quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Finep lançará novos editais para inovação em 2012



A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), prepara a realização de novas chamadas públicas para projetos de inovação tecnológica para a nova fronteira exploratória do pré-sal. A ideia é que os novos editais, que já estão sendo discutidos no ministério, sejam lançadas no próximo ano.

Os concursos da Finep vêm no rastro de uma bem sucedida chamada pública lançada em 2009 e concluída no fim de novembro. Ao tudo, a empresa selecionou 58 dos 300 projetos de inovação com foco no desenvolvimento do pré-sal, nos quais serão aplicados R$ 115,7 milhões. Na primeira filtragem, 254 projetos foram classificados.

A chamada pública priorizou os segmentos de válvulas, conexões/flanges, umbilicais submarinos, calderaria, construção naval e instrumentação e automação. Um comitê com representantes da Finep, da Agência Nacional do Petróleo e pesquisadores foi responsável pela escolha dos projetos, que foram classificados pela sua relevância.

Os recursos, que variam entre R$ 1 milhão a R$ 8 milhões por empresa, serão repassados às instituições de pesquisa indicadas como parceiras dos fornecedores, entre elas se destacam as universidades federais do Rio e do Rio Grande do Sul, a Universidade de São Paulo e a PUC do Rio, que possuem tradição nas áreas de petróleo e gás. "Foi uma experiência positiva. As empresas sabem que precisam se qualificar desde hoje ou estarão fora do contexto. Elas precisam se preparar", comenta a analista do Departamento de Instituições e Pesquisa da Finep, Cláudia Perasso.

A Petrobras é hoje uma das quatro maiores investidoras em pesquisa e desenvolvimento no mundo. Não é para menos. A empresa precisa desenvolver tecnologias e produtos especiais para trabalhar a profundidade de mais de 7.000 metros na Bacia de Santos. A petrolífera trabalha hoje com cerca de 130 instituições nacionais através de redes temáticas, pesquisando mais de 50 temas para o setor. "Nosso investimento em pesquisa e desenvolvimento é de US$ 1 bilhão por ano, valor cinco vezes maior do que investíamos no início da década". diz o gerente-executivo do Centro de Pesquisas da Petrobras, Carlos Tadeu Fraga.

O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é responsável pelos desenvolvimentos tecnológicos que levaram a Petrobras até as águas profundas. As principais linhas de pesquisa em elaboração desenvolvem tecnologias para avaliar reservas de óleo e gás, recuperação e análise de reservatórios, processamento e avaliação, engenharia de poço, elevação e escoamento de petróleo e gás.

No rasto da ampliação do Cenpes, que demandou investimentos da ordem de R$ 1,2 bilhão e foi concluída em novembro de 2010, diversas empresas estão construindo centros de pesquisa no Parque Tecnológico da UFRJ, que atualmente conta com 34 empresas instaladas, sendo 20 companhias nascentes, dez de grande porte e quatro de pequeno e médio porte. Quando o parque estiver totalmente implantado, dentro de cinco anos, a meta é elevar o número de empresas para 200, que devem empregar cerca de 5 mil pesquisadores.

Valor 22.12.2011

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Há capital disponível para inovadoras

Empresas gestoras de fundos de venture capital estão procurando pequenas e médias empresas inovadoras para investir. Pelo menos, entre os três vencedores da terceira edição do Prêmio Inovar - Stratus, FIR Capital e BRZ Investimentos - há planos de investimento de mais de R$ 500 milhões, nos próximos três anos.
O prêmio, anunciada em novembro, é uma ação da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com participação do BNDES PAR, o braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, para reconhecer gestoras de fundos de venture capital. A disputa foi dividida em três categorias - governança, equipe e operação - e recebeu dez inscrições. O Fundotec II, gerido pela FIR Capital ganhou em Equipe, o fundo Logística Brasil FIP, da BRZ Investimentos, saiu vitorioso em governança e o FMIEE GC, do Stratus, teve destaque em operação.

Para o diretor de inovação da Finep, João De Negri, o prêmio ajuda a consolidar a indústria de capital inteligente no Brasil e mobiliza investidores, gestores e empreendedores em torno da inovação.

O II Censo da Indústria Brasileira de Private Equity e Venture Capital, realizado pelo Centro de Estudos em Private Equity da Fundação Getúlio Vargas (GVCepe) indica que há 258 fundos em operação no Brasil, dirigidos por 144 gestores. No início do ano passado, tinham cerca de R$ 7 bilhões para aplicar no segmento de empresas nascentes, além de pequenos e médios negócios de alto crescimento.

O Stratus tem projetos de investimento de cerca de R$ 500 milhões para os próximos três anos e deve investir até R$ 150 milhões somente em 2012. De acordo com o sócio-diretor Álvaro Gonçalves, com uma carteira de US$ 300 milhões de investimentos sob gestão, o fundo iniciou operações em 2002, voltado para empresas de médio porte. Encerrou o período de investimentos em 2006 e desde 2007 "desinvestiu" praticamente toda a carteira. "Houve um retorno aos investidores equivalente a quase três vezes o capital original."

Os principais investidores do fundo foram o Fundo Multilateral de Investimentos (MIF), braço de investimentos de longo prazo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Finep, o Fundo de Pensão dos Funcionários do BNDES (Fapes), Bovespa, Banco Privado Português e o Grupo Pebb.

O Stratus já investiu em nove empresas, nos setores de software, mídia, telecom e manufatura. Para o executivo, o grupo prefere fazer aportes em companhias de perfil emergente, com o negócio já nos trilhos, e não em startups. Um modelo de organização adequado e um elevado potencial de crescimento também são observados antes da liberação das verbas.

"Observamos nas empresas mais de 40 pontos de análise que determinam o potencial de crescimento e a valorização do patrimônio por meio da abertura de capital ou da venda de participação em um período de três a cinco anos", diz. Recentemente, o Stratus deu início a um novo período de investimentos. Em novembro, anunciou um aporte de R$ 55 milhões na Maestro, empresa de terceirização de frota de veículos de São Paulo. A companhia tem 2,4 mil veículos mas, com o montante recebido, planeja chegar a 18 mil automóveis nos próximos cinco anos.

Em setembro, o Stratus também fechou a compra de uma participação acionária na Mar & Terra, que cria peixes em cativeiros no Pantanal e na Amazônia. O aporte, estimado em R$ 25 milhões, faz parte da carteira do fundo de tecnologia limpa do fundo. Com sede em Itaporã (MS), a Mar & Terra quer quintuplicar a capacidade de produção, atualmente entre sete e oito toneladas de peixe ao dia, melhorar a distribuição e exportar.

O Stratus também fez injeções na Amyris, fornecedora de produtos químicos renováveis a partir da cana de açúcar, e na Unnafibras, que transforma garrafas PET em fibras de poliéster. Depois de investir em uma companhia, a meta é dar suporte ao crescimento, expandir a equipe gerencial e oferecer acesso a treinamento, além de implantar ações de governança corporativa, segundo Gonçalves.

"Os negócios de médio porte apresentam maior atratividade na relação risco-retorno e também uma grande densidade estatística, permitindo seleção e diversificação para as carteiras dos fundos."

O FIR Capital, gestor de fundos de venture capital para investimentos em empresas nascentes, emergentes e em expansão, investiu em sete negócios em 2011. A lista inclui a rede de clínicas oncológicas Oncoclínicas; a ABC, de material de construção, e a Devex, que desenvolve tecnologia de gestão para operações de minas.

"Nossos maiores investidores são fundos de pensão brasileiros como o Previ, do Banco do Brasil , a Petros, da Petrobras, e o Funcef, da Caixa ", diz o sócio Marcus Regueira. "Investimos em pequenas e médias empresas com faturamento anual de até R$ 150 milhões e potencial de crescimento acelerado. Estamos levantando um terceiro fundo para investimento."

A BRZ, fundada em 2005 a partir de um spin off da GP Investimentos, administra mais de R$ 3,4 bilhões, distribuídos em fundos multimercados, de crédito, renda variável e private equity. Com um patrimônio de R$ 462 milhões, o fundo Logística Brasil da gestora investe no setor de logística, principalmente em centros de distribuição, terminais portuários, armazéns e gasodutos. O período de aportes foi encerrado em julho de 2010 e o fundo encontra-se totalmente investido.

Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Demanda por recursos na Finep soma R$ 9 bi

Glauco Arbix, presidente da Finep: 70% do aumento da demanda vem de cinco setores, o pré-sal entre eles

Microfones instalados na cabeceira da pista de testes da Embraer em Gavião Peixoto, no interior paulista, são capazes de captar o barulho de aviões que pousam e decolam inúmeras vezes. O processamento desses dados acústicos permite aos engenheiros mapear os pontos de ruído e, dessa forma, poder desenvolver aeronaves silenciosas.

Longe dali, em Tomé-Açu, no Pará, a Natura acaba de concluir a experiência de cultivar palma em sistema agroflorestal. A certeza da viabilidade econômica e sustentabilidade do novo processo de cultivo de um produto tradicionalmente obtido em sistema de monocultura leva a empresa a um salto tecnológico na obtenção do óleo de palma usado nos sabonetes.

Não é de hoje que projetos como o da Embraer e Natura são financiados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), uma empresa pública ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). A novidade é o aumento do apetite das empresas instaladas no Brasil por financiamento nessa área.

O tamanho da carteira de pedidos de crédito para a inovação chega ao fim deste ano a R$ 9,13 bilhões. É um volume quase cinco vezes maior que o registrado no início do ano, segundo o presidente da Finep, Glauco Arbix. Até este ano, conta ele, os técnicos da Finep se frustravam com a falta de interesse das empresas no desenvolvimento de projetos inovadores. Se antes sobravam recursos para linhas de crédito nessa área, agora a Finep se preocupa com a necessidade de ganhar mais fôlego para poder atender às novas demandas.

Um passo nesse sentido será dado hoje, em Brasília, quando será anunciado pelo MCT a criação de um programa voltado às pequenas empresas. Com recursos da Finep e Sebrae, que somarão R$ 270 milhões, acordos com agentes regionais ajudarão no processo de descentralização.

O crescimento de demanda por recursos para inovação tecnológica pode ser a força que a Finep, que surgiu há 44 anos no Rio de Janeiro como empresa de fomento, precisa para se transformar em instituição financeira, como é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Arbix, que, em parte, afastou-se da área acadêmica para comandar o Ipea antes de assumir a presidência da Finep, em fevereiro, garante que em 20 anos de trabalho na área de pesquisa não havia visto antes a iniciativa privada tão interessada na inovação.

O total de recursos liberados dobrou em quatro anos, passando de R$ 516 milhões em 2006 para R$ 1,2 bilhão em 2010. Mas o que mais chama a atenção é que o total vai alcançar este ano um avanço de 56%, chegando a R$ 1,87 bilhão. "Volumes como esse eram impensáveis há cinco anos", diz. Segundo ele, se a demanda por inovação desponta num momento em que a economia se retrai é porque os empresários estão voltados para o futuro. "Quem investe em tecnologia está pensando no longo prazo."

Há um ano, quando a carteira de pedidos não chegava a R$ 2 bilhões, a média de pedidos de crédito por projeto girava em torno de R$ 11 milhões, afirma. Os volumes passaram para médias de R$ 40 milhões, com casos de mais de R$ 70 milhões nas linhas requisitadas pelos investidores do pré-sal.

Os investimentos em pesquisa na camada do pré-sal ajudaram a elevar a demanda por linhas de financiamento. Segundo Arbix, 70% da carteira de pedidos, hoje em R$ 9,13 bilhões, se concentra em cinco áreas: energia (que engloba as pesquisas do pré-sal e bioetanol), saúde, aeroespacial, tecnologia da informação e defesa, incluindo aí não apenas o setor militar como a parte da economia sustentável, com trabalhos voltados para o clima e redução de consumo de energia.

As áreas que se destacam no portfólio da Finep servem também para mostrar que, além de ter perdido o medo do desenvolvimento local, o setor produtivo brasileiro se volta para novas vocações.

As linhas oferecidas pela Finep são atrativas, com taxas de juros que podem chegar a 4% ao ano, com prazos de até três anos de carência e dez anos para a amortização do principal. Além disso, a empresa pública também conta com linhas que podem conter recursos não reembolsáveis. Uma parte desse dinheiro segue para as pesquisas em universidades. Na carteira da iniciativa privada da Finep aparecem empresas como Vale Soluções, Braskem, Weg e Totvs.

A Natura tem usado diversas modalidades de linhas, incluindo recursos não reembolsáveis. Mas para a gerente de gestão e redes de inovação na Natura, Luciana Hashiba, a maior vantagem em linhas dessa natureza é poder contar com especialistas que "entendem de inovação". Ainda entusiasmada com os resultados da experiência no Pará, que foi apelidada de "projeto dendê", a executiva conta que a empresa acaba de ter liberado pela Finep um projeto para a pesquisa de ativos da biodiversidade brasileira, que serão usados para o tratamento de pele.

O projeto dendê, que começou em 2007, envolvendo famílias de agricultores, passará, agora, para a fase de busca de escala. Hashiba diz que a empresa tem buscado aumentar a liberação de créditos. "Entendemos que o governo deu um sinal claro de que acredita na inovação como papel importante no crescimento do país", destaca.

Frederico Curado, presidente da Embraer, se entusiasma com a tendência de crescimento dos investimentos em inovação. "Às vezes as verbas até sobram, porque não há tantas ideias", destaca. Para o executivo da empresa que circula com frequência na carteira de pedidos da Finep, as companhias podem hoje usufruir de recursos para a pesquisa aplicada, com chances de inovar até mesmo em projetos que às vezes nem sabem quando efetivamente vão usar. Segundo ele, apesar do rigor na aprovação dos projetos - compreensível, diz, tratando-se de uma empresa que lida com recursos públicos - o tempo de liberação tem diminuído.

Curado sente, no entanto, no Brasil, a falta de sistemas mais simples, capazes de agregar, por exemplo, toda uma cadeia de fornecedores e pequenas empresas às gigantes, que normalmente conseguem crédito mais facilmente. "São aperfeiçoamentos que podem ser feitos, como se vê hoje no exterior", diz.

Para o presidente da Embraer, um movimento nesse sentido depende, sobretudo, de adaptações na legislação brasileira. "As leis brasileiras são menos flexíveis do que no exterior, o que dificulta nos casos em que uma empresa começa um projeto e no meio do caminho percebe que precisa de alguma alteração", diz. A simplicidade dos processos, acrescenta Curado, ajudaria o Brasil a se aparelhar para a "inovação em grande escala". Para ele, a democratização do acesso à pesquisa aplicada só tende a ajudar o país. "Porque inovação só serve se servir à sociedade."

Por Marli Olmos | De São Paulo - Valor

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

EMC investe em polo de pesquisas em universidade

Brian Gallagher, da EMC: foco na contratação do gerente-geral e de outros funcionários para o centro, cuja construção foi iniciada semana passada

A EMC Corporation, dos Estados Unidos, planeja concluir a construção de um polo de pesquisas no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, capital fluminense, até o primeiro semestre de 2013. A companhia prevê investir US$ 100 milhões no país nos próximos cinco anos, sendo que cerca de metade desse valor será destinada à construção -iniciada semana passada - e início da operação do centro de pesquisas. Está previsto também em contrato a aplicação de US$ 1,8 milhão por ano, nesse período, para o desenvolvimento da UFRJ e de projetos em parceria com o Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). O restante será empenhado para reforçar a capacidade de vendas, serviços e fabricação no país, por meio das parcerias com a Foxconn e com o Instituto El Dorado.

O terreno que abrigará o polo será alugado por 20 anos, com a possibilidade de renovação do contrato. A companhia - que atua na área de tecnologia da informação com foco no armazenamento de dados - não revela os valores negociados pelo imóvel.

O presidente da divisão de armazenamento de dados da EMC para empresas, Brian Gallagher, afirmou ao Valor que a companhia ainda não contratou ninguém para trabalhar no centro de pesquisa e desenvolvimento, nem mesmo o executivo que comandará as operações no Rio. "O foco principal agora é, obviamente, contratar o gerente-geral para as instalações, assim como outros funcionários-chave", explicou. "Nesta visita [ao Brasil] entrevistamos candidatos em potencial". Em novembro, a vice-presidente e diretora de tecnologia da companhia, Patrícia Florissi, disse ao Valor que estava difícil encontrar um executivo que aliasse o conhecimento acadêmico à experiência com o mundo das empresas. Para o quadro geral, deverão ser contratados 50 funcionários.

A EMC investe, em média, US$ 2 bilhões por ano em pesquisa e desenvolvimento no mundo. Além do centro no Rio, a companhia tem polo de pesquisas na Índia, na China, na Rússia e em Israel.

O polo de pesquisas no Rio será voltado principalmente para a aquisição, análise, colaboração e visualização de dados sísmicos gerados pela indústria de petróleo e gás. Será o primeiro da EMC direcionado a esse segmento. Segundo Gallagher, a EMC planeja abrigar nessas instalações um centro de pesquisa aplicada, laboratórios de soluções e um espaço dedicado a reuniões e conferências para executivos.

"Acreditamos que o que vamos fazer aqui poderá ser aplicado em outras indústrias como ciência e serviços de inteligência e de finanças", disse Gallagher. A EMC tem cerca de cem clientes no país, com destaque para a Petrobras.

Gallagher calcula que a companhia vai crescer 16% em 2011, comparado ao ano passado, com investimentos de US$ 19,8 bilhões em todo o mundo.

O vice-presidente da companhia, Joel Schwartz, afirmou que ao escolher o Rio para sediar o primeiro centro de pesquisas na América Latina, a EMC não olhou apenas a economia brasileira. Ele destacou a Copa do Mundo e a quantidade de contratos que precisam ser cumpridos até a data dos jogos: "É muito importante para nós estarmos prontos para atender o mercado da América Latina."

Por Marta Nogueira | Do Rio / Valor 13.12.2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

'Open innovation' desafia as empresas

Henry Chesbrough, da Haas School of Business da Universidade da Califórnia em Berkeley:
"Foi a prática cotidiana que me mostrou o caminho"

O site de uma das mais prestigiosas revistas científicas do planeta, a britânica "Nature", traz já há algum tempo uma série de desafios dentro de um programa de inovação aberta. São US$ 25 mil para quem apresentar um projeto capaz de reduzir custos de aplicação de vacinas para pólio em países de renda média ou baixa. O desafio foi postado no dia 10 de novembro e o prazo final para envio de propostas é 20 de janeiro. Um centro de pesquisas oferece US$ 10 mil para quem desenvolver linhas de células ou animais para pesquisas sobre cordoma, um tipo de câncer ósseo que raramente reage a quimioterapia ou radioterapia. Qualquer pessoa de qualquer parte do mundo pode participar. E os prazos para envio de propostas costumam mesmo ser reduzidos, variando de 3 a 6 meses. Rapidez é uma característica essencial da chamada open innovation, ou inovação aberta.

Esse modelo vem causando furor em alguns setores, principalmente porque reduz os custos de P&D para empresas e acelera a introdução e aceitação de inovações no mercado, já que é capaz de estar antenado com os desejos e necessidades do consumidor durante todo o processo. Pequenas e médias empresas, com poucos recursos para investir em P&D, também aparecem como beneficiárias desse modelo de gestão de inovação.

Além disso, abre as portas do mercado de trabalho para jovens com ideias criativas, mesmo que seus projetos ainda não estejam suficientemente maduros para decolar - a empresa que lança o desafio e acolhe a proposta se encarrega de viabilizá-lo. Especialistas reunidos em São Paulo para a 4ª edição do Open Innovation Seminar veem nessa nova forma de gestão da inovação uma alternativa viável para o Brasil, cujo crescimento econômico se ressente da crônica falta de investimento empresarial em P&D e da falta de mão de obra especializada.

"Foi a prática cotidiana que me mostrou o caminho", conta Henry Chesbrough, professor da Haas School of Business da Universidade da Califórnia em Berkeley, e criador do conceito de inovação aberta. Chesbrough trabalhava numa pequena empresa de informática, a Quantum, que conseguia competir com a poderosa IBM, detentora da patente de um sistema de disk drive que ela não vendia para a concorrência. A IBM, claro, tinha investido milhões na contratação de PhDs, na montagem de laboratórios de ponta e guardava ciosamente sua patente. O produto semelhante desenvolvido pela Quantum invadiu o mercado.

"A lógica da open innovation é darwiniana. Quem sobrevive, na natureza ou no mercado, não é o mais forte, mas aquele que melhor se adapta ao ambiente e o ambiente econômico hoje é o de mudanças e inovações aceleradas. Nesse novo ambiente, as empresas grandes, presas ao modelo convencional de P&D, se movem com a lentidão de um dinossauro pesadão", compara.

No modelo convencional, uma inovação que apareça no processo de pesquisa pode ser patenteada e encostada, porque não atende às prioridades da empresa. No modelo de inovação aberta, essa inovação é disponibilizada para aquelas que possam aproveitá-la eventualmente. Nesse tipo de gestão, a empresa integra recursos internos e externos tanto no P&D, como na colocação do produto no mercado, formando uma rede de inovação que pode incluir centros de pesquisa - inclusive de universidades - clientes, fornecedores, startups e até os concorrentes.

"O Brasil, por exemplo, tem uma oportunidade única no caso do etanol, mas ao invés de compartilhar essa tecnologia com outros países e efetivamente ser líder mundial num setor inovador, mantém o conhecimento para si. A abertura do conhecimento não é abrir mão dele, mas expandir sua liderança", exemplifica.

De acordo com Henry Chesbrough, o Brasil vive um momento econômico fantástico e tem uma oportunidade única para atrair a melhor tecnologia do mundo, absorvê-la e realmente ocupar uma posição internacional de destaque. "Este é o momento de correr risco, já que os países que tradicionalmente eram líderes mundiais não o são mais, estão mergulhados em crises econômicas. O que falta ao Brasil hoje é confiança no processo de inovação", afirma. O país, segundo ele, passou anos mergulhado no combate à inflação e investindo muito pouco em inovação, praticamente restrita ao ambiente acadêmico. "O que se percebe agora é um país com vastos recursos naturais e sem know-how, que precisa urgentemente de mais iniciativas e atividades no setor, algo que poderia receber forte incentivo governamental.


Por Ruth Helena Bellinghini | Para o Valor, de São Paulo

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Cinco empresários contam como ganham dinheiro com a inovação

Melhoria e desenvolvimento de novos processos e produtos, ajudou empresas a ganhar destaque no mercado

Um dos países mais empreendedores do mundo, o Brasil é também um dos menos inovadores. Segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), relatório que mapeia o nível de empreendedorismo de 59 países, o Brasil está em último lugar do ranking de inovação que analisa empresas com até 42 meses de vida.

Entre os problemas que geram esse cenário está a crença de que inovar está somente em criar algo totalmente novo, envolvendo grandes investimentos em tecnologia. No entanto, a inovação pode estar em ações simples que resultem na melhoria de processos, produtos e serviços de forma que a empresa ganhe competitividade frente à concorrência. “Não adianta fazer a mesma coisa que o concorrente, as empresas devem encontrar uma forma de se diferenciar”, diz o coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-EAESP, Tales Andreassi.


Foi o que fizeram os cinco empreendedores abaixo. Entre pequenas e grandes inovações, eles conseguiram fazer diferente e, com isso, ganhar espaço no mercado, mostrando que inovar pode ser bem menos complicado do que parece.

Augusto Cesar Neto, Aatag

No que depender dos sonhos de Augusto Cesar de Camargo Neto, de 36 anos, a palavra Aatag vai fazer parte do vocabulário de todo mundo em breve. Isso porque ele espera que, em um futuro próximo, cada pessoa carregue consigo o adesivo desenvolvido por ele para "digitalizar o mundo real". A inovação, consiste em um adesivo que pode ser colado no celular, no chaveiro ou onde quer que seja. Lá estarão armazenadas todas as informações sobre aquele consumidor, desde o e-mail até seus hábitos de compra.

Ao mesmo tempo, cada loja do mundo terá um leitor de dados capaz de capturar as informações contidas no adesivo do cliente. A invenção permitirá, por exemplo, que não seja mais necessário ditar o número de um CPF cada vez que o cidadão quiser pedir uma Nota Fiscal Paulista ou se cadastrar na entrada de um edifício comercial. “Também será possível passar por uma vitrine, gostar da roupa que está ali e dar seu e-mail para que a loja mande para a casa do consumidor o catálogo completo de sua coleção. Mas isso tudo sem perder tempo: bastará encostar o adesivo no leitor que fica instalado na fachada”, explica Neto.

Para as empresas, o grande benefício do adesivo da Aatag é a possibilidade de capturar dados sobre seus clientes de forma muito ágil. E para os consumidores, além da praticidade, a vantagem é usar suas informações como moeda de troca para conseguir benefícios das empresas. “O cliente poderá fazer uma seleção prévia dos dados que quer divulgar e só vai informá-los se a contrapartida que a empresa lhe der for interessante”, afirma Neto.

Os clientes não pagarão nada pelo adesivo. A receita da Aatag virá da venda dos leitores de dados e da gestão das informações dos clientes. Como a tecnologia RFID é barata, estima-se que o leitor possa custar cerca de R$ 20 – o que ampliaria¬ as chances da Aatag espalhar os leitores por aí.

Rafael Cordeiro, Enox

Os amigos e publicitários Bernardo e Ernesto Villela, Gustavo Gasparin e Rafael Cordeiro iniciaram, há oito anos, a operação da Enox, pioneira e líder no mercado de mídia indoor. Inicialmente uma agência de propaganda, a empresa não teve sucesso na concorrência com empresas maiores, o que fez com que os sócios percebessem em poucos meses a necessidade de inovar.

Decidiram, então, que em vez de atuar na criação, se tornariam prestadores de serviços para outras agências.O plano era simples: colocar painéis com peças publicitárias em banheiros de bares e, assim, criar uma nova maneira das empresas se comunicarem com seu público. Com um investimento de R$ 20 mil (R$ 5 mil por sócio), desenvolveram um modelo de painel feito em acrílico e colocaram dentro um cartaz anunciando a própria empresa.

A peça foi instalada no banheiro de um bar em Curitiba, no Paraná, e em uma semana ganhou fama. Logo vieram os clientes e outros modelos de ação, como cardápios patrocinados e campanhas em televisores instalados dentro de lojas e outros pontos de venda. “Nós criamos uma nova indústria, a da mídia de contato, baseada não no conteúdo, mas nas pessoas e lugares onde elas estão.”

Hoje a Enox cresce a um ritmo de 35% ao ano e busca a solução para o mais novo desafio da empresa: descobrir como agregar novas tecnologias ao negócio.

Waldomiro José Fernandes, Versax

Com um produto muito simples em mãos, o engenheiro Waldomiro José Fernandes montou, em 2008, a empresa Versax. Ele desenvolveu um dispositivo que deve ser encaixado entre a lâmpada e o soquete. A rosquinha de quatro centímetros de diâmetro garante que com um toque no interruptor comum seja possível controlar a intensidade da luz, cuja luminosidade poderá variar de 5% a 100%.

A mágica está, justamente, dentro dessa rosquinha. Ela contém um software e funciona como um dímer - com a vantagem de nenhuma parede precisar ser quebrada para instalação. Com o produto, a Versax conquistou grandes clientes, como Tok & Stok e Center Castilho. "O meu trunfo foi ter algo diferente para apresentar aos varejistas", constata Fernandes.

Como a produção é quase artesanal, a Versax vendeu só 6 mil peças em um ano e meio, faturando cerca de R$ 100 mil. Mas para atingir a meta de 1 milhão de peças produzidas por ano, Fernandes decidiu terceirizar a fabricação e as vendas, mas não a tecnologia.

Ismael Akiyama, da Akiyama

A Akiyama, empresa especializada em identificação civil e criminal por meio da biometria, faz parte do pequeno grupo de empresas que já está lucrando com a Copa de 2014. Fundada em 2005 com um investimento de apenas R$ 72 mil, a companhia desempenha atualmente um papel importante no esquema de segurança que o governo federal adotará durante os jogos da Copa. Afinal, é dela a tecnologia usada no projeto “Torcida Legal”.

O programa pretende proibir a entrada nos estádios de torcedores que participaram de algum ato violento em jogos de seus times ou cometeram outros tipos de infrações, como a venda de ingressos falsos. Mas, para barrá-los, o governo precisará utilizar um método de identificação rápido e seguro, já que exigir a apresentação de documentos na entrada dos estádios seria inviável.

Akiyama resolveu esse problema ao inovar e usar a tecnologia para padronizar a coleta de dados por meio da biometria. Com processos informatizados, a identificação poderá ser feita em escala, sem a necessidade de acompanhamento de um perito, com custos mais baixos e de forma mais rápida.

A empresa fechou em 2009, um contrato com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a compra de 1,4 mil máquinas, usadas no recadastramento de eleitores. Foi por meio do projeto para o TSE que a empresa conseguiu pontos na hora de conseguir o contrato do Torcida Legal. A venda de 300 equipamentos para o Ministério do Esporte, além da prestação de serviços de assistência técnica e do treinamento de funcionários, rendeu à Akiyama R$ 3 milhões. O valor corresponde a cerca de 10% do faturamento alcançado pela empresa em 2010 (R$ 29,5 milhões).Hoje a empresa de Ismael cresce em um ritmo de 100% ao ano.

“Nós já identificamos outras oportunidades de negócios com o governo”, afirma o empresário. Atualmente, ele trabalha também no desenvolvimento de outros softwares para monitoramento das torcidas nos estádios brasileiros.

Ely Behar, U/Racer

Ele levou o estilo de vida dos autódromos para o shopping center. Ao apostar no potencial de mercado por trás dos 7 milhões de fãs de automobilismo no Brasil, o empresário Ely Behar criou um modelo de negócio inovador, que em pouco mais de um ano e meio de existência já cresceu 200% e deve fechar 2011 com faturamento até três vezes maior do que o R$ 1 milhão registrado no ano passado.

Com uma loja virtual e duas físicas, a U/Racer reúne artigos para pilotos - luvas, capacetes e macacões - e produtos para fãs do esporte, como camisetas, bonés e até roupas para bebês. “Antes, esses produtos só eram vendidos em eventos de automobilismo, mas com o sucesso das vendas nas lojas, as marcas oficiais já estão até aumentando o investimento nas linhas de produtos para fãs”, conta Behar.

O modelo é pioneiro no Brasil e agradou justamente pelo apelo com o público masculino. Atualmente, 50% do faturamento vem dos artigos para os fãs. “Nós temos boa aceitação para entrar nos shoppings porque conseguimos resolver o maior problema deles, que é atrair os homens”, explica o empresário.

Hoje, a U/Racer é distribuidora oficial de marcas importantes como Ferrari, Sauber e McLaren, e recebe investimento de um fundo. O próximo passo da empresa, releva Behar, é expandir a operação por meio de franquias e, dessa forma, ter 35 lojas da marca até 2015. Desse total, pelo menos dez devem ser inauguradas até o ano que vem, propiciando um faturamento de R$ 10 milhões. “O foco é em cidades com mais de 250 mil homens das classes A e B, o público do negócio”, explica o empreendedor.

Alex Silva/AE