que nos primeiros meses de operação, a demanda ficará entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões. Mas, segundo Marcelo Dourado, diretor-superintendente da Sudeco, a crescente mobilização dos agentes de crédito e do governo federal como um todo em torno de inovação deve aumentar a demanda. "O governo está, em diferentes frentes, aumentando fortemente os esforços na consolidação de uma cultura de inovação nas empresas", diz Dourado, que acredita que "isso vai se impregnar no país nos próximos anos". O principal foco da Sudeco, com a nova linha de financiamento é incentivar a criação de um parque tecnológico na região. "O Centro-Oeste não tem nenhum parque tecnológico implantado, enquanto apenas o Nordeste tem quatro, sendo dois muito recentes [Camaçari, na Bahia, e Suape, em Pernambuco]", afirma Dourado. "A área ao nordeste do Estado de Goiás é propícia a um parque de energia eólica, por exemplo", diz ele, para quem os recursos devem servir para "impulsionar as vantagens comparativas" da região. O equivalente a 58% do total de recursos que são repassados anualmente pelo Tesouro ao FCO são divididos igualmente pelos Estados de Goiás e Mato Grosso, onde estão concentrados os maiores produtores da região. Outros 23% vão para os empresários do Mato Grosso do Sul e o restante para empresas do Distrito Federal. Criado pela Constituição de 1988, o FCO viu seu orçamento saltar nos últimos anos - saiu de R$ 3,1 bilhões em 2009 para R$ 4,8 bilhões neste ano. Como, no entanto, não empresta todos os recursos que recebe dos cofres públicos, o FCO tem em caixa cerca de R$ 15 bilhões.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Parceria é saída para crescer em inovação

Uma maior integração entre as empresas de inovação na área de biotecnologia, que abrange sobretudo as indústrias farmacêuticas, biocombustíveis e de defensivos, e grandes corporações pode ser uma das saídas para o avanço dessas pequenas companhias focadas em pesquisa no Brasil. O estudo "A indústria de biociências nacional: caminhos para o crescimento", co-desenvolvido pela Biominas Brasil e PricewaterhouseCoopers (PwC), que será divulgado hoje, aponta as principais perspectivas para esse segmento. "Tradicionalmente, a Biominas desenvolve estudos, mas sempre de diagnóstico, voltados para o passado. Desta vez, é mais analítico, com base nas perspectivas futuras para essas empresas", diz Isabela Drummond, gerente de consultoria da Biominas, uma das responsáveis por esse estudo. Criada há 20 anos, a Fundação Biominas, uma entidade privada sem fins lucrativos, prospecta projetos em todo país com foco em inovação. O estudo foi realizado com base em questionários respondidos por 103 empresários desse setor. Para 62,9% dos entrevistados, o desenvolvimento e a comercialização de produtos e serviços inovadores constitui principal parâmetro de sucesso de um empreendimento. O perfil de faturamento desse setor mantém-se relativamente estável, composto em sua maioria por empresas que faturam até R$ 1 milhão por ano. Os principais desafios para alavancar o crescimento desse segmento devem passar por uma gestão profissional e de planejamento estratégico, e um processo regulatório mais ágil e ambiente de financiamento mais inclusivo. "A capacidade de poder de desenvolvimento e inovação dessas empresas é muito forte", afirma Isabela, da Biominas. Rodrigo Viñau, gerente sênior da PwC, observa que as empresas de inovação instaladas no país não aproveitaram o ótimo momento da economia brasileira e as medidas governamentais para alavancar o crescimento da indústria. Em um cenário adverso com alta carga tributária, falta de ambiente regulatório e restrição de crédito, as empresas precisam buscar parcerias com entidades privadas de grande e médio porte. Contudo, ele observa, faltam canais para viabilizar essa interação. Viñau afirma que casos de sucesso surgem da parceria com entidades privadas, que além de aportarem recursos financeiros e transferirem infraestrutura, agregam valor trazendo para a parceria profissionais com experiência na gestão do negócio e na comercialização do conhecimento. "Apesar das restrições para obtenção de patentes [longo prazo para concessão, legislação restritiva e dificuldade de acesso à biodiversidade brasileira], cresce o número de pedidos seja nacional ou internacional", afirma. A concentração de doutores e cientistas nas universidades e institutos de pesquisa faz com que haja uma concentração do depósito de patentes (67%) em nome dessas organizações. O estudo realizado em parceria entre a Biominas e PwC mostra ainda que, apesar da dependência de fontes de recursos não reembolsáveis e do capital próprio para realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), as empresas que adotaram o caminho das parcerias corporativas têm obtido bons resultados, porque vem acompanhado de suporte gerencial e direcionamento estratégico " Cabe destacar o número bastante limitado de fundos de capital semente e de venture capital dispostos a investir no setor de biociências", observa Viñau. Esse setor também sofre com o "apagão" de mão de obra especializada. O maior gargalo atualmente concentra-se na disponibilidade de pesquisadores aptos a atuar na área de desenvolvimento, convertendo conhecimento em inovação tecnológica, e de profissionais com competências multidisciplinares e experiência para atuar na comercialização do conhecimento. Valor / Por Mônica Scaramuzzo | De São Paulo / 19.9.2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Embrapa da indústria começa com R$ 30 milhões

O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante: foco do repasse de recursos será a demanda e dependerá da carteira de projetos de inovação.
O governo vai criar, dentro de um mês, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), a grande aposta do governo Dilma Rousseff para fortalecer a indústria brasileira diante da competição com produtos importados de alto teor tecnológico. A Embrapii contará, já de partida, com R$ 30 milhões para emprestar a três institutos de pesquisa já conveniados. O capital da empresa receberá um aporte duas vezes maior no ano que vem, cumprindo a meta traçada pelo governo federal de destinar R$ 90 milhões para pesquisa industrial entre o último trimestre deste ano e o fim de 2012.

Largamente baseado no sucesso da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada em 1973, no auge do milagre econômico, e na alemã Fundação Fraunhofer, a Embrapii, no entanto, não será uma companhia estatal. Diferentemente da Embrapa, que ao longo deste ano consumirá um orçamento de R$ 1,8 bilhão e conta com 9,2 mil funcionários, a Embrapii terá gestão enxuta e não contará com um corpo de pesquisadores. Funcionará como um "selo certificador" dos institutos habilitados a operar junto à indústria.

De partida, a Embrapii já conta com três institutos conveniados, isto é, habilitados a receber recursos públicos. A partir de outubro, o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), no Rio de Janeiro, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia (Senai-Cimatec), receberão R$ 10 milhões cada. A meta do governo é atingir 30 institutos até o fim de 2014, o que representará um orçamento total de R$ 270 milhões a R$ 300 milhões em três anos.

"O foco do repasse de recursos será a demanda", afirma o ministro Aloizio Mercadante, da Ciência, Tecnologia e Inovação, a pasta que coordena os trabalhos em torno da nova empresa. "A Embrapii fechará um contrato de gestão com o instituto de acordo com a carteira de projetos de inovação coletada junto às fábricas", explica.

O modelo de gestão da Embrapii já está definido. A nova empresa entrará com o equivalente a um terço dos recursos necessários a cada projeto, e o restante será dividido entre o instituto conveniado e a própria fábrica interessada na inovação. Na semana passada, os técnicos do governo fecharam o Termo de Referência (TR) da companhia, que funcionará como "projeto piloto" nos primeiros 18 meses, período em que o agente operador será a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Isto é, os técnicos do ministério trabalharão com os especialistas da CNI na definição dos institutos que receberão os recursos. Até lá, a Embrapii não vai imobilizar capital - a empresa não terá uma sede até o início de 2013.

"Criamos um novo modelo operacional, que é em si inovador, algo que queremos fomentar na indústria", diz João Fernandes de Oliveira, diretor-presidente do IPT, que falou ao Valor logo após a reunião com técnicos do governo em que se consolidaram os procedimentos iniciais da nova empresa. "Vamos pagar por desempenho, pelo resultado concreto de atendimento que cada instituto desenvolver com a indústria, pelo volume de empresas e capacidade de contrapartida ao Estado", diz Mercadante, "e seria impossível realizar isso tudo com uma estrutura pesada", diz.

Os primeiros três institutos foram selecionados pelo governo por atender às demandas que a partir do mês que vem serão da Embrapii. Segundo Mercadante, no IPT há expertise em modelagem de navios, o INT conta com forte know-how no complexo industrial de petróleo e gás e o Senai-Cimatec conta com laboratórios especializados em automação e logística fabril. "O instituto que oferecer mais, em pessoal, infraestrutura e número de empresas interessadas, receberá mais", afirma o ministro.

Para Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai, a Embrapii vai "começar a alterar" o equilíbrio construído pela equipe econômica do governo entre a política macroeconômica e a política industrial. "A política industrial é subordinada à política macroeconômica, que busca condicionar crescimento e inflação controlada, algo crucial, sem dúvida, mas que tem tirado o fôlego dos incentivos à indústria", avalia Lucchesi, para quem esse desequilíbrio tem levado a um processo de desindustrialização no país. "A Embrapii nasce em momento oportuno, em que ainda é possível fazer essa virada, e a saída evidente é por meio da inovação".

Os técnicos envolvidos na criação e gestão da nova empresa pública entendem que a Embrapii ocupará o espaço mais sensível para a inovação industrial - o custeio dos projetos. "Uma empresa que apresentar seu projeto a um instituto conveniado pela Embrapii gastará apenas um terço do que gastaria com seu projeto de inovação, porque todo o resto virá do instituto e do governo", afirma Lucchesi.
Valor 12.9.2011