sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O abridor de saches

Leopoldo Almeida, inventor do Khort: abridor de sachês criado pelo carioca vende 40 mil unidades por mês no Brasil e começa carreira internacional

O carioca Leopoldo Almeida inventou o abridor de sachês em 2007. Teve a ideia quando o garçom de uma lanchonete fez a gentileza de abrir com uma tesoura os saquinhos de ketchup que acompanhavam seu hambúrguer. Em 2009, depois de uma peregrinação por lanchonetes do Rio - da qual veio a confirmação de que ele não era o único a considerar a tarefa de abrir um saquinho de molho um exercício de paciência e um teste de vigor dentário - e pela fábrica da Bom Sabor, que produz 150 milhões de sachês de 8 gramas por mês, batizou a criação de "Khort" e se lançou no mercado. Em janeiro de 2010, vendeu duas mil unidades do produto. Em junho, eleita a melhor invenção das Américas na Inpex, a maior feira de inovações dos EUA, foram 18 mil; em setembro, 100 mil. Neste ano, a empresa tem distribuído 40 mil abridores por mês no Brasil (vendidos ao consumidor final por um preço médio de R$ 5,50) e começa sua carreira internacional. A projeção de faturamento para 2011 é de R$ 2,4 milhões, 60% a mais do que no ano anterior. Almeida fala dos últimos meses entre gargalhadas ritmadas, longas. Pede desculpas por estar sendo "despojado demais" durante a entrevista e diz que, quando inventou o produto, estava desempregado. Pediu dinheiro emprestado à irmã para pagar a pesquisa de mercado, leu toda a legislação sobre patente porque não podia gastar com advogado, arrendou 50% do negócio para a fábrica em Duque de Caxias que produz o abridor para ter capital inicial. "Fiz o primeiro protótipo com canaleta para fio e uma lâmina de barbear", conta.

Era uma vez I Em fevereiro de 2010, Almeida fez a patente internacional do Khort. Investiu R$ 150 mil para começar a produzir nos Estados Unidos, em uma planta terceirizada em Ohio. Sua versão americana, o Slip'n Cut, vendeu 8 mil unidades até dezembro de 2010. À procura de um sócio lá fora, ele acredita que o mercado americano tem um grande potencial para o seu produto, especialmente para uso doméstico. "Lá existe uma variedade maior de produtos em sachê, de molho para saladas a iogurtes em bastão". Neste mês, o Slip'n Cut entra na programação da DRTV (espécie de Polishop) em quatro Estados. "É aquele tipo clássico de propaganda de produto desses canais, em que sempre tem um 'but wait!' no meio do filme", brinca. Almeida tem um pedido de 50 mil peças da Índia e, até dezembro, começa a distribuir também para Canadá e México. O próximo passo, afirma, é entrar no mercado europeu.
Valor 28.10.2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Integrar instituições e criar caminhos para a inovação

Poucos são os termos capazes de sintetizar de forma simultânea o abstrato e o concreto para dar fuga ao que foi feito ou ao que deveria ter sido como o da inovação. Não há um único jornal diário ou revista de negócios que não traga diariamente o mantra da necessidade de inovar para melhorar o que se faz ou para justificar o que foi feito e cujos resultados não foram tão bons assim. Esse artigo não vai fugir a essa regra.

Na indústria, a inovação passou a ser fim e meio na incessante busca por melhores condições competitivas. O Brasil tem mostrado um protagonismo importante na América Latina, desde o começo dos anos 2000, ao criar e aperfeiçoar ações em prol da incorporação das atividades de inovação entre os principais atores do chamado sistema nacional de inovação.

Todo o arsenal disponibilizado nas economias avançadas foi criado aqui tais como as leis de inovação e de incentivos fiscais, instrumentos de apoio e fomento a empresas, universidades e centros de pesquisas a partir de recursos públicos ou de iniciativas público-privadas. Do lado do governo, o reconhecimento público da importância do tema vem sendo confirmado pelas sucessivas edições da Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia. A indústria, por sua vez, firmou publicamente em 2009 o seu compromisso com o lançamento do Manifesto pela Inovação nas Empresas liderado pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) em associação com empresários industriais.

Parte da indústria no Brasil ainda negligencia os conhecimentos gerados no âmbito da própria empresa

As condições institucionais, pelo menos em teoria, estão dadas, ainda que ajustes pontuais sejam necessários como o número de empresas beneficiadas pela Lei do Bem ou maior clareza e ciência dos instrumentos já existentes. No entanto, a complexidade da economia brasileira aliada às incertezas, custos e riscos em torno da inovação, que exigem a priori uma mudança cultural no empresário e no empreendedor, tem levantado dúvidas com relação à incorporação do tema na prática. Informações da Pintec (Pesquisa de Inovação Tecnológica) mostram que a maioria das empresas inovou internamente e não para o mercado nacional, ressaltando pequeno esforço voltado para a geração de tecnologias inéditas e a incessante corrida para alcançar os líderes do mercado.

Esse resultado é preocupante, e em certa medida desanimador. Mostra que parte da indústria brasileira ainda elege como estratégia competitiva a busca por conhecimentos e tecnologias produzidos por outros agentes, negligenciando seu próprio papel na obtenção de vantagens competitivas oriundas da capacidade de mesclar conhecimentos complementares: aqueles gerados internamente, no âmbito da própria empresa, com aqueles disponíveis no mercado e de apropriação econômica.

A persistência desse cenário se deve em parte à falta de um sistema integrado que torne o ambiente mais favorável à inovação. Ainda que a indústria se configure como o principal agente do processo inovativo, este não é exequível sem o apoio de outras instituições que constituam um sistema formado por produção de conhecimento, incentivos institucionais e financiamento às atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Dentre os atores desse sistema destaca-se a universidade, responsável pela produção de conhecimento científico e formação profissional. Em países desenvolvidos como os Estados Unidos e Alemanha, observa-se uma cumplicidade entre a esfera científica e a tecnológica. Grande parte das universidades, desde sua fundação, prioriza em suas atividades a economia local e atendem à necessidade do meio em que está inserida. Desenvolveu-se um relacionamento de apoio mútuo entre universidade e indústria que assegura a competitividade e forma grandes pólos de produção de tecnologia, como o tão conhecido Silicon Valley na Califórnia (berço da Apple, Google, Hewlett-Packard, Intel, dentre outras).

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No Brasil, por sua vez, ainda não há um relacionamento estreito entre essas duas esferas institucionais. As relações existentes se mostram imediatistas e esporádicas e não possuem lastro em um processo de retroalimentação. A Pintec mostra que 10,4% das empresas que implementaram inovações o fizeram em projetos cooperativos e 36,3% desses foram com universidades e/ou institutos de pesquisa. A fragilidade dessas conexões prejudica a consolidação do sistema e por extensão compromete o desenvolvimento econômico e social, como já se observa em algumas cidades que até poucos anos eram símbolo da exuberância empresarial e hoje estão tentando encontrar sua identidade frente à dinâmica imposta pelo vigor da concorrência global.

A grande lição é que o termo inovação, assim como sua própria execução prática, pode traduzir fragilidades estruturais e uma infinidade de relações indiretas que vão muito além da criação de políticas e incentivos institucionais. A criação de ferramentas que viabilizem na prática o diálogo entre as universidades e a indústria tem se mostrado o pilar central do perfil e dos condicionantes do esforço brasileiro numa perspectiva já no médio prazo. E, nesse contexto, evitar a descontinuidade de políticas, que impedem o investimento contínuo e deixam as empresas à mercê de interesses não econômicos, deve ser a diretriz orientadora para os membros desse sistema.

A cooperação entre universidade e indústria não acontece repentinamente, nem é imposta, é preciso criar uma relação de confiança, formar competências, concentrar esforços em aprendizado nos agentes, e acima de tudo, entender as necessidades e interesses de cada uma das partes envolvidas nesse relacionamento. É um trabalho intenso, penoso e de longo prazo!

Por Vanderléia Radaelli e Hérica Morais Righi

Vanderléia Radaelli é especialista em Ciência e Tecnologia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), economista e doutoranda em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Hérica Morais Righi é professora assistente da Fundação Dom Cabral, economista e doutoranda em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Criatec, fundo do BNDES para micro e pequenas empresas inovadoras, encerra em novembro período de investimento



O Criatec, fundo para micro e pequenas empresas inovadoras desenvolvido pelo BNDES, encerra no próximo mês de novembro seu período de investimento. Até lá, todas as metas estabelecidas para os quatro primeiros anos terão sido alcançadas e, com isso, pelo menos 36 empresas nascentes de variados setores e regiões do País terão acessado o capital semente.

Em conformidade com o planejamento original, a partir do próximo mês terá início o ciclo de desinvestimento, com duração prevista até novembro de 2017. Nessa fase, a preocupação dos gestores do Criatec se deslocará da prospecção de empresas para a aceleração dos negócios.

O patrimônio comprometido do Fundo é de R$ 100 milhões, 80% subscritos pelo BNDES e 20% pelo BNB, sendo que, por estratégia de construção do portfólio, parcela desses recursos (R$ 20 milhões) foi reservada para a efetivação de novos aportes em empresas já investidas. Assim, além do aporte inicial de até R$ 1,5 milhão, as companhias que estiverem com desempenho acima da média poderão receber, na fase de aceleração, novos investimentos até o teto de R$ 3,5 milhões.

Capital semente – O Criatec é uma bem-sucedida iniciativa do BNDES envolvendo capital semente. A atuação do Banco nesse nicho é fundamental, tendo em vista a preferência dos investidores privados por fundos de menor risco, como os de venture capital e private equity.

Diversos fatores explicam o êxito da iniciativa em sua primeira etapa. A bem desenhada estrutura de governança é um deles. A administração foi entregue a um gestor nacional, o consórcio Antera-Inseed, que, por contrato, selecionou gestores regionais nos Estados de atuação do fundo: Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará e Pará.

Tais gestores foram selecionados nos próprios sistemas locais de inovação. A estratégia de construção do portfólio, por sua vez, seguiu diretrizes bastante claras no sentido de garantir a distribuição do investimento em termos regionais, setoriais e por estágio de crescimento das empresas.

Para atender a essa última exigência, as companhias foram classificadas em quatro categorias: prova de conceito (sem faturamento), decolagem (faturamento anual de até R$ 1,5 milhão), expansão (faturamento anual entre R$ 1,5 e R$ 4,5 milhões) e late seed (faturamento anual entre R$ 4,5 e 6 milhões)
BNDES 20.10.2011

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Inovação em baixa na área de agroquímicos

Pulverização de defensivos em lavoura no Japão, onde há pouco espaço para a agricultura: a "era dourada" dos agroquímicos deu-se nas décadas de 80 e 90
Como os químicos gostam de nos recordar, a química é onipresente. Tudo é feito de elementos químicos e as versões naturais não são necessariamente mais saudáveis que os compostos sintéticos. O mundo está repleto de substâncias naturalmente tóxicas e cancerígenas.

A química - e em particular os defensivos e fertilizantes que a ciência produz - é um dos três pilares que sustentaram o assombroso aumento da produtividade agrícola. Os outros dois são a biologia, cujas pesquisas levaram a variedades de cultivos de maior rendimento, e a engenharia, que permitiu a agricultores semear, arar, irrigar e colher de forma mais eficiente.

Os produtos agroquímicos podem ser divididos em dois grandes grupos: os fertilizantes, que dão às plantas os nutrientes essenciais e têm como base o nitrogênio, fósforo e potássio; e os defensivos, que protegem as plantas de ervas daninhas, insetos e doenças de fungos.

Apesar do fato de que a agricultura moderna provavelmente morreria sem os adubos, há muito mais inovação no setor de defensivos - que cientificamente é bem próxima à indústria farmacêutica - do que nos fertilizantes, cujos produtos são mais commoditizados.

A avaliação anual realizada pela consultoria britânica Agranova calcula que o mercado mundial de defensivos agrícolas movimentou US$ 40,7 bilhões no ano passado, sem muita variação em relação aos valores em termos reais, ajustados pela inflação, dos últimos dez anos.

Entre as empresas líderes do segmento estão a Syngenta, Bayer, Basf, Dow e Monsanto.

Os herbicidas (que matam ervas daninhas) ainda dominam a maior parte do mercado (US$ 17,5 bilhões), embora sua participação esteja caindo em relação aos fungicidas e inseticidas (cerca de US$ 10,6 bilhões cada um).

Quanto à distribuição regional das vendas de agroquímicos, a análise da Agranova mostra uma divisão bastante equilibrada ente América do Norte, Europa, Ásia e América Latina, com cada região registrando entre 22% e 24% de participação.

No que ser refere aos tipos de colheita, o plantio de frutas e vegetais é responsável por uma parcela surpreendentemente grande do mercado agroquímico: US$ 13,2 bilhões, o que representa 32,3%. Em comparação, os cereais, como o trigo e a cevada, ficam com 15,6% do mercado total; a soja, com 10,4%; o arroz, com 9,1%; e o milho, com 8,4%.

Lançar agroquímicos (defensivos ou fertilizantes) no mercado tornou-se muito mais caro, uma vez que a desconfiança pública em relação à indústria química ficou maior, diz Rob Bryant, chefe da Agranova.

Ao mesmo tempo muitos produtos mais antigos foram retirados de circulação porque os custos para cumprir a regulamentação necessária e para mantê-los no mercado é alto demais. Isso levou a algumas "lacunas" nas opções de tratamento, especialmente, para culturas menores.

A era dourada dos agroquímicos, em termos de novos ingredientes químicos chegando ao mercado, deu-se nas décadas de 1980 e 1990. O ritmo de lançamentos na primeira década do século XXI foi a metade do registrado nos anos 90.

"Continua havendo demasiada ênfase nas principais colheitas, guiada pela necessidade de recuperar os custos com obstáculos regulatórios cada vez maiores e com a diminuição no sucesso com as inovações", disse Bryant.

Além dos produtos agroquímicos, há várias formas por meio das quais a química vem contribuindo para melhorar a produção e teor nutritivo dos alimentos e reduzir a poluição ambiental. Um bom exemplo é a colaboração entre a Novozymes, da Dinamarca, e a DSM, da Holanda - duas empresas inovadoras de especialidades químicas - para reduzir a quantidade de fosfato nas rações.

Grandes quantidades de fosfato, uma matéria-prima de oferta limitada, são desperdiçadas em alimentos para aves e porcos, pois os animais não as metabolizam com eficiência e acabam eliminadas nos excrementos, provocando a poluição das águas.

A solução é agregar a enzima "fitase", aperfeiçoada, à ração. Isso possibilita melhor aproveitamento do fosfato pelos animais.

Ao mesmo tempo, a química continua a ter grande impacto no pilar biológico da produção de alimentos, ao ajudar a esclarecer a estrutura molecular das plantas - sinalizando, portanto, novas formas para aperfeiçoamento das culturas. Neste mês, por exemplo, uma colaboração entre a Edinburgh University e a Syngenta divulgou uma importante descoberta sobre o sistema imunológico das plantas, na revista científica "Nature".

Um dos mecanismos de defesa de uma planta, quando atacada por bactérias ou fungos, é provocar a morte das células ameaçadas. Isso remove a fonte de alimentos do elemento patogênico invasor. "As plantas geram um choque pequeno e rápido que mata as células ao redor de onde o elemento patogênico tenta invadir e, basicamente, o fazem morrer de fome", diz Gary Loake, líder do projeto e professor da universidade escocesa. "Mas identificamos que algo precisa ocorrer para garantir que a planta não caia em total destruição".

A resposta está em uma enzima chamada oxidase NAPDH, que controla o processo de morte das células e o interrompe quando a infecção é contida. "Esperamos que os pesquisadores de melhoramento vegetal possam usar a informação para desenvolver variedades resistentes a doenças", afirma o professor Loake.

Por Clive Cookson | Financial Times

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Governo investirá R$ 90 milhões em inovação até o fim de 2012

SÃO PAULO – O Governo Federal destinará R$ 90 milhões até o fim do próximo ano para investimentos em projetos inovadores. A informação foi divulgada nesta segunda-feira pelo secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Luiz Antonio Rodrigues Elias, após participar de reunião no escritório da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo.

Segundo ele, será criada nesta semana a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que terá como objetivo coordenar a interação entre o setor privado, os institutos de pesquisa e o governo para a realização de projetos que tenham como foco a inovação. “Procuramos projetos com relevância e que tragam retorno para a sociedade, embora estejamos atuando com o risco da etapa pré-competitiva. O resultado final demandará certo tempo para aparecer”, disse.

A Embrapii contará com recursos de todos os participantes, na proporção de um terço para cada parte. Dessa forma, deverá dispor de até R$ 270 milhões para investimentos nesta primeira etapa de operação. Os R$ 90 milhões do Governo Federal, segundo Elias, virão do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Em princípio, a Embrapii operará por meio do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e do Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Cimatec-Senai). “Essas instituições têm o mapa de competência da indústria. Por isso nós nos estruturamos, inicialmente, por elas”, explicou Elias.

As empresas interessadas em desenvolver projetos de inovação deverão entrar em contato com associações de classe, como a CNI, que serão responsáveis pela articulação junto à Embrapii. A expectativa do presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, é de que a rede de institutos de pesquisa participantes da Embrapii cresça significativamente nos próximos meses, podendo chegar a 30. Entretanto, há dúvidas quanto à participação de universidades, já que os centros de pesquisa também deverão contribuir com a Embrapii.

Andrade ressaltou que o Senai vai investir R$ 1,5 bilhão na construção de 34 laboratórios até 2014. Sua expectativa é de que ao menos 30 deles participem dos projetos da Embrapii.

Andrade e Elias evitaram previsões sobre a quantidade de projetos que deverão ser atendidos até o fim de 2012. O secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, porém, destacou que dentre as áreas que mais deverão ser beneficiadas pela criação da Embrapii estão as de petróleo e gás, biotecnologia, nanotecnologia e tecnologia da informação.

Por Francine De Lorenzo | Valor 18.10.2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

As pequenas empresas precisam vender mais



A cada dia, fica mais evidente a importância que as micro e pequenas empresas têm na economia brasileira. Atualmente, existem no Brasil cerca de 6 milhões de micro e pequenas empresas (MPEs). Esse segmento responde por 99% das empresas do país e quase dois terços das ocupações geradas no mercado de trabalho.

Além desses aspectos sociais, as micro e pequenas empresas exercem importante papel nas diversas cadeias produtivas, inclusive de forma interativa com as grandes e médias empresas: ora como fornecedores de produtos e serviços, ora como clientes ou canais de distribuição das grandes companhias.

Sobre esse tema, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) realizou uma pesquisa que mapeia a relação entre as micro e pequenas e as grandes empresas. A amostra foi de 4,2 mil MPEs em todo o território nacional.

É preciso ampliar a inserção das MPEs tanto junto às grandes empresas como nas compras públicas

De acordo com essa pesquisa, 75% das micro e pequenas empresas brasileiras realizam diretamente compras junto às empresas de maior porte, em especial junto àquelas grandes, do comércio atacadista e à indústria de médio e grande porte. Metade dos gastos das MPEs com fornecedores destina-se à aquisição de bens e serviços oferecidos pelos grandes empreendimentos.

Contudo, os pequenos negócios enfrentam dificuldades na ponta compradora, em especial, na hora de negociar preços e condições de pagamento mais favoráveis aos pequenos, já que esses são definidos, na maioria das vezes, de forma unilateral, pelas grandes companhias. Aqui, uma possível solução seria a ampliação de uma atuação mais integrada entre os próprios pequenos negócios, por exemplo, por meio de compras conjuntas, o que, segundo a pesquisa, só é feito por 6% das MPEs.

Na posição de fornecedores das grandes corporações, as MPEs mostram uma situação menos favorável. Apenas 37% delas vendem às médias e grandes, o que representa 16% do seu faturamento. Aqui, reside a necessidade de maiores avanços por parte dos pequenos negócios.

A pesquisa mostra, por exemplo, algumas falhas de estratégia por parte das MPEs que precisam ser corrigidas. São poucas as que definem uma estratégia de vendas diferenciada e específica quando se trata de vender às grandes, o que pode ser um fator limitante às vendas. Uma atenção mais focada nas necessidades específicas desses clientes poderia, inclusive, viabilizar margens de lucro mais elevadas. Mais uma vez, a atuação conjunta e integrada, entre os pequenos, aliada a uma melhoria na qualidade de seus produtos e serviços, poderia viabilizar o interesse dos grandes negócios na aquisição de produtos e serviços oferecidos pelos pequenos.

Assim, a melhoria técnica e da qualidade dos produtos e serviços dos pequenos negócios e atuação integrada desses visando escalas maiores, seja na hora da compra ou da venda às médias e grandes, se mostram como os principais meios para viabilizar a expansão dos negócios entre os grandes e pequenos empreendimentos.

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O Sebrae está atento para essas questões e já dispõe de programas que atuam nessa direção. Por exemplo, até 2013 o Sebrae irá destinar R$ 780 milhões exclusivamente a programas com foco na inovação nas micro e pequenas empresas. O atendimento é proativo, com uma equipe que até dezembro terá mil agentes locais de inovação, jovens profissionais que visitam as empresas para fazer um diagnóstico e identificar oportunidades de inovação em produtos e processos. Em seguida, os empresários são direcionados ao Sebraetec, programa específico de consultoria tecnológica para resolução de problemas nas empresas, subsidiando até 80% dos custos com as soluções de inovação.

No campo da cooperação entre empresas, mais de 150 núcleos setoriais estão sendo articulados em todo o país, estimulando a capacitação técnica e tecnológica, o associativismo e o cooperativismo.

Uma terceira linha de atuação que está crescendo são parcerias com grandes companhias visando inserir micro e pequenas empresas em sua cadeia de valor. Um exemplo, é o convênio com a Petrobras, que já beneficiou mais de 6 mil micro e pequenos empreendimentos, em 15 estados. As ações dos projetos, que são realizados em territórios onde a Petrobras atua, estão agrupadas em quatro focos estratégicos: inteligência competitiva, cultura da cooperação, desenvolvimento de fornecedores e inovação e promoção de negócios.

Entre os resultados dos projetos, destacam-se o aumento de 25% no faturamento dos pequenos negócios participantes e a ampliação expressiva dessas empresas no cadastro de fornecedores da Petrobras e da Organização Nacional da Cadeia do Petróleo (ONIP). Com o mesmo objetivo, o Sebrae firmou um convênio com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), que se estenderá até 2014.

Outra informação relevante levantada pela pesquisa é que apenas 20% das MPEs vende para o setor público e apenas 4% do faturamento das MPEs advém das vendas ao governo. Esse dado permite inferir que é preciso reforçar as ações de ampliação dos pequenos negócios no volume total das compras públicas. No país, mais de 3 mil municípios já regulamentaram sua Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. Em certo sentido, isso tende a favorecer a participação dos pequenos negócios nas vendas ao governo. No entanto, os dados disponíveis revelam não apenas a necessidade de ampliar o número de municípios com Lei Geral regulamentada, como a necessidade de tornar as legislações municipais já existentes mais eficazes em termos de viabilizar o acesso dos pequenos empreendimentos às compras públicas.

É preciso, portanto, ampliar a inserção dos pequenos negócios tanto junto às grandes empresas do setor privado quanto nas compras públicas. Os pequenos precisam vender mais. A ampliação das vendas dos pequenos é condição indispensável ao seu sucesso, devendo ser essa uma das prioridades das organizações de apoio aos pequenos negócios e aos formuladores de políticas públicas.

por:
Luiz Barretto é diretor presidente do Sebrae Nacional.
Bruno Caetano é diretor superintendente do Sebrae São Paulo.
Valor 17.10.2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Federal do ABC aposta em pesquisa, e 100% dos professores são doutores




Gustavo Dalpian, vice-reitor da Universidade Federal do ABC, no prédio de Santo André: projeto pedagógico está sendo "exportado" para outras instituições

Em cinco anos de existência, a Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André, coleciona uma série de indicadores dificilmente encontrados em uma instituição de ensino superior ainda em processo de estruturação. É a única universidade brasileira com 100% do quadro de 425 professores titulados com doutorado - com mais de 75 anos de história, a Universidade de São Paulo (USP) tem 96% de doutores à frente das aulas e pesquisas. A universidade do ABC adota postura agressiva em relação à pesquisa: em cinco anos abriu 14 programas de pós-graduação, e seus pesquisadores publicaram cerca de mil artigos científicos, com ênfase em estudos sobre nanociências, neurociências e cognição, simulação computacional, novos materiais e energia.

A UFABC também lançou no país o modelo pedagógico dos bacharelados interdisciplinares (BIs), graduação com três anos de formação geral, com uma grade curricular livre, seguida de curso de formação específica, como engenharias, licenciaturas ou ciências da computação. Um desses bacharelados, o de ciência e tecnologia, foi o curso mais procurado em 2011 no sistema unificado de seleção pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com 16,3 mil inscrições para 1,5 mil vagas, média de 11 candidatos por vaga.

Para o vice-reitor da universidade, o físico Gustavo Martini Dalpian, os bacharelados interdisciplinares são a maior prova de que, dentro da política de expansão do ensino superior federal, "a UFABC está dando certo". "O projeto pedagógico foi desenvolvido cuidadosamente e com o objetivo de inovar. Quatorze universidades federais passaram a utilizar o mesmo modelo de bacharelados interdisciplinares, instituições particulares vêm conversar com a gente para tentar entender e eventualmente implantá-lo. A Escola Politécnica da USP criou um grupo de trabalho, do qual participa o nosso reitor [Helio Waldman], com o objetivo de reformular o currículo das engenharias, e uma alternativa é instituir um programa multidisciplinar semelhante ao BI para um curso inicial. É um indicador claro de que a proposta é boa e promissora", avalia Dalpian.

"O curso é pesado, tem muito cálculo, física e computação. Já cansei de ficar por aqui estudando de manhã, à tarde e à noite", relata Cláudia Januário, formada no bacharelado interdisciplinar de ciência e tecnologia e em licenciatura focada em química. A estudante conclui no fim do ano a especialização em química, que completa o ciclo de formação iniciado no bacharelado, e já está se preparando para emendar um mestrado sobre biologia molecular na própria UFABC.

"Aqui o aluno se torna o gerente da própria carreira, um físico pode saber muito de biologia, um engenheiro pode se especializar em física", acrescenta o professor José Fernando Queiruga Rey, coordenador do bacharelado de ciência e tecnologia. "Montei meu currículo e fiz licenciatura junto com o bacharelado porque pretendo dar aulas na educação básica, mas ultimamente eu só tenho ficado no laboratório", conta Cláudia, que está decidida a seguir carreira acadêmica. "Não dá para entender como não existia uma grande universidade pública por aqui com tanta empresa em volta. Na área química tenho vários amigos estagiando."

Marco Camargo, formado nas primeiras turmas do bacharelado interdisciplinar e atualmente estudando engenharia de instrumentação, automação e robótica, está na quarta etapa de seleção para uma vaga de trainee na Siemens. Ele conta que "sofreu" no início do curso: "As turmas atuais estão mais bem servidas, com aulas de revisão para matemática e cálculo e uma infraestrutura muito melhor."

Como ocorre na maior parte das universidades que estão no processo de expansão, os atrasos nas reformas são sempre lembrados pelos estudantes. Há duas semanas, nas comemorações dos cinco anos da fundação da UFABC, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não escaparam de sonoras vaias de um grupo de 50 estudantes, que protestavam contra o atraso nas obras da instituição e por melhorias em algumas políticas universitárias, como assistência estudantil. Ricardo Senese, presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE), atenta para o problema envolvendo os cursos de engenharia, considerados carro-chefe da universidade. "Os prédios de salas de aula e laboratórios das engenharias não saíram do chão."

Apenas dois prédios e o restaurante universitário do campus principal, em Santo André, estão prontos. No campus São Bernardo do Campo, onde se concentram os bacharelados interdisciplinares voltados para humanas, as aulas ocorrem em espaço cedido pela prefeitura local. Mesmo assim, as instalações são novíssimas e modernas.

Na sede as salas de aulas têm ar-condicionado e projetores e os laboratórios são amplos, mas é possível notar carteiras usadas pelos alunos ainda embaladas em plástico, equipamentos encaixotados, e os laboratórios de ensino e pesquisa ainda não funcionam em plena capacidade. "O sistema de tubulação de gás, que permite o manuseio de maçaricos, ainda não chegou aqui", conta um monitor de laboratório.

Segundo o vice-reitor, os dois blocos de oito andares abrigam satisfatoriamente os mais de 5,5 mil alunos atualmente matriculados. De fato, o espaço físico de proporções gigantescas indica que a universidade está sendo preparada para acolher mais de 10 mil estudantes nos próximos anos.

"Entregamos 50 mil metros quadrados de instalações, 80% do projeto original. A empreiteira não cumpriu o cronograma do contrato e perdeu o trabalho. No momento estamos fazendo nova licitação para mais 50 mil metros quadrados de obras, que contemplam um ginásio de esportes, um teatro, um torre de caixa d'água, um bloco anexo para laboratórios, salas para professores e estacionamento, além da marquise que vai cobrir toda a área externa", explica Dalpian.
Valor 10.10.11

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Aposta na inovação



De acordo com o novo presidente da Bosch América Latina, Besaliel Botelho, inovação é um dos principais motores para expansão dos negócios do grupo globalmente. Por dia, o grupo de origem alemã registra 15 patentes, ritmo que garantiu à companhia a primeira posição no ranking de patentes da Alemanha e o terceiro lugar no ranking mundial, segundo a companhia.

Anualmente, afirmou Besaliel, o grupo aplica € 3,8 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. No ano passado, o faturamento da Bosch totalizou € 47,3 bilhões, uma alta de mais de 20% na comparação com o verificado em 2009, ano influenciado pela crise iniciada em 2008. Em 2010, deve superar pela primeira vez a marca de € 50 bilhões e chegar à marca de 300 mil funcionários em todo o mundo.

"A Bosch é uma empresa muito fundamentada em inovação", disse o executivo brasileiro, já à frente da presidência da operação latino-americana.