Pulverização de defensivos em lavoura no Japão, onde há pouco espaço para a agricultura: a "era dourada" dos agroquímicos deu-se nas décadas de 80 e 90
Como os químicos gostam de nos recordar, a química é onipresente. Tudo é feito de elementos químicos e as versões naturais não são necessariamente mais saudáveis que os compostos sintéticos. O mundo está repleto de substâncias naturalmente tóxicas e cancerígenas.
A química - e em particular os defensivos e fertilizantes que a ciência produz - é um dos três pilares que sustentaram o assombroso aumento da produtividade agrícola. Os outros dois são a biologia, cujas pesquisas levaram a variedades de cultivos de maior rendimento, e a engenharia, que permitiu a agricultores semear, arar, irrigar e colher de forma mais eficiente.
Os produtos agroquímicos podem ser divididos em dois grandes grupos: os fertilizantes, que dão às plantas os nutrientes essenciais e têm como base o nitrogênio, fósforo e potássio; e os defensivos, que protegem as plantas de ervas daninhas, insetos e doenças de fungos.
Apesar do fato de que a agricultura moderna provavelmente morreria sem os adubos, há muito mais inovação no setor de defensivos - que cientificamente é bem próxima à indústria farmacêutica - do que nos fertilizantes, cujos produtos são mais commoditizados.
A avaliação anual realizada pela consultoria britânica Agranova calcula que o mercado mundial de defensivos agrícolas movimentou US$ 40,7 bilhões no ano passado, sem muita variação em relação aos valores em termos reais, ajustados pela inflação, dos últimos dez anos.
Entre as empresas líderes do segmento estão a Syngenta, Bayer, Basf, Dow e Monsanto.
Os herbicidas (que matam ervas daninhas) ainda dominam a maior parte do mercado (US$ 17,5 bilhões), embora sua participação esteja caindo em relação aos fungicidas e inseticidas (cerca de US$ 10,6 bilhões cada um).
Quanto à distribuição regional das vendas de agroquímicos, a análise da Agranova mostra uma divisão bastante equilibrada ente América do Norte, Europa, Ásia e América Latina, com cada região registrando entre 22% e 24% de participação.
No que ser refere aos tipos de colheita, o plantio de frutas e vegetais é responsável por uma parcela surpreendentemente grande do mercado agroquímico: US$ 13,2 bilhões, o que representa 32,3%. Em comparação, os cereais, como o trigo e a cevada, ficam com 15,6% do mercado total; a soja, com 10,4%; o arroz, com 9,1%; e o milho, com 8,4%.
Lançar agroquímicos (defensivos ou fertilizantes) no mercado tornou-se muito mais caro, uma vez que a desconfiança pública em relação à indústria química ficou maior, diz Rob Bryant, chefe da Agranova.
Ao mesmo tempo muitos produtos mais antigos foram retirados de circulação porque os custos para cumprir a regulamentação necessária e para mantê-los no mercado é alto demais. Isso levou a algumas "lacunas" nas opções de tratamento, especialmente, para culturas menores.
A era dourada dos agroquímicos, em termos de novos ingredientes químicos chegando ao mercado, deu-se nas décadas de 1980 e 1990. O ritmo de lançamentos na primeira década do século XXI foi a metade do registrado nos anos 90.
"Continua havendo demasiada ênfase nas principais colheitas, guiada pela necessidade de recuperar os custos com obstáculos regulatórios cada vez maiores e com a diminuição no sucesso com as inovações", disse Bryant.
Além dos produtos agroquímicos, há várias formas por meio das quais a química vem contribuindo para melhorar a produção e teor nutritivo dos alimentos e reduzir a poluição ambiental. Um bom exemplo é a colaboração entre a Novozymes, da Dinamarca, e a DSM, da Holanda - duas empresas inovadoras de especialidades químicas - para reduzir a quantidade de fosfato nas rações.
Grandes quantidades de fosfato, uma matéria-prima de oferta limitada, são desperdiçadas em alimentos para aves e porcos, pois os animais não as metabolizam com eficiência e acabam eliminadas nos excrementos, provocando a poluição das águas.
A solução é agregar a enzima "fitase", aperfeiçoada, à ração. Isso possibilita melhor aproveitamento do fosfato pelos animais.
Ao mesmo tempo, a química continua a ter grande impacto no pilar biológico da produção de alimentos, ao ajudar a esclarecer a estrutura molecular das plantas - sinalizando, portanto, novas formas para aperfeiçoamento das culturas. Neste mês, por exemplo, uma colaboração entre a Edinburgh University e a Syngenta divulgou uma importante descoberta sobre o sistema imunológico das plantas, na revista científica "Nature".
Um dos mecanismos de defesa de uma planta, quando atacada por bactérias ou fungos, é provocar a morte das células ameaçadas. Isso remove a fonte de alimentos do elemento patogênico invasor. "As plantas geram um choque pequeno e rápido que mata as células ao redor de onde o elemento patogênico tenta invadir e, basicamente, o fazem morrer de fome", diz Gary Loake, líder do projeto e professor da universidade escocesa. "Mas identificamos que algo precisa ocorrer para garantir que a planta não caia em total destruição".
A resposta está em uma enzima chamada oxidase NAPDH, que controla o processo de morte das células e o interrompe quando a infecção é contida. "Esperamos que os pesquisadores de melhoramento vegetal possam usar a informação para desenvolver variedades resistentes a doenças", afirma o professor Loake.
Por Clive Cookson | Financial Times
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