terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Inovação na produção de fitoterápicos é discutida no Brasil 21/01/2010



  Destaque em biodiversidade, o Brasil aproveita muito pouco de seu potencial para produzir fitoterápicos. Projeto visa reunir membros da cadeia produtiva para superar os desafios

O Brasil é considerado líder mundial nas estatísticas de biodiversidade, mas aproveita muito pouco de seu potencial para produzir fitoterápicos. Entre os principais entraves à produção, estão as distâncias entre a comunidade acadêmica, as empresas e os pequenos produtores. Estas questões foram debatidas no IV Seminário do Escritório de Gestão do projeto Redes Fito, realizado em dezembro, no Rio de Janeiro.

O projeto Redes Fito é organizado pelo Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS) do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz). Desde 2008, o projeto visa reunir todos os envolvidos na produção de fitoterápicos - pequenos agricultores, pesquisadores, empresários, prefeituras e instituições de ciência e tecnologia.

A rede é formada por integrantes dos seis biomas brasileiros: Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal. O objetivo é incentivar a busca por inovação e fomentar a produção brasileira.

Vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel Fernandes esteve presente no evento e disse que o Brasil vive um momento extremamente oportuno para o aumento do investimento em produtos naturais.

"Estamos pensando em alternativas de desenvolvimento para o país e em fazer com que as populações possam estar inseridas no processo. É trabalhar a sustentabilidade dentro de uma lógica de desenvolvimento inclusivo", ressaltou.

Valcler também lembrou que o desenvolvimento sustentável é um compromisso de todas as unidades da Fiocruz. "Esta articulação tem uma potencialidade muito grande. Precisamos aproveitar este momento de maneira produtiva. Gostaria de ressaltar a importância de Farmanguinhos na busca por novos produtos e pela inovação".

Desafios

O seminário abriu espaço para que produtores, instituições de ensino, pesquisadores, grandes empresas do ramo farmacêutico, agências de fomento e gestores pudessem debater os caminhos para o futuro da produção de fitoterápicos no Brasil.

Kátia Torres, da Secretaria de C&T e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, explicou que as principais metas do órgão para o próximo ano são finalizar o banco de dados da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus), atualmente com 71 espécies, apoiar farmácias de manipulação e capacitar médicos e outros profissionais de saúde para a prescrição de fitoterápicos.

Encontrar profissionais que conheçam e prescrevam fitoterápicos, aliás, foi uma das maiores dificuldades para a expansão deste tipo de produto, apontadas pelos participantes do seminário. "Além disso, as empresas têm dificuldade em trazer os projetos das universidades para a indústria", afirmou Emerson Ferreira Queiroz, do Laboratório Aché.

Outra questão importante é utilizar o conhecimento tradicional das comunidades de cada bioma para gerar produtos de qualidade e que sejam recompensadores para os pequenos agricultores.

"Muitas vezes o produto já existe, nós é que não temos conhecimento sobre ele", explicou Marly Teresinha Pereira, gestora da Rede Mata Atlântica (SP). "Esta rede está fazendo com que a gente enxergue conhecimento de atores sociais normalmente rejeitado pela sociedade. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), um dos nossos parceiros, produz xampus, pomadas e xaropes há 13 anos. Falta unir este conhecimento ao saber acadêmico".

No fim do evento, foi elaborado um Termo de Referência que ditará os próximos passos de Redes Fito. Após o mapeamento dos parceiros em cada bioma, começa o maior desafio do projeto.

"O NGBS está de parabéns, pois as redes estão constituídas. Agora, é dar início ao processo de inovação em si, que vai gerar fitomedicamentos. Esta é a nossa meta para 2010, fazer com que informação e conhecimento gerem produtos", disse o diretor de Farmanguinhos, Hayne Felipe da Silva.


(Fonte: Jornal da Ciência e Instituto de Tecnologia em Fármacos - 20/01/2010)

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