quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Finep lançará novos editais para inovação em 2012



A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), prepara a realização de novas chamadas públicas para projetos de inovação tecnológica para a nova fronteira exploratória do pré-sal. A ideia é que os novos editais, que já estão sendo discutidos no ministério, sejam lançadas no próximo ano.

Os concursos da Finep vêm no rastro de uma bem sucedida chamada pública lançada em 2009 e concluída no fim de novembro. Ao tudo, a empresa selecionou 58 dos 300 projetos de inovação com foco no desenvolvimento do pré-sal, nos quais serão aplicados R$ 115,7 milhões. Na primeira filtragem, 254 projetos foram classificados.

A chamada pública priorizou os segmentos de válvulas, conexões/flanges, umbilicais submarinos, calderaria, construção naval e instrumentação e automação. Um comitê com representantes da Finep, da Agência Nacional do Petróleo e pesquisadores foi responsável pela escolha dos projetos, que foram classificados pela sua relevância.

Os recursos, que variam entre R$ 1 milhão a R$ 8 milhões por empresa, serão repassados às instituições de pesquisa indicadas como parceiras dos fornecedores, entre elas se destacam as universidades federais do Rio e do Rio Grande do Sul, a Universidade de São Paulo e a PUC do Rio, que possuem tradição nas áreas de petróleo e gás. "Foi uma experiência positiva. As empresas sabem que precisam se qualificar desde hoje ou estarão fora do contexto. Elas precisam se preparar", comenta a analista do Departamento de Instituições e Pesquisa da Finep, Cláudia Perasso.

A Petrobras é hoje uma das quatro maiores investidoras em pesquisa e desenvolvimento no mundo. Não é para menos. A empresa precisa desenvolver tecnologias e produtos especiais para trabalhar a profundidade de mais de 7.000 metros na Bacia de Santos. A petrolífera trabalha hoje com cerca de 130 instituições nacionais através de redes temáticas, pesquisando mais de 50 temas para o setor. "Nosso investimento em pesquisa e desenvolvimento é de US$ 1 bilhão por ano, valor cinco vezes maior do que investíamos no início da década". diz o gerente-executivo do Centro de Pesquisas da Petrobras, Carlos Tadeu Fraga.

O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é responsável pelos desenvolvimentos tecnológicos que levaram a Petrobras até as águas profundas. As principais linhas de pesquisa em elaboração desenvolvem tecnologias para avaliar reservas de óleo e gás, recuperação e análise de reservatórios, processamento e avaliação, engenharia de poço, elevação e escoamento de petróleo e gás.

No rasto da ampliação do Cenpes, que demandou investimentos da ordem de R$ 1,2 bilhão e foi concluída em novembro de 2010, diversas empresas estão construindo centros de pesquisa no Parque Tecnológico da UFRJ, que atualmente conta com 34 empresas instaladas, sendo 20 companhias nascentes, dez de grande porte e quatro de pequeno e médio porte. Quando o parque estiver totalmente implantado, dentro de cinco anos, a meta é elevar o número de empresas para 200, que devem empregar cerca de 5 mil pesquisadores.

Valor 22.12.2011

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Há capital disponível para inovadoras

Empresas gestoras de fundos de venture capital estão procurando pequenas e médias empresas inovadoras para investir. Pelo menos, entre os três vencedores da terceira edição do Prêmio Inovar - Stratus, FIR Capital e BRZ Investimentos - há planos de investimento de mais de R$ 500 milhões, nos próximos três anos.
O prêmio, anunciada em novembro, é uma ação da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com participação do BNDES PAR, o braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, para reconhecer gestoras de fundos de venture capital. A disputa foi dividida em três categorias - governança, equipe e operação - e recebeu dez inscrições. O Fundotec II, gerido pela FIR Capital ganhou em Equipe, o fundo Logística Brasil FIP, da BRZ Investimentos, saiu vitorioso em governança e o FMIEE GC, do Stratus, teve destaque em operação.

Para o diretor de inovação da Finep, João De Negri, o prêmio ajuda a consolidar a indústria de capital inteligente no Brasil e mobiliza investidores, gestores e empreendedores em torno da inovação.

O II Censo da Indústria Brasileira de Private Equity e Venture Capital, realizado pelo Centro de Estudos em Private Equity da Fundação Getúlio Vargas (GVCepe) indica que há 258 fundos em operação no Brasil, dirigidos por 144 gestores. No início do ano passado, tinham cerca de R$ 7 bilhões para aplicar no segmento de empresas nascentes, além de pequenos e médios negócios de alto crescimento.

O Stratus tem projetos de investimento de cerca de R$ 500 milhões para os próximos três anos e deve investir até R$ 150 milhões somente em 2012. De acordo com o sócio-diretor Álvaro Gonçalves, com uma carteira de US$ 300 milhões de investimentos sob gestão, o fundo iniciou operações em 2002, voltado para empresas de médio porte. Encerrou o período de investimentos em 2006 e desde 2007 "desinvestiu" praticamente toda a carteira. "Houve um retorno aos investidores equivalente a quase três vezes o capital original."

Os principais investidores do fundo foram o Fundo Multilateral de Investimentos (MIF), braço de investimentos de longo prazo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Finep, o Fundo de Pensão dos Funcionários do BNDES (Fapes), Bovespa, Banco Privado Português e o Grupo Pebb.

O Stratus já investiu em nove empresas, nos setores de software, mídia, telecom e manufatura. Para o executivo, o grupo prefere fazer aportes em companhias de perfil emergente, com o negócio já nos trilhos, e não em startups. Um modelo de organização adequado e um elevado potencial de crescimento também são observados antes da liberação das verbas.

"Observamos nas empresas mais de 40 pontos de análise que determinam o potencial de crescimento e a valorização do patrimônio por meio da abertura de capital ou da venda de participação em um período de três a cinco anos", diz. Recentemente, o Stratus deu início a um novo período de investimentos. Em novembro, anunciou um aporte de R$ 55 milhões na Maestro, empresa de terceirização de frota de veículos de São Paulo. A companhia tem 2,4 mil veículos mas, com o montante recebido, planeja chegar a 18 mil automóveis nos próximos cinco anos.

Em setembro, o Stratus também fechou a compra de uma participação acionária na Mar & Terra, que cria peixes em cativeiros no Pantanal e na Amazônia. O aporte, estimado em R$ 25 milhões, faz parte da carteira do fundo de tecnologia limpa do fundo. Com sede em Itaporã (MS), a Mar & Terra quer quintuplicar a capacidade de produção, atualmente entre sete e oito toneladas de peixe ao dia, melhorar a distribuição e exportar.

O Stratus também fez injeções na Amyris, fornecedora de produtos químicos renováveis a partir da cana de açúcar, e na Unnafibras, que transforma garrafas PET em fibras de poliéster. Depois de investir em uma companhia, a meta é dar suporte ao crescimento, expandir a equipe gerencial e oferecer acesso a treinamento, além de implantar ações de governança corporativa, segundo Gonçalves.

"Os negócios de médio porte apresentam maior atratividade na relação risco-retorno e também uma grande densidade estatística, permitindo seleção e diversificação para as carteiras dos fundos."

O FIR Capital, gestor de fundos de venture capital para investimentos em empresas nascentes, emergentes e em expansão, investiu em sete negócios em 2011. A lista inclui a rede de clínicas oncológicas Oncoclínicas; a ABC, de material de construção, e a Devex, que desenvolve tecnologia de gestão para operações de minas.

"Nossos maiores investidores são fundos de pensão brasileiros como o Previ, do Banco do Brasil , a Petros, da Petrobras, e o Funcef, da Caixa ", diz o sócio Marcus Regueira. "Investimos em pequenas e médias empresas com faturamento anual de até R$ 150 milhões e potencial de crescimento acelerado. Estamos levantando um terceiro fundo para investimento."

A BRZ, fundada em 2005 a partir de um spin off da GP Investimentos, administra mais de R$ 3,4 bilhões, distribuídos em fundos multimercados, de crédito, renda variável e private equity. Com um patrimônio de R$ 462 milhões, o fundo Logística Brasil da gestora investe no setor de logística, principalmente em centros de distribuição, terminais portuários, armazéns e gasodutos. O período de aportes foi encerrado em julho de 2010 e o fundo encontra-se totalmente investido.

Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Demanda por recursos na Finep soma R$ 9 bi

Glauco Arbix, presidente da Finep: 70% do aumento da demanda vem de cinco setores, o pré-sal entre eles

Microfones instalados na cabeceira da pista de testes da Embraer em Gavião Peixoto, no interior paulista, são capazes de captar o barulho de aviões que pousam e decolam inúmeras vezes. O processamento desses dados acústicos permite aos engenheiros mapear os pontos de ruído e, dessa forma, poder desenvolver aeronaves silenciosas.

Longe dali, em Tomé-Açu, no Pará, a Natura acaba de concluir a experiência de cultivar palma em sistema agroflorestal. A certeza da viabilidade econômica e sustentabilidade do novo processo de cultivo de um produto tradicionalmente obtido em sistema de monocultura leva a empresa a um salto tecnológico na obtenção do óleo de palma usado nos sabonetes.

Não é de hoje que projetos como o da Embraer e Natura são financiados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), uma empresa pública ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). A novidade é o aumento do apetite das empresas instaladas no Brasil por financiamento nessa área.

O tamanho da carteira de pedidos de crédito para a inovação chega ao fim deste ano a R$ 9,13 bilhões. É um volume quase cinco vezes maior que o registrado no início do ano, segundo o presidente da Finep, Glauco Arbix. Até este ano, conta ele, os técnicos da Finep se frustravam com a falta de interesse das empresas no desenvolvimento de projetos inovadores. Se antes sobravam recursos para linhas de crédito nessa área, agora a Finep se preocupa com a necessidade de ganhar mais fôlego para poder atender às novas demandas.

Um passo nesse sentido será dado hoje, em Brasília, quando será anunciado pelo MCT a criação de um programa voltado às pequenas empresas. Com recursos da Finep e Sebrae, que somarão R$ 270 milhões, acordos com agentes regionais ajudarão no processo de descentralização.

O crescimento de demanda por recursos para inovação tecnológica pode ser a força que a Finep, que surgiu há 44 anos no Rio de Janeiro como empresa de fomento, precisa para se transformar em instituição financeira, como é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Arbix, que, em parte, afastou-se da área acadêmica para comandar o Ipea antes de assumir a presidência da Finep, em fevereiro, garante que em 20 anos de trabalho na área de pesquisa não havia visto antes a iniciativa privada tão interessada na inovação.

O total de recursos liberados dobrou em quatro anos, passando de R$ 516 milhões em 2006 para R$ 1,2 bilhão em 2010. Mas o que mais chama a atenção é que o total vai alcançar este ano um avanço de 56%, chegando a R$ 1,87 bilhão. "Volumes como esse eram impensáveis há cinco anos", diz. Segundo ele, se a demanda por inovação desponta num momento em que a economia se retrai é porque os empresários estão voltados para o futuro. "Quem investe em tecnologia está pensando no longo prazo."

Há um ano, quando a carteira de pedidos não chegava a R$ 2 bilhões, a média de pedidos de crédito por projeto girava em torno de R$ 11 milhões, afirma. Os volumes passaram para médias de R$ 40 milhões, com casos de mais de R$ 70 milhões nas linhas requisitadas pelos investidores do pré-sal.

Os investimentos em pesquisa na camada do pré-sal ajudaram a elevar a demanda por linhas de financiamento. Segundo Arbix, 70% da carteira de pedidos, hoje em R$ 9,13 bilhões, se concentra em cinco áreas: energia (que engloba as pesquisas do pré-sal e bioetanol), saúde, aeroespacial, tecnologia da informação e defesa, incluindo aí não apenas o setor militar como a parte da economia sustentável, com trabalhos voltados para o clima e redução de consumo de energia.

As áreas que se destacam no portfólio da Finep servem também para mostrar que, além de ter perdido o medo do desenvolvimento local, o setor produtivo brasileiro se volta para novas vocações.

As linhas oferecidas pela Finep são atrativas, com taxas de juros que podem chegar a 4% ao ano, com prazos de até três anos de carência e dez anos para a amortização do principal. Além disso, a empresa pública também conta com linhas que podem conter recursos não reembolsáveis. Uma parte desse dinheiro segue para as pesquisas em universidades. Na carteira da iniciativa privada da Finep aparecem empresas como Vale Soluções, Braskem, Weg e Totvs.

A Natura tem usado diversas modalidades de linhas, incluindo recursos não reembolsáveis. Mas para a gerente de gestão e redes de inovação na Natura, Luciana Hashiba, a maior vantagem em linhas dessa natureza é poder contar com especialistas que "entendem de inovação". Ainda entusiasmada com os resultados da experiência no Pará, que foi apelidada de "projeto dendê", a executiva conta que a empresa acaba de ter liberado pela Finep um projeto para a pesquisa de ativos da biodiversidade brasileira, que serão usados para o tratamento de pele.

O projeto dendê, que começou em 2007, envolvendo famílias de agricultores, passará, agora, para a fase de busca de escala. Hashiba diz que a empresa tem buscado aumentar a liberação de créditos. "Entendemos que o governo deu um sinal claro de que acredita na inovação como papel importante no crescimento do país", destaca.

Frederico Curado, presidente da Embraer, se entusiasma com a tendência de crescimento dos investimentos em inovação. "Às vezes as verbas até sobram, porque não há tantas ideias", destaca. Para o executivo da empresa que circula com frequência na carteira de pedidos da Finep, as companhias podem hoje usufruir de recursos para a pesquisa aplicada, com chances de inovar até mesmo em projetos que às vezes nem sabem quando efetivamente vão usar. Segundo ele, apesar do rigor na aprovação dos projetos - compreensível, diz, tratando-se de uma empresa que lida com recursos públicos - o tempo de liberação tem diminuído.

Curado sente, no entanto, no Brasil, a falta de sistemas mais simples, capazes de agregar, por exemplo, toda uma cadeia de fornecedores e pequenas empresas às gigantes, que normalmente conseguem crédito mais facilmente. "São aperfeiçoamentos que podem ser feitos, como se vê hoje no exterior", diz.

Para o presidente da Embraer, um movimento nesse sentido depende, sobretudo, de adaptações na legislação brasileira. "As leis brasileiras são menos flexíveis do que no exterior, o que dificulta nos casos em que uma empresa começa um projeto e no meio do caminho percebe que precisa de alguma alteração", diz. A simplicidade dos processos, acrescenta Curado, ajudaria o Brasil a se aparelhar para a "inovação em grande escala". Para ele, a democratização do acesso à pesquisa aplicada só tende a ajudar o país. "Porque inovação só serve se servir à sociedade."

Por Marli Olmos | De São Paulo - Valor

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

EMC investe em polo de pesquisas em universidade

Brian Gallagher, da EMC: foco na contratação do gerente-geral e de outros funcionários para o centro, cuja construção foi iniciada semana passada

A EMC Corporation, dos Estados Unidos, planeja concluir a construção de um polo de pesquisas no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, capital fluminense, até o primeiro semestre de 2013. A companhia prevê investir US$ 100 milhões no país nos próximos cinco anos, sendo que cerca de metade desse valor será destinada à construção -iniciada semana passada - e início da operação do centro de pesquisas. Está previsto também em contrato a aplicação de US$ 1,8 milhão por ano, nesse período, para o desenvolvimento da UFRJ e de projetos em parceria com o Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). O restante será empenhado para reforçar a capacidade de vendas, serviços e fabricação no país, por meio das parcerias com a Foxconn e com o Instituto El Dorado.

O terreno que abrigará o polo será alugado por 20 anos, com a possibilidade de renovação do contrato. A companhia - que atua na área de tecnologia da informação com foco no armazenamento de dados - não revela os valores negociados pelo imóvel.

O presidente da divisão de armazenamento de dados da EMC para empresas, Brian Gallagher, afirmou ao Valor que a companhia ainda não contratou ninguém para trabalhar no centro de pesquisa e desenvolvimento, nem mesmo o executivo que comandará as operações no Rio. "O foco principal agora é, obviamente, contratar o gerente-geral para as instalações, assim como outros funcionários-chave", explicou. "Nesta visita [ao Brasil] entrevistamos candidatos em potencial". Em novembro, a vice-presidente e diretora de tecnologia da companhia, Patrícia Florissi, disse ao Valor que estava difícil encontrar um executivo que aliasse o conhecimento acadêmico à experiência com o mundo das empresas. Para o quadro geral, deverão ser contratados 50 funcionários.

A EMC investe, em média, US$ 2 bilhões por ano em pesquisa e desenvolvimento no mundo. Além do centro no Rio, a companhia tem polo de pesquisas na Índia, na China, na Rússia e em Israel.

O polo de pesquisas no Rio será voltado principalmente para a aquisição, análise, colaboração e visualização de dados sísmicos gerados pela indústria de petróleo e gás. Será o primeiro da EMC direcionado a esse segmento. Segundo Gallagher, a EMC planeja abrigar nessas instalações um centro de pesquisa aplicada, laboratórios de soluções e um espaço dedicado a reuniões e conferências para executivos.

"Acreditamos que o que vamos fazer aqui poderá ser aplicado em outras indústrias como ciência e serviços de inteligência e de finanças", disse Gallagher. A EMC tem cerca de cem clientes no país, com destaque para a Petrobras.

Gallagher calcula que a companhia vai crescer 16% em 2011, comparado ao ano passado, com investimentos de US$ 19,8 bilhões em todo o mundo.

O vice-presidente da companhia, Joel Schwartz, afirmou que ao escolher o Rio para sediar o primeiro centro de pesquisas na América Latina, a EMC não olhou apenas a economia brasileira. Ele destacou a Copa do Mundo e a quantidade de contratos que precisam ser cumpridos até a data dos jogos: "É muito importante para nós estarmos prontos para atender o mercado da América Latina."

Por Marta Nogueira | Do Rio / Valor 13.12.2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

'Open innovation' desafia as empresas

Henry Chesbrough, da Haas School of Business da Universidade da Califórnia em Berkeley:
"Foi a prática cotidiana que me mostrou o caminho"

O site de uma das mais prestigiosas revistas científicas do planeta, a britânica "Nature", traz já há algum tempo uma série de desafios dentro de um programa de inovação aberta. São US$ 25 mil para quem apresentar um projeto capaz de reduzir custos de aplicação de vacinas para pólio em países de renda média ou baixa. O desafio foi postado no dia 10 de novembro e o prazo final para envio de propostas é 20 de janeiro. Um centro de pesquisas oferece US$ 10 mil para quem desenvolver linhas de células ou animais para pesquisas sobre cordoma, um tipo de câncer ósseo que raramente reage a quimioterapia ou radioterapia. Qualquer pessoa de qualquer parte do mundo pode participar. E os prazos para envio de propostas costumam mesmo ser reduzidos, variando de 3 a 6 meses. Rapidez é uma característica essencial da chamada open innovation, ou inovação aberta.

Esse modelo vem causando furor em alguns setores, principalmente porque reduz os custos de P&D para empresas e acelera a introdução e aceitação de inovações no mercado, já que é capaz de estar antenado com os desejos e necessidades do consumidor durante todo o processo. Pequenas e médias empresas, com poucos recursos para investir em P&D, também aparecem como beneficiárias desse modelo de gestão de inovação.

Além disso, abre as portas do mercado de trabalho para jovens com ideias criativas, mesmo que seus projetos ainda não estejam suficientemente maduros para decolar - a empresa que lança o desafio e acolhe a proposta se encarrega de viabilizá-lo. Especialistas reunidos em São Paulo para a 4ª edição do Open Innovation Seminar veem nessa nova forma de gestão da inovação uma alternativa viável para o Brasil, cujo crescimento econômico se ressente da crônica falta de investimento empresarial em P&D e da falta de mão de obra especializada.

"Foi a prática cotidiana que me mostrou o caminho", conta Henry Chesbrough, professor da Haas School of Business da Universidade da Califórnia em Berkeley, e criador do conceito de inovação aberta. Chesbrough trabalhava numa pequena empresa de informática, a Quantum, que conseguia competir com a poderosa IBM, detentora da patente de um sistema de disk drive que ela não vendia para a concorrência. A IBM, claro, tinha investido milhões na contratação de PhDs, na montagem de laboratórios de ponta e guardava ciosamente sua patente. O produto semelhante desenvolvido pela Quantum invadiu o mercado.

"A lógica da open innovation é darwiniana. Quem sobrevive, na natureza ou no mercado, não é o mais forte, mas aquele que melhor se adapta ao ambiente e o ambiente econômico hoje é o de mudanças e inovações aceleradas. Nesse novo ambiente, as empresas grandes, presas ao modelo convencional de P&D, se movem com a lentidão de um dinossauro pesadão", compara.

No modelo convencional, uma inovação que apareça no processo de pesquisa pode ser patenteada e encostada, porque não atende às prioridades da empresa. No modelo de inovação aberta, essa inovação é disponibilizada para aquelas que possam aproveitá-la eventualmente. Nesse tipo de gestão, a empresa integra recursos internos e externos tanto no P&D, como na colocação do produto no mercado, formando uma rede de inovação que pode incluir centros de pesquisa - inclusive de universidades - clientes, fornecedores, startups e até os concorrentes.

"O Brasil, por exemplo, tem uma oportunidade única no caso do etanol, mas ao invés de compartilhar essa tecnologia com outros países e efetivamente ser líder mundial num setor inovador, mantém o conhecimento para si. A abertura do conhecimento não é abrir mão dele, mas expandir sua liderança", exemplifica.

De acordo com Henry Chesbrough, o Brasil vive um momento econômico fantástico e tem uma oportunidade única para atrair a melhor tecnologia do mundo, absorvê-la e realmente ocupar uma posição internacional de destaque. "Este é o momento de correr risco, já que os países que tradicionalmente eram líderes mundiais não o são mais, estão mergulhados em crises econômicas. O que falta ao Brasil hoje é confiança no processo de inovação", afirma. O país, segundo ele, passou anos mergulhado no combate à inflação e investindo muito pouco em inovação, praticamente restrita ao ambiente acadêmico. "O que se percebe agora é um país com vastos recursos naturais e sem know-how, que precisa urgentemente de mais iniciativas e atividades no setor, algo que poderia receber forte incentivo governamental.


Por Ruth Helena Bellinghini | Para o Valor, de São Paulo

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Cinco empresários contam como ganham dinheiro com a inovação

Melhoria e desenvolvimento de novos processos e produtos, ajudou empresas a ganhar destaque no mercado

Um dos países mais empreendedores do mundo, o Brasil é também um dos menos inovadores. Segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), relatório que mapeia o nível de empreendedorismo de 59 países, o Brasil está em último lugar do ranking de inovação que analisa empresas com até 42 meses de vida.

Entre os problemas que geram esse cenário está a crença de que inovar está somente em criar algo totalmente novo, envolvendo grandes investimentos em tecnologia. No entanto, a inovação pode estar em ações simples que resultem na melhoria de processos, produtos e serviços de forma que a empresa ganhe competitividade frente à concorrência. “Não adianta fazer a mesma coisa que o concorrente, as empresas devem encontrar uma forma de se diferenciar”, diz o coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-EAESP, Tales Andreassi.


Foi o que fizeram os cinco empreendedores abaixo. Entre pequenas e grandes inovações, eles conseguiram fazer diferente e, com isso, ganhar espaço no mercado, mostrando que inovar pode ser bem menos complicado do que parece.

Augusto Cesar Neto, Aatag

No que depender dos sonhos de Augusto Cesar de Camargo Neto, de 36 anos, a palavra Aatag vai fazer parte do vocabulário de todo mundo em breve. Isso porque ele espera que, em um futuro próximo, cada pessoa carregue consigo o adesivo desenvolvido por ele para "digitalizar o mundo real". A inovação, consiste em um adesivo que pode ser colado no celular, no chaveiro ou onde quer que seja. Lá estarão armazenadas todas as informações sobre aquele consumidor, desde o e-mail até seus hábitos de compra.

Ao mesmo tempo, cada loja do mundo terá um leitor de dados capaz de capturar as informações contidas no adesivo do cliente. A invenção permitirá, por exemplo, que não seja mais necessário ditar o número de um CPF cada vez que o cidadão quiser pedir uma Nota Fiscal Paulista ou se cadastrar na entrada de um edifício comercial. “Também será possível passar por uma vitrine, gostar da roupa que está ali e dar seu e-mail para que a loja mande para a casa do consumidor o catálogo completo de sua coleção. Mas isso tudo sem perder tempo: bastará encostar o adesivo no leitor que fica instalado na fachada”, explica Neto.

Para as empresas, o grande benefício do adesivo da Aatag é a possibilidade de capturar dados sobre seus clientes de forma muito ágil. E para os consumidores, além da praticidade, a vantagem é usar suas informações como moeda de troca para conseguir benefícios das empresas. “O cliente poderá fazer uma seleção prévia dos dados que quer divulgar e só vai informá-los se a contrapartida que a empresa lhe der for interessante”, afirma Neto.

Os clientes não pagarão nada pelo adesivo. A receita da Aatag virá da venda dos leitores de dados e da gestão das informações dos clientes. Como a tecnologia RFID é barata, estima-se que o leitor possa custar cerca de R$ 20 – o que ampliaria¬ as chances da Aatag espalhar os leitores por aí.

Rafael Cordeiro, Enox

Os amigos e publicitários Bernardo e Ernesto Villela, Gustavo Gasparin e Rafael Cordeiro iniciaram, há oito anos, a operação da Enox, pioneira e líder no mercado de mídia indoor. Inicialmente uma agência de propaganda, a empresa não teve sucesso na concorrência com empresas maiores, o que fez com que os sócios percebessem em poucos meses a necessidade de inovar.

Decidiram, então, que em vez de atuar na criação, se tornariam prestadores de serviços para outras agências.O plano era simples: colocar painéis com peças publicitárias em banheiros de bares e, assim, criar uma nova maneira das empresas se comunicarem com seu público. Com um investimento de R$ 20 mil (R$ 5 mil por sócio), desenvolveram um modelo de painel feito em acrílico e colocaram dentro um cartaz anunciando a própria empresa.

A peça foi instalada no banheiro de um bar em Curitiba, no Paraná, e em uma semana ganhou fama. Logo vieram os clientes e outros modelos de ação, como cardápios patrocinados e campanhas em televisores instalados dentro de lojas e outros pontos de venda. “Nós criamos uma nova indústria, a da mídia de contato, baseada não no conteúdo, mas nas pessoas e lugares onde elas estão.”

Hoje a Enox cresce a um ritmo de 35% ao ano e busca a solução para o mais novo desafio da empresa: descobrir como agregar novas tecnologias ao negócio.

Waldomiro José Fernandes, Versax

Com um produto muito simples em mãos, o engenheiro Waldomiro José Fernandes montou, em 2008, a empresa Versax. Ele desenvolveu um dispositivo que deve ser encaixado entre a lâmpada e o soquete. A rosquinha de quatro centímetros de diâmetro garante que com um toque no interruptor comum seja possível controlar a intensidade da luz, cuja luminosidade poderá variar de 5% a 100%.

A mágica está, justamente, dentro dessa rosquinha. Ela contém um software e funciona como um dímer - com a vantagem de nenhuma parede precisar ser quebrada para instalação. Com o produto, a Versax conquistou grandes clientes, como Tok & Stok e Center Castilho. "O meu trunfo foi ter algo diferente para apresentar aos varejistas", constata Fernandes.

Como a produção é quase artesanal, a Versax vendeu só 6 mil peças em um ano e meio, faturando cerca de R$ 100 mil. Mas para atingir a meta de 1 milhão de peças produzidas por ano, Fernandes decidiu terceirizar a fabricação e as vendas, mas não a tecnologia.

Ismael Akiyama, da Akiyama

A Akiyama, empresa especializada em identificação civil e criminal por meio da biometria, faz parte do pequeno grupo de empresas que já está lucrando com a Copa de 2014. Fundada em 2005 com um investimento de apenas R$ 72 mil, a companhia desempenha atualmente um papel importante no esquema de segurança que o governo federal adotará durante os jogos da Copa. Afinal, é dela a tecnologia usada no projeto “Torcida Legal”.

O programa pretende proibir a entrada nos estádios de torcedores que participaram de algum ato violento em jogos de seus times ou cometeram outros tipos de infrações, como a venda de ingressos falsos. Mas, para barrá-los, o governo precisará utilizar um método de identificação rápido e seguro, já que exigir a apresentação de documentos na entrada dos estádios seria inviável.

Akiyama resolveu esse problema ao inovar e usar a tecnologia para padronizar a coleta de dados por meio da biometria. Com processos informatizados, a identificação poderá ser feita em escala, sem a necessidade de acompanhamento de um perito, com custos mais baixos e de forma mais rápida.

A empresa fechou em 2009, um contrato com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a compra de 1,4 mil máquinas, usadas no recadastramento de eleitores. Foi por meio do projeto para o TSE que a empresa conseguiu pontos na hora de conseguir o contrato do Torcida Legal. A venda de 300 equipamentos para o Ministério do Esporte, além da prestação de serviços de assistência técnica e do treinamento de funcionários, rendeu à Akiyama R$ 3 milhões. O valor corresponde a cerca de 10% do faturamento alcançado pela empresa em 2010 (R$ 29,5 milhões).Hoje a empresa de Ismael cresce em um ritmo de 100% ao ano.

“Nós já identificamos outras oportunidades de negócios com o governo”, afirma o empresário. Atualmente, ele trabalha também no desenvolvimento de outros softwares para monitoramento das torcidas nos estádios brasileiros.

Ely Behar, U/Racer

Ele levou o estilo de vida dos autódromos para o shopping center. Ao apostar no potencial de mercado por trás dos 7 milhões de fãs de automobilismo no Brasil, o empresário Ely Behar criou um modelo de negócio inovador, que em pouco mais de um ano e meio de existência já cresceu 200% e deve fechar 2011 com faturamento até três vezes maior do que o R$ 1 milhão registrado no ano passado.

Com uma loja virtual e duas físicas, a U/Racer reúne artigos para pilotos - luvas, capacetes e macacões - e produtos para fãs do esporte, como camisetas, bonés e até roupas para bebês. “Antes, esses produtos só eram vendidos em eventos de automobilismo, mas com o sucesso das vendas nas lojas, as marcas oficiais já estão até aumentando o investimento nas linhas de produtos para fãs”, conta Behar.

O modelo é pioneiro no Brasil e agradou justamente pelo apelo com o público masculino. Atualmente, 50% do faturamento vem dos artigos para os fãs. “Nós temos boa aceitação para entrar nos shoppings porque conseguimos resolver o maior problema deles, que é atrair os homens”, explica o empresário.

Hoje, a U/Racer é distribuidora oficial de marcas importantes como Ferrari, Sauber e McLaren, e recebe investimento de um fundo. O próximo passo da empresa, releva Behar, é expandir a operação por meio de franquias e, dessa forma, ter 35 lojas da marca até 2015. Desse total, pelo menos dez devem ser inauguradas até o ano que vem, propiciando um faturamento de R$ 10 milhões. “O foco é em cidades com mais de 250 mil homens das classes A e B, o público do negócio”, explica o empreendedor.

Alex Silva/AE

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pequenas querem vender mais para governo

Há 18 anos no ramo de material de construção, o empresário Ricardo Rocha, de Três Rios (RJ), está montando em sua empresa uma área especializada na triagem de licitações. A ideia nasceu após a participação no programa Compra Mais, recém-criado pelo Sebrae-RJ e o governo do Rio, com o objetivo de ampliar a participação das micro e pequenas empresas nas compras públicas. Apesar de responder por 99% dos empreendimentos e empregar mais de 60% da mão de obra do país, o segmento detém apenas 28% das compras feitas pelo governo federal. A baixa participação se repete na administração de estados e municípios.

"Aprendi a participar de pregões on-line e vou contratar uma pessoa só para monitorar oportunidades nas concorrências. Espero elevar em 25% meu faturamento vendendo para o estado e prefeituras das redondezas", diz Rocha, dono da rede Império da Construção.

Capacitação para empresários e gestores

O programa envolve empresários, mas também gestores públicos. O objetivo é conscientizá-los da importância de aumentar as compras de pequenos empreendedores para desenvolver a economia local e divulgar o capítulo cinco da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que trata especificamente de compras governamentais. Ele estabelece vantagens para o segmento nos pregões - como a preferência em caso de empate e exclusividade em licitações de até R$80 mil - mas só vale se regulamentado por lei estadual e municipal.

"É preciso normatizar para não ficar preso à Lei 8.666 (das licitações) e poder dar tratamento diferenciado às pequenas. No Rio, 75 dos 92 municípios já fizeram isso", diz Cezar Vasquez, diretor-superintendente do Sebrae-RJ.

A meta até o fim do programa, em 2013, é superar a média de 30% e caminhar para que 50% da demanda do estado e de municípios fluminenses seja suprida por micro e pequenos fornecedores. Só o governo do estado movimenta R$8 bilhões por ano em compras. Para coroar o programa, que deve ser replicado em todo o Brasil, será realizada uma grande rodada de negócios nacional. Batizada de "Fomenta", ela já ocorre ao fim de cada capacitação regional.

Em seu primeiro mês de vida, o Compra Mais capacitou 280 empresas e agentes públicos da região Centro-Sul fluminense. Entre outras coisas, eles foram apresentados às exigências burocráticas das compras públicas e aprenderam a operar sistemas de compras on-line, como o SIGA, adotado pelo governo do Rio. Agora, segue para a região do Médio Paraíba.

Grandes eventos vão aquecer do setor público

Dona de uma confecção de uniformes em Petrópolis, Luciane Melo se antecipou à chegada do programa à Região Serrana e participou do programa do Centro-Sul. A empresária nunca tinha disputado uma licitação, mas agora já tem todas as certidões necessárias e inscrições no Petronet, Comprasnet e SIGA, sistemas de compras online de Petrobras, governos federal e estadual. Ela aposta que eventos como a Copa do Mundo vão aumentar a demanda do setor público para seu produto e já estuda ampliar sua capacidade de produção de 40 mil para 60 mil peças por mês.

"Este ano vencemos quatro concorrências e espero chegar a dez em 2012. Tinha dificuldade para me organizar. As exigências são diferentes e variadas de acordo com a licitação", diz Luciane.

(Fonte: O Globo - 18/11/2011)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O reequilíbrio da inovação



A riqueza das nações vem se reordenando a alta velocidade. A atual crise dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o avanço das economias emergentes acelera a reordenação do mapa econômico mundial. Há, no entanto, outra revolução silenciosa em andamento: o reequilíbrio da inovação, em direção aos países emergentes.

A inovação, em particular a empresarial, até pouco tempo atrás era uma história mais voltada ao Ocidente. As multinacionais dos países da OCDE concebiam, produziam e comercializavam os produtos inovadores. Pouco a pouco, instalou-se outro modelo: a inovação continuava sendo concebida no Ocidente, mas cada vez mais era produzida nos países emergentes. É o modelo da Apple com seus iPods e iPads, em parte, produzidos em Taiwan, Coreia do Sul ou China. Agora, estamos vendo emergir um terceiro modelo no qual a inovação, crescentemente, não é mais apenas produzida e comercializada, mas também concebida nos mercados emergentes.

Esse deslocamento provoca uma reordenação acelerada das listas de classificação das maiores empresas do mundo. A lista mais recente das cem maiores empresas de tecnologia do mundo elaborada pela "Bloomberg" e "Businessweek" mostra que 44% são de países emergentes. Mais do que isso, uma delas, a chinesa BYD, lidera a classificação, pela primeira vez, à frente da Apple. Depois da empresa dos EUA, vem outra multinacional chinesa, a Tencent, uma empresa de internet que já é a terceira maior do mundo em valor de mercado, apenas atrás do Google e Amazon, e logo à frente da Baidu, também da China. Entre as dez maiores empresas de tecnologia ainda há duas indianas (Tata Consultancy e Infosys). Chama a atenção o fato de nenhuma ser europeia. Multinacionais de Cingapura, Taiwan ou Brasil despontam em quantidades superiores às escassas alemãs, belgas ou inglesas que conseguiram invadir a lista.

Os EUA ainda são o país com mais empresas listadas na Nasdaq (404), mas o segundo lugar é de um emergente, a China, com 37. Logo atrás, outro emergente, Israel (27). A China tem mais que o triplo de empresas de tecnologia listadas na bolsa do que toda a Europa (11).

As classificações das empresas de tecnologia mais importantes ou inovadoras, realizadas pelo Boston Consulting Group e pela revista "Forbes", contam a mesma história: a Tencent encabeça o ranking das dez maiores da empresa de consultoria, no qual também fazem parte a taiwanesa Mediatek, a mexicana América Móvil, a China Mobile, as indianas Bharti Airtel e Infosys e a sul-africana MTN. Na lista das dez primeiras da revista, além da Tencent (novamente à frente da Apple e Google), também estão a Natura Cosméticos e a indiana Bharat Heavy.

O fenômeno é maciço e abrange todos os setores. Em 2011, a principal fornecedora para a indústria de telecomunicações deixou de ser dos EUA, França ou Suécia: é da China. A partir de Shenzhen, ao lado de Hong Kong, a Huawei chegou à liderança arrebatando as posições da Alcatel e Lucent (que se viram forçadas a promover fusão) e, mais recentemente, da Ericsson. A sul-coreana Samsung encabeça o ranking de 2011 de maior receita mundial no setor de tecnologia, à frente da Hewlett-Packard (HP), dos EUA. Em 2010, a empresa investiu mais em pesquisa e desenvolvimento do que Intel, Google ou Cisco. O sistema de pagamentos na internet do site chinês Alibaba já é o maior do mundo em termos de valor das transações: a empresa de comércio eletrônico, na qual o fundo californiano Silver Lake acaba de entrar, tem valor de mercado de US$ 32 bilhões, quase o dobro da capitalização do Yahoo (dono de cerca de 40% do Alibaba).

O Brasil é um dos países em que mais se usam redes de relacionamento social na internet, como Twitter, bem à frente dos EUA. O serviço de bate-papo virtual da Tencent possui quase 700 milhões de pessoas registradas, equivalente a todos os usuários do Facebook. A velocidade do fenômeno chama a atenção: tudo isso ocorreu em menos de dez anos.

O mundo da internet tradicionalmente é dominado por multinacionais dos Estados Unidos. A Tencent, entretanto, já exibe capitalização de mercado de US$ 45 bilhões, à frente da eBay e Yahoo. Em Moscou, o russo Yuri Milner vem revolucionando as regras dos capitais de risco para o setor digital, dominado até agora por fundos californianos. Sua Digital Sky Technologies (DST) é dona da mail.ru, listada na Bolsa de Valores de Londres com valor superior a US$ 8 bilhões. Seu fundo de capital de risco é um dos poucos que possui participações no Facebook, Zinga e Groupon.

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A chinesa Tencent (que possui 10% da DST e comprou empresas iniciantes, como a Riot Games, dos EUA, por US$ 400 milhões) lançou também seu fundo neste ano, o Tencent Industry Win-Win Fund, com US$ 760 milhões, para ampliar a compra de empresas em fase inicial de operações. Por sua parte, o conglomerado chinês Alibaba Group Holdings lançou o seu por meio da filial Taobao, com US$ 46 milhões. A Legend Capital, por sua parte, proprietária em parte da Lenovo (na qual possui participação de 42%) levantou outro fundo tecnológico, com €500 milhões, neste ano. Em Cingapura, a Singtel, operadora de telecomunicações, criou em 2011 seu fundo de capital de risco, com mais de US$ 250 milhões, para também expandir as compras de empresas de tecnologia com projetos iniciantes.

Todas essas iniciativas mostram, caso ainda seja necessário, quanto os países emergentes asiáticos vem apostando para ganhar um lugar cada vez maior no mundo do capital de risco e de fornecimento de capital inicial para novas empresas.

Em 2011, os EUA ainda são o país com mais empresas listadas na Nasdaq (404), mas o segundo lugar já é ocupado por um país emergente, a China, com 37. Logo atrás, outro emergente, Israel (com 27). A China tem mais que o triplo de empresas de tecnologia listadas na Nasdaq do que toda a Europa (apenas 11).

O fenômeno não é exclusivamente asiático. O caso da Naspers, multinacional sul-africana do mundo digital, é emblemático: a empresa obtém mais de 70% de sua receita no continente africano, mas multiplicou as aquisições nos mercados emergentes. Possui participação de 45% na Tencent, que comprou em 2011 e já se valorizou mais de 3.100%. Também investiu na russa mail.ru (US$ 390 milhões) e possui 91% da brasileira Buscapé (que comprou por mais de US$ 390 milhões). No Leste Europeu, comprou a Tradus por mais de US$ 1 bilhão em 2008. Atualmente, a Naspers é uma das maiores investidores em empresas em fase inicial de operações em emergentes. Está presente em 129 países e tem receita em torno a US$ 4 bilhões e 12 mil funcionários.

Esses exemplos refletem as alterações do mundo em que vivemos. No futuro, esses grupos e países ganharão lugar (cada vez maior) em todos os âmbitos e setores, incluindo os de tecnologia e de maior inovação. Essa talvez seja uma razão a mais para interessar-se e estar presente nessas economias, onde já não apenas se produz e comercializa inovação, mas também se cria, algo que até agora era exclusividade dos países da OCDE. (Tradução de Sabino Ahumada)

por Javier Santiso, professor de economia na Esade Business School
Valor 18.11.2011

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Política industrial, inovação e compras governamentais

Desde o lançamento da nova política industrial, "Brasil Maior", pela presidente Dilma Rousseff, no dia 2 de agosto, muito tem-se discutido sobre os possíveis impactos de atrelar o poder de compras do Estado ao desenvolvimento produtivo e tecnológico no país. Há também um outro debate em torno desse tema, referente à necessidade de se revisar o principal marco legal que regulamenta as compras governamentais: a Lei nº 8.666, de 1993, para que haja a possibilidade de escolha nas aquisições de certos bens e serviços pelo governo baseadas não apenas no menor preço.

A dimensão das compras governamentais no Brasil certamente legitima as propostas de se alavancar uma política industrial e tecnológica, premiando empresas que estejam alinhadas com os objetivos estratégicos do país. Foi com esse objetivo que, em dezembro de 2010, foi aprovada a Lei nº 12.349, alterando a Lei nº 8.666, de forma a permitir margens de preferência para bens e serviços nacionais em processos licitatórios. Entre os critérios previstos pela nova lei para possibilitar a margem de preferência, inclui-se o desenvolvimento e inovação tecnológica no país. Um outro mecanismo para promover inovação tecnológica por meio das compras públicas são as chamadas "encomendas tecnológicas", estabelecidas no Brasil pelo artigo 20 da Lei de Inovação (Lei nº 10.973 de 2004).

Programa deve premiar as empresas que estejam alinhadas com objetivos estratégicos do país

Apesar da existência prévia ao lançamento do "Brasil Maior", da possibilidade de serem feitas encomendas tecnológicas e das margens de preferência para produtos nacionais em licitações na legislação brasileira, não era possível a utilização desses mecanismos dada a inexistência de uma regulamentação. Vale destacar que, além de tratarem de temas sensíveis por envolverem o uso de dinheiro público, há também dificuldade técnica em definir os parâmetros que tornam uma empresa, produto ou serviço aptos a usufruírem desses benefícios. Essa dificuldade fica bastante evidente pelo desafio em definir critérios básicos como "produto nacional" ou "inovação tecnológica".

Não obstante a essas dificuldades, o Projeto "Brasil Maior" elencou o destravamento do uso desses mecanismos como um de seus principais pilares. Passadas já algumas semanas desde o lançamento dessa nova política industrial, continua bastante obscuro como será feita a instrumentalização desses dois mecanismos (regulamentados pelos Decretos nº 7.539 e nº 7.546).

A começar pela margem de preferência para produtos e serviços nacionais. Em primeiro lugar, a regulamentação não definiu o que é um "produto nacional". Foi criada uma Comissão Interministerial para definir os parâmetros e critérios, conforme o setor. Ainda que a definição siga os padrões estabelecidos pelas Regras de Origem do Mercosul, diversos segmentos terão extrema dificuldade em cumprir com essa regra de origem, podendo tornar a política inócua, dado que não haverá empresas brasileiras aptas a produzirem "produtos nacionais" com o grau de conteúdo local exigido.

Há ainda a questão de onde sairão os recursos necessários para cobrir o custo adicional aos cofres públicos. Isso é crítico em um momento em que são feitos esforços de ajustes fiscais no país. Algumas áreas do governo, com destaque para o Ministério da Saúde, já trabalham com orçamentos extremamente achatados, não deixando margens para o desenvolvimento de política industrial e tecnológica com os seus recursos. O debate em torno da Regulamentação da Emenda 29 e a necessidade em se criar novas fontes de financiamento para a saúde parecem de certa forma contraditórios ao que se almeja com o "Brasil Maior".

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Na questão das encomendas tecnológicas, o desafio está em definir o grau de inovação que o bem ou serviço deverá incorporar para poder ser "encomendado" pelo Estado. As áreas de excelência em que as empresas brasileiras efetivamente têm capacidade de desenvolver inovações radicais são restritas. Ainda que o mecanismo permita encomendas para o desenvolvimento de inovações incrementais, o universo de setores que poderão ser atendidos pelas empresas brasileiras continuará restrito. Tendo em vista essas dificuldades, há segmentos que defendem uma ampliação do conceito de inovação, a fim de permitir que empresas que passem a produzir no país tecnologias já existentes no exterior também possam ser beneficiadas pelo instrumento de encomendas tecnológicas.

Enquanto o destravamento desses mecanismos não se viabiliza, alguns mecanismos menos institucionalizados para atrelar o desenvolvimento industrial e produtivo ao poder de compras do Estado vêm sendo utilizados. Um desses mecanismos são as chamadas Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) (também chamadas de PPPs), envolvendo empresas do setor de saúde e laboratórios públicos.

Por meio dessas parcerias, os laboratórios públicos compram transferência de tecnologia atrelada ao fornecimento de produtos de empresas privadas. Até que se concretize a transferência tecnológica, o laboratório público fornece o produto fabricado pela empresa privada para o Sistema Único de Saúde (SUS), sem que haja a necessidade de licitação (como entidades públicas, esses laboratórios estão dispensados de seguir os trâmites licitatórios).

Há um grande potencial nessas políticas, mas é uma utopia imaginar que elas poderão alavancar todos os setores do país. É importante que haja uma priorização de segmentos para os quais devem ser canalizados os recursos públicos, tendo em conta a competitividade internacional das cadeias (incluindo a produção científica e acadêmica), o potencial de inserção externa dos bens e serviços, o custo para os cofres públicos frente a ofertantes internacionais, entre outros critérios. Onerar as compras de governo sem que haja critérios bem definidos é fazer mal uso dos recursos públicos.

por Ricardo Camargo Mendes / sócio da Prospectiva Consultoria
Valor 17.11.2011

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O abridor de saches

Leopoldo Almeida, inventor do Khort: abridor de sachês criado pelo carioca vende 40 mil unidades por mês no Brasil e começa carreira internacional

O carioca Leopoldo Almeida inventou o abridor de sachês em 2007. Teve a ideia quando o garçom de uma lanchonete fez a gentileza de abrir com uma tesoura os saquinhos de ketchup que acompanhavam seu hambúrguer. Em 2009, depois de uma peregrinação por lanchonetes do Rio - da qual veio a confirmação de que ele não era o único a considerar a tarefa de abrir um saquinho de molho um exercício de paciência e um teste de vigor dentário - e pela fábrica da Bom Sabor, que produz 150 milhões de sachês de 8 gramas por mês, batizou a criação de "Khort" e se lançou no mercado. Em janeiro de 2010, vendeu duas mil unidades do produto. Em junho, eleita a melhor invenção das Américas na Inpex, a maior feira de inovações dos EUA, foram 18 mil; em setembro, 100 mil. Neste ano, a empresa tem distribuído 40 mil abridores por mês no Brasil (vendidos ao consumidor final por um preço médio de R$ 5,50) e começa sua carreira internacional. A projeção de faturamento para 2011 é de R$ 2,4 milhões, 60% a mais do que no ano anterior. Almeida fala dos últimos meses entre gargalhadas ritmadas, longas. Pede desculpas por estar sendo "despojado demais" durante a entrevista e diz que, quando inventou o produto, estava desempregado. Pediu dinheiro emprestado à irmã para pagar a pesquisa de mercado, leu toda a legislação sobre patente porque não podia gastar com advogado, arrendou 50% do negócio para a fábrica em Duque de Caxias que produz o abridor para ter capital inicial. "Fiz o primeiro protótipo com canaleta para fio e uma lâmina de barbear", conta.

Era uma vez I Em fevereiro de 2010, Almeida fez a patente internacional do Khort. Investiu R$ 150 mil para começar a produzir nos Estados Unidos, em uma planta terceirizada em Ohio. Sua versão americana, o Slip'n Cut, vendeu 8 mil unidades até dezembro de 2010. À procura de um sócio lá fora, ele acredita que o mercado americano tem um grande potencial para o seu produto, especialmente para uso doméstico. "Lá existe uma variedade maior de produtos em sachê, de molho para saladas a iogurtes em bastão". Neste mês, o Slip'n Cut entra na programação da DRTV (espécie de Polishop) em quatro Estados. "É aquele tipo clássico de propaganda de produto desses canais, em que sempre tem um 'but wait!' no meio do filme", brinca. Almeida tem um pedido de 50 mil peças da Índia e, até dezembro, começa a distribuir também para Canadá e México. O próximo passo, afirma, é entrar no mercado europeu.
Valor 28.10.2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Integrar instituições e criar caminhos para a inovação

Poucos são os termos capazes de sintetizar de forma simultânea o abstrato e o concreto para dar fuga ao que foi feito ou ao que deveria ter sido como o da inovação. Não há um único jornal diário ou revista de negócios que não traga diariamente o mantra da necessidade de inovar para melhorar o que se faz ou para justificar o que foi feito e cujos resultados não foram tão bons assim. Esse artigo não vai fugir a essa regra.

Na indústria, a inovação passou a ser fim e meio na incessante busca por melhores condições competitivas. O Brasil tem mostrado um protagonismo importante na América Latina, desde o começo dos anos 2000, ao criar e aperfeiçoar ações em prol da incorporação das atividades de inovação entre os principais atores do chamado sistema nacional de inovação.

Todo o arsenal disponibilizado nas economias avançadas foi criado aqui tais como as leis de inovação e de incentivos fiscais, instrumentos de apoio e fomento a empresas, universidades e centros de pesquisas a partir de recursos públicos ou de iniciativas público-privadas. Do lado do governo, o reconhecimento público da importância do tema vem sendo confirmado pelas sucessivas edições da Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia. A indústria, por sua vez, firmou publicamente em 2009 o seu compromisso com o lançamento do Manifesto pela Inovação nas Empresas liderado pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) em associação com empresários industriais.

Parte da indústria no Brasil ainda negligencia os conhecimentos gerados no âmbito da própria empresa

As condições institucionais, pelo menos em teoria, estão dadas, ainda que ajustes pontuais sejam necessários como o número de empresas beneficiadas pela Lei do Bem ou maior clareza e ciência dos instrumentos já existentes. No entanto, a complexidade da economia brasileira aliada às incertezas, custos e riscos em torno da inovação, que exigem a priori uma mudança cultural no empresário e no empreendedor, tem levantado dúvidas com relação à incorporação do tema na prática. Informações da Pintec (Pesquisa de Inovação Tecnológica) mostram que a maioria das empresas inovou internamente e não para o mercado nacional, ressaltando pequeno esforço voltado para a geração de tecnologias inéditas e a incessante corrida para alcançar os líderes do mercado.

Esse resultado é preocupante, e em certa medida desanimador. Mostra que parte da indústria brasileira ainda elege como estratégia competitiva a busca por conhecimentos e tecnologias produzidos por outros agentes, negligenciando seu próprio papel na obtenção de vantagens competitivas oriundas da capacidade de mesclar conhecimentos complementares: aqueles gerados internamente, no âmbito da própria empresa, com aqueles disponíveis no mercado e de apropriação econômica.

A persistência desse cenário se deve em parte à falta de um sistema integrado que torne o ambiente mais favorável à inovação. Ainda que a indústria se configure como o principal agente do processo inovativo, este não é exequível sem o apoio de outras instituições que constituam um sistema formado por produção de conhecimento, incentivos institucionais e financiamento às atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Dentre os atores desse sistema destaca-se a universidade, responsável pela produção de conhecimento científico e formação profissional. Em países desenvolvidos como os Estados Unidos e Alemanha, observa-se uma cumplicidade entre a esfera científica e a tecnológica. Grande parte das universidades, desde sua fundação, prioriza em suas atividades a economia local e atendem à necessidade do meio em que está inserida. Desenvolveu-se um relacionamento de apoio mútuo entre universidade e indústria que assegura a competitividade e forma grandes pólos de produção de tecnologia, como o tão conhecido Silicon Valley na Califórnia (berço da Apple, Google, Hewlett-Packard, Intel, dentre outras).

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No Brasil, por sua vez, ainda não há um relacionamento estreito entre essas duas esferas institucionais. As relações existentes se mostram imediatistas e esporádicas e não possuem lastro em um processo de retroalimentação. A Pintec mostra que 10,4% das empresas que implementaram inovações o fizeram em projetos cooperativos e 36,3% desses foram com universidades e/ou institutos de pesquisa. A fragilidade dessas conexões prejudica a consolidação do sistema e por extensão compromete o desenvolvimento econômico e social, como já se observa em algumas cidades que até poucos anos eram símbolo da exuberância empresarial e hoje estão tentando encontrar sua identidade frente à dinâmica imposta pelo vigor da concorrência global.

A grande lição é que o termo inovação, assim como sua própria execução prática, pode traduzir fragilidades estruturais e uma infinidade de relações indiretas que vão muito além da criação de políticas e incentivos institucionais. A criação de ferramentas que viabilizem na prática o diálogo entre as universidades e a indústria tem se mostrado o pilar central do perfil e dos condicionantes do esforço brasileiro numa perspectiva já no médio prazo. E, nesse contexto, evitar a descontinuidade de políticas, que impedem o investimento contínuo e deixam as empresas à mercê de interesses não econômicos, deve ser a diretriz orientadora para os membros desse sistema.

A cooperação entre universidade e indústria não acontece repentinamente, nem é imposta, é preciso criar uma relação de confiança, formar competências, concentrar esforços em aprendizado nos agentes, e acima de tudo, entender as necessidades e interesses de cada uma das partes envolvidas nesse relacionamento. É um trabalho intenso, penoso e de longo prazo!

Por Vanderléia Radaelli e Hérica Morais Righi

Vanderléia Radaelli é especialista em Ciência e Tecnologia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), economista e doutoranda em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Hérica Morais Righi é professora assistente da Fundação Dom Cabral, economista e doutoranda em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Criatec, fundo do BNDES para micro e pequenas empresas inovadoras, encerra em novembro período de investimento



O Criatec, fundo para micro e pequenas empresas inovadoras desenvolvido pelo BNDES, encerra no próximo mês de novembro seu período de investimento. Até lá, todas as metas estabelecidas para os quatro primeiros anos terão sido alcançadas e, com isso, pelo menos 36 empresas nascentes de variados setores e regiões do País terão acessado o capital semente.

Em conformidade com o planejamento original, a partir do próximo mês terá início o ciclo de desinvestimento, com duração prevista até novembro de 2017. Nessa fase, a preocupação dos gestores do Criatec se deslocará da prospecção de empresas para a aceleração dos negócios.

O patrimônio comprometido do Fundo é de R$ 100 milhões, 80% subscritos pelo BNDES e 20% pelo BNB, sendo que, por estratégia de construção do portfólio, parcela desses recursos (R$ 20 milhões) foi reservada para a efetivação de novos aportes em empresas já investidas. Assim, além do aporte inicial de até R$ 1,5 milhão, as companhias que estiverem com desempenho acima da média poderão receber, na fase de aceleração, novos investimentos até o teto de R$ 3,5 milhões.

Capital semente – O Criatec é uma bem-sucedida iniciativa do BNDES envolvendo capital semente. A atuação do Banco nesse nicho é fundamental, tendo em vista a preferência dos investidores privados por fundos de menor risco, como os de venture capital e private equity.

Diversos fatores explicam o êxito da iniciativa em sua primeira etapa. A bem desenhada estrutura de governança é um deles. A administração foi entregue a um gestor nacional, o consórcio Antera-Inseed, que, por contrato, selecionou gestores regionais nos Estados de atuação do fundo: Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará e Pará.

Tais gestores foram selecionados nos próprios sistemas locais de inovação. A estratégia de construção do portfólio, por sua vez, seguiu diretrizes bastante claras no sentido de garantir a distribuição do investimento em termos regionais, setoriais e por estágio de crescimento das empresas.

Para atender a essa última exigência, as companhias foram classificadas em quatro categorias: prova de conceito (sem faturamento), decolagem (faturamento anual de até R$ 1,5 milhão), expansão (faturamento anual entre R$ 1,5 e R$ 4,5 milhões) e late seed (faturamento anual entre R$ 4,5 e 6 milhões)
BNDES 20.10.2011

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Inovação em baixa na área de agroquímicos

Pulverização de defensivos em lavoura no Japão, onde há pouco espaço para a agricultura: a "era dourada" dos agroquímicos deu-se nas décadas de 80 e 90
Como os químicos gostam de nos recordar, a química é onipresente. Tudo é feito de elementos químicos e as versões naturais não são necessariamente mais saudáveis que os compostos sintéticos. O mundo está repleto de substâncias naturalmente tóxicas e cancerígenas.

A química - e em particular os defensivos e fertilizantes que a ciência produz - é um dos três pilares que sustentaram o assombroso aumento da produtividade agrícola. Os outros dois são a biologia, cujas pesquisas levaram a variedades de cultivos de maior rendimento, e a engenharia, que permitiu a agricultores semear, arar, irrigar e colher de forma mais eficiente.

Os produtos agroquímicos podem ser divididos em dois grandes grupos: os fertilizantes, que dão às plantas os nutrientes essenciais e têm como base o nitrogênio, fósforo e potássio; e os defensivos, que protegem as plantas de ervas daninhas, insetos e doenças de fungos.

Apesar do fato de que a agricultura moderna provavelmente morreria sem os adubos, há muito mais inovação no setor de defensivos - que cientificamente é bem próxima à indústria farmacêutica - do que nos fertilizantes, cujos produtos são mais commoditizados.

A avaliação anual realizada pela consultoria britânica Agranova calcula que o mercado mundial de defensivos agrícolas movimentou US$ 40,7 bilhões no ano passado, sem muita variação em relação aos valores em termos reais, ajustados pela inflação, dos últimos dez anos.

Entre as empresas líderes do segmento estão a Syngenta, Bayer, Basf, Dow e Monsanto.

Os herbicidas (que matam ervas daninhas) ainda dominam a maior parte do mercado (US$ 17,5 bilhões), embora sua participação esteja caindo em relação aos fungicidas e inseticidas (cerca de US$ 10,6 bilhões cada um).

Quanto à distribuição regional das vendas de agroquímicos, a análise da Agranova mostra uma divisão bastante equilibrada ente América do Norte, Europa, Ásia e América Latina, com cada região registrando entre 22% e 24% de participação.

No que ser refere aos tipos de colheita, o plantio de frutas e vegetais é responsável por uma parcela surpreendentemente grande do mercado agroquímico: US$ 13,2 bilhões, o que representa 32,3%. Em comparação, os cereais, como o trigo e a cevada, ficam com 15,6% do mercado total; a soja, com 10,4%; o arroz, com 9,1%; e o milho, com 8,4%.

Lançar agroquímicos (defensivos ou fertilizantes) no mercado tornou-se muito mais caro, uma vez que a desconfiança pública em relação à indústria química ficou maior, diz Rob Bryant, chefe da Agranova.

Ao mesmo tempo muitos produtos mais antigos foram retirados de circulação porque os custos para cumprir a regulamentação necessária e para mantê-los no mercado é alto demais. Isso levou a algumas "lacunas" nas opções de tratamento, especialmente, para culturas menores.

A era dourada dos agroquímicos, em termos de novos ingredientes químicos chegando ao mercado, deu-se nas décadas de 1980 e 1990. O ritmo de lançamentos na primeira década do século XXI foi a metade do registrado nos anos 90.

"Continua havendo demasiada ênfase nas principais colheitas, guiada pela necessidade de recuperar os custos com obstáculos regulatórios cada vez maiores e com a diminuição no sucesso com as inovações", disse Bryant.

Além dos produtos agroquímicos, há várias formas por meio das quais a química vem contribuindo para melhorar a produção e teor nutritivo dos alimentos e reduzir a poluição ambiental. Um bom exemplo é a colaboração entre a Novozymes, da Dinamarca, e a DSM, da Holanda - duas empresas inovadoras de especialidades químicas - para reduzir a quantidade de fosfato nas rações.

Grandes quantidades de fosfato, uma matéria-prima de oferta limitada, são desperdiçadas em alimentos para aves e porcos, pois os animais não as metabolizam com eficiência e acabam eliminadas nos excrementos, provocando a poluição das águas.

A solução é agregar a enzima "fitase", aperfeiçoada, à ração. Isso possibilita melhor aproveitamento do fosfato pelos animais.

Ao mesmo tempo, a química continua a ter grande impacto no pilar biológico da produção de alimentos, ao ajudar a esclarecer a estrutura molecular das plantas - sinalizando, portanto, novas formas para aperfeiçoamento das culturas. Neste mês, por exemplo, uma colaboração entre a Edinburgh University e a Syngenta divulgou uma importante descoberta sobre o sistema imunológico das plantas, na revista científica "Nature".

Um dos mecanismos de defesa de uma planta, quando atacada por bactérias ou fungos, é provocar a morte das células ameaçadas. Isso remove a fonte de alimentos do elemento patogênico invasor. "As plantas geram um choque pequeno e rápido que mata as células ao redor de onde o elemento patogênico tenta invadir e, basicamente, o fazem morrer de fome", diz Gary Loake, líder do projeto e professor da universidade escocesa. "Mas identificamos que algo precisa ocorrer para garantir que a planta não caia em total destruição".

A resposta está em uma enzima chamada oxidase NAPDH, que controla o processo de morte das células e o interrompe quando a infecção é contida. "Esperamos que os pesquisadores de melhoramento vegetal possam usar a informação para desenvolver variedades resistentes a doenças", afirma o professor Loake.

Por Clive Cookson | Financial Times

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Governo investirá R$ 90 milhões em inovação até o fim de 2012

SÃO PAULO – O Governo Federal destinará R$ 90 milhões até o fim do próximo ano para investimentos em projetos inovadores. A informação foi divulgada nesta segunda-feira pelo secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Luiz Antonio Rodrigues Elias, após participar de reunião no escritório da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo.

Segundo ele, será criada nesta semana a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que terá como objetivo coordenar a interação entre o setor privado, os institutos de pesquisa e o governo para a realização de projetos que tenham como foco a inovação. “Procuramos projetos com relevância e que tragam retorno para a sociedade, embora estejamos atuando com o risco da etapa pré-competitiva. O resultado final demandará certo tempo para aparecer”, disse.

A Embrapii contará com recursos de todos os participantes, na proporção de um terço para cada parte. Dessa forma, deverá dispor de até R$ 270 milhões para investimentos nesta primeira etapa de operação. Os R$ 90 milhões do Governo Federal, segundo Elias, virão do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Em princípio, a Embrapii operará por meio do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e do Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Cimatec-Senai). “Essas instituições têm o mapa de competência da indústria. Por isso nós nos estruturamos, inicialmente, por elas”, explicou Elias.

As empresas interessadas em desenvolver projetos de inovação deverão entrar em contato com associações de classe, como a CNI, que serão responsáveis pela articulação junto à Embrapii. A expectativa do presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, é de que a rede de institutos de pesquisa participantes da Embrapii cresça significativamente nos próximos meses, podendo chegar a 30. Entretanto, há dúvidas quanto à participação de universidades, já que os centros de pesquisa também deverão contribuir com a Embrapii.

Andrade ressaltou que o Senai vai investir R$ 1,5 bilhão na construção de 34 laboratórios até 2014. Sua expectativa é de que ao menos 30 deles participem dos projetos da Embrapii.

Andrade e Elias evitaram previsões sobre a quantidade de projetos que deverão ser atendidos até o fim de 2012. O secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, porém, destacou que dentre as áreas que mais deverão ser beneficiadas pela criação da Embrapii estão as de petróleo e gás, biotecnologia, nanotecnologia e tecnologia da informação.

Por Francine De Lorenzo | Valor 18.10.2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

As pequenas empresas precisam vender mais



A cada dia, fica mais evidente a importância que as micro e pequenas empresas têm na economia brasileira. Atualmente, existem no Brasil cerca de 6 milhões de micro e pequenas empresas (MPEs). Esse segmento responde por 99% das empresas do país e quase dois terços das ocupações geradas no mercado de trabalho.

Além desses aspectos sociais, as micro e pequenas empresas exercem importante papel nas diversas cadeias produtivas, inclusive de forma interativa com as grandes e médias empresas: ora como fornecedores de produtos e serviços, ora como clientes ou canais de distribuição das grandes companhias.

Sobre esse tema, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) realizou uma pesquisa que mapeia a relação entre as micro e pequenas e as grandes empresas. A amostra foi de 4,2 mil MPEs em todo o território nacional.

É preciso ampliar a inserção das MPEs tanto junto às grandes empresas como nas compras públicas

De acordo com essa pesquisa, 75% das micro e pequenas empresas brasileiras realizam diretamente compras junto às empresas de maior porte, em especial junto àquelas grandes, do comércio atacadista e à indústria de médio e grande porte. Metade dos gastos das MPEs com fornecedores destina-se à aquisição de bens e serviços oferecidos pelos grandes empreendimentos.

Contudo, os pequenos negócios enfrentam dificuldades na ponta compradora, em especial, na hora de negociar preços e condições de pagamento mais favoráveis aos pequenos, já que esses são definidos, na maioria das vezes, de forma unilateral, pelas grandes companhias. Aqui, uma possível solução seria a ampliação de uma atuação mais integrada entre os próprios pequenos negócios, por exemplo, por meio de compras conjuntas, o que, segundo a pesquisa, só é feito por 6% das MPEs.

Na posição de fornecedores das grandes corporações, as MPEs mostram uma situação menos favorável. Apenas 37% delas vendem às médias e grandes, o que representa 16% do seu faturamento. Aqui, reside a necessidade de maiores avanços por parte dos pequenos negócios.

A pesquisa mostra, por exemplo, algumas falhas de estratégia por parte das MPEs que precisam ser corrigidas. São poucas as que definem uma estratégia de vendas diferenciada e específica quando se trata de vender às grandes, o que pode ser um fator limitante às vendas. Uma atenção mais focada nas necessidades específicas desses clientes poderia, inclusive, viabilizar margens de lucro mais elevadas. Mais uma vez, a atuação conjunta e integrada, entre os pequenos, aliada a uma melhoria na qualidade de seus produtos e serviços, poderia viabilizar o interesse dos grandes negócios na aquisição de produtos e serviços oferecidos pelos pequenos.

Assim, a melhoria técnica e da qualidade dos produtos e serviços dos pequenos negócios e atuação integrada desses visando escalas maiores, seja na hora da compra ou da venda às médias e grandes, se mostram como os principais meios para viabilizar a expansão dos negócios entre os grandes e pequenos empreendimentos.

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O Sebrae está atento para essas questões e já dispõe de programas que atuam nessa direção. Por exemplo, até 2013 o Sebrae irá destinar R$ 780 milhões exclusivamente a programas com foco na inovação nas micro e pequenas empresas. O atendimento é proativo, com uma equipe que até dezembro terá mil agentes locais de inovação, jovens profissionais que visitam as empresas para fazer um diagnóstico e identificar oportunidades de inovação em produtos e processos. Em seguida, os empresários são direcionados ao Sebraetec, programa específico de consultoria tecnológica para resolução de problemas nas empresas, subsidiando até 80% dos custos com as soluções de inovação.

No campo da cooperação entre empresas, mais de 150 núcleos setoriais estão sendo articulados em todo o país, estimulando a capacitação técnica e tecnológica, o associativismo e o cooperativismo.

Uma terceira linha de atuação que está crescendo são parcerias com grandes companhias visando inserir micro e pequenas empresas em sua cadeia de valor. Um exemplo, é o convênio com a Petrobras, que já beneficiou mais de 6 mil micro e pequenos empreendimentos, em 15 estados. As ações dos projetos, que são realizados em territórios onde a Petrobras atua, estão agrupadas em quatro focos estratégicos: inteligência competitiva, cultura da cooperação, desenvolvimento de fornecedores e inovação e promoção de negócios.

Entre os resultados dos projetos, destacam-se o aumento de 25% no faturamento dos pequenos negócios participantes e a ampliação expressiva dessas empresas no cadastro de fornecedores da Petrobras e da Organização Nacional da Cadeia do Petróleo (ONIP). Com o mesmo objetivo, o Sebrae firmou um convênio com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), que se estenderá até 2014.

Outra informação relevante levantada pela pesquisa é que apenas 20% das MPEs vende para o setor público e apenas 4% do faturamento das MPEs advém das vendas ao governo. Esse dado permite inferir que é preciso reforçar as ações de ampliação dos pequenos negócios no volume total das compras públicas. No país, mais de 3 mil municípios já regulamentaram sua Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. Em certo sentido, isso tende a favorecer a participação dos pequenos negócios nas vendas ao governo. No entanto, os dados disponíveis revelam não apenas a necessidade de ampliar o número de municípios com Lei Geral regulamentada, como a necessidade de tornar as legislações municipais já existentes mais eficazes em termos de viabilizar o acesso dos pequenos empreendimentos às compras públicas.

É preciso, portanto, ampliar a inserção dos pequenos negócios tanto junto às grandes empresas do setor privado quanto nas compras públicas. Os pequenos precisam vender mais. A ampliação das vendas dos pequenos é condição indispensável ao seu sucesso, devendo ser essa uma das prioridades das organizações de apoio aos pequenos negócios e aos formuladores de políticas públicas.

por:
Luiz Barretto é diretor presidente do Sebrae Nacional.
Bruno Caetano é diretor superintendente do Sebrae São Paulo.
Valor 17.10.2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Federal do ABC aposta em pesquisa, e 100% dos professores são doutores




Gustavo Dalpian, vice-reitor da Universidade Federal do ABC, no prédio de Santo André: projeto pedagógico está sendo "exportado" para outras instituições

Em cinco anos de existência, a Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André, coleciona uma série de indicadores dificilmente encontrados em uma instituição de ensino superior ainda em processo de estruturação. É a única universidade brasileira com 100% do quadro de 425 professores titulados com doutorado - com mais de 75 anos de história, a Universidade de São Paulo (USP) tem 96% de doutores à frente das aulas e pesquisas. A universidade do ABC adota postura agressiva em relação à pesquisa: em cinco anos abriu 14 programas de pós-graduação, e seus pesquisadores publicaram cerca de mil artigos científicos, com ênfase em estudos sobre nanociências, neurociências e cognição, simulação computacional, novos materiais e energia.

A UFABC também lançou no país o modelo pedagógico dos bacharelados interdisciplinares (BIs), graduação com três anos de formação geral, com uma grade curricular livre, seguida de curso de formação específica, como engenharias, licenciaturas ou ciências da computação. Um desses bacharelados, o de ciência e tecnologia, foi o curso mais procurado em 2011 no sistema unificado de seleção pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com 16,3 mil inscrições para 1,5 mil vagas, média de 11 candidatos por vaga.

Para o vice-reitor da universidade, o físico Gustavo Martini Dalpian, os bacharelados interdisciplinares são a maior prova de que, dentro da política de expansão do ensino superior federal, "a UFABC está dando certo". "O projeto pedagógico foi desenvolvido cuidadosamente e com o objetivo de inovar. Quatorze universidades federais passaram a utilizar o mesmo modelo de bacharelados interdisciplinares, instituições particulares vêm conversar com a gente para tentar entender e eventualmente implantá-lo. A Escola Politécnica da USP criou um grupo de trabalho, do qual participa o nosso reitor [Helio Waldman], com o objetivo de reformular o currículo das engenharias, e uma alternativa é instituir um programa multidisciplinar semelhante ao BI para um curso inicial. É um indicador claro de que a proposta é boa e promissora", avalia Dalpian.

"O curso é pesado, tem muito cálculo, física e computação. Já cansei de ficar por aqui estudando de manhã, à tarde e à noite", relata Cláudia Januário, formada no bacharelado interdisciplinar de ciência e tecnologia e em licenciatura focada em química. A estudante conclui no fim do ano a especialização em química, que completa o ciclo de formação iniciado no bacharelado, e já está se preparando para emendar um mestrado sobre biologia molecular na própria UFABC.

"Aqui o aluno se torna o gerente da própria carreira, um físico pode saber muito de biologia, um engenheiro pode se especializar em física", acrescenta o professor José Fernando Queiruga Rey, coordenador do bacharelado de ciência e tecnologia. "Montei meu currículo e fiz licenciatura junto com o bacharelado porque pretendo dar aulas na educação básica, mas ultimamente eu só tenho ficado no laboratório", conta Cláudia, que está decidida a seguir carreira acadêmica. "Não dá para entender como não existia uma grande universidade pública por aqui com tanta empresa em volta. Na área química tenho vários amigos estagiando."

Marco Camargo, formado nas primeiras turmas do bacharelado interdisciplinar e atualmente estudando engenharia de instrumentação, automação e robótica, está na quarta etapa de seleção para uma vaga de trainee na Siemens. Ele conta que "sofreu" no início do curso: "As turmas atuais estão mais bem servidas, com aulas de revisão para matemática e cálculo e uma infraestrutura muito melhor."

Como ocorre na maior parte das universidades que estão no processo de expansão, os atrasos nas reformas são sempre lembrados pelos estudantes. Há duas semanas, nas comemorações dos cinco anos da fundação da UFABC, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não escaparam de sonoras vaias de um grupo de 50 estudantes, que protestavam contra o atraso nas obras da instituição e por melhorias em algumas políticas universitárias, como assistência estudantil. Ricardo Senese, presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE), atenta para o problema envolvendo os cursos de engenharia, considerados carro-chefe da universidade. "Os prédios de salas de aula e laboratórios das engenharias não saíram do chão."

Apenas dois prédios e o restaurante universitário do campus principal, em Santo André, estão prontos. No campus São Bernardo do Campo, onde se concentram os bacharelados interdisciplinares voltados para humanas, as aulas ocorrem em espaço cedido pela prefeitura local. Mesmo assim, as instalações são novíssimas e modernas.

Na sede as salas de aulas têm ar-condicionado e projetores e os laboratórios são amplos, mas é possível notar carteiras usadas pelos alunos ainda embaladas em plástico, equipamentos encaixotados, e os laboratórios de ensino e pesquisa ainda não funcionam em plena capacidade. "O sistema de tubulação de gás, que permite o manuseio de maçaricos, ainda não chegou aqui", conta um monitor de laboratório.

Segundo o vice-reitor, os dois blocos de oito andares abrigam satisfatoriamente os mais de 5,5 mil alunos atualmente matriculados. De fato, o espaço físico de proporções gigantescas indica que a universidade está sendo preparada para acolher mais de 10 mil estudantes nos próximos anos.

"Entregamos 50 mil metros quadrados de instalações, 80% do projeto original. A empreiteira não cumpriu o cronograma do contrato e perdeu o trabalho. No momento estamos fazendo nova licitação para mais 50 mil metros quadrados de obras, que contemplam um ginásio de esportes, um teatro, um torre de caixa d'água, um bloco anexo para laboratórios, salas para professores e estacionamento, além da marquise que vai cobrir toda a área externa", explica Dalpian.
Valor 10.10.11

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Aposta na inovação



De acordo com o novo presidente da Bosch América Latina, Besaliel Botelho, inovação é um dos principais motores para expansão dos negócios do grupo globalmente. Por dia, o grupo de origem alemã registra 15 patentes, ritmo que garantiu à companhia a primeira posição no ranking de patentes da Alemanha e o terceiro lugar no ranking mundial, segundo a companhia.

Anualmente, afirmou Besaliel, o grupo aplica € 3,8 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. No ano passado, o faturamento da Bosch totalizou € 47,3 bilhões, uma alta de mais de 20% na comparação com o verificado em 2009, ano influenciado pela crise iniciada em 2008. Em 2010, deve superar pela primeira vez a marca de € 50 bilhões e chegar à marca de 300 mil funcionários em todo o mundo.

"A Bosch é uma empresa muito fundamentada em inovação", disse o executivo brasileiro, já à frente da presidência da operação latino-americana.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Fundo vai subsidiar inovação no Centro-Oeste

A partir de hoje, os empresários da região Centro-Oeste que quiserem tomar um empréstimo para investimentos em inovação terão à disposição uma linha de crédito subsidiado, com juros de 5,7% a 8,5% ao ano, e cinco anos de carência. Trata-se do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), que lança linha específica ao financiamento de investimentos, capital de giro e compra de insumos para ciência, tecnologia e inovação. Com R$ 15 bilhões em carteira e metade do aporte de R$ 4,8 bilhões que o Tesouro fez no início deste ano à disposição, o FCO inicia, aos poucos, a transição para um modelo de financiamento que o governo Dilma Rousseff incumbiu aos operadores de crédito público no país, focado na inovação, especialmente à indústria. Administrados pela Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e pelo Banco do Brasil (BB), os recursos do FCO serão disponíveis a qualquer empresa que apresentar um projeto de inovação, independentemente do setor. Para o microempresário que tomar empréstimos de até R$ 240 mil, os juros serão de 5,7% ao ano. Já os empréstimos que superarem R$ 35 milhões terão juros de 8,5% ao ano. Todas as modalidades terão a mesma carência - de cinco anos para crédito ao investimento e três anos para capital de giro - e o mesmo prazo, que vai de 15 a 20 anos, para o pagamento do principal. A Sudeco estima que nos primeiros meses de operação, a demanda ficará entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões. Mas, segundo Marcelo Dourado, diretor-superintendente da Sudeco, a crescente mobilização dos agentes de crédito e do governo federal como um todo em torno de inovação deve aumentar a demanda. "O governo está, em diferentes frentes, aumentando fortemente os esforços na consolidação de uma cultura de inovação nas empresas", diz Dourado, que acredita que "isso vai se impregnar no país nos próximos anos". O principal foco da Sudeco, com a nova linha de financiamento é incentivar a criação de um parque tecnológico na região. "O Centro-Oeste não tem nenhum parque tecnológico implantado, enquanto apenas o Nordeste tem quatro, sendo dois muito recentes [Camaçari, na Bahia, e Suape, em Pernambuco]", afirma Dourado. "A área ao nordeste do Estado de Goiás é propícia a um parque de energia eólica, por exemplo", diz ele, para quem os recursos devem servir para "impulsionar as vantagens comparativas" da região. O equivalente a 58% do total de recursos que são repassados anualmente pelo Tesouro ao FCO são divididos igualmente pelos Estados de Goiás e Mato Grosso, onde estão concentrados os maiores produtores da região. Outros 23% vão para os empresários do Mato Grosso do Sul e o restante para empresas do Distrito Federal. Criado pela Constituição de 1988, o FCO viu seu orçamento saltar nos últimos anos - saiu de R$ 3,1 bilhões em 2009 para R$ 4,8 bilhões neste ano. Como, no entanto, não empresta todos os recursos que recebe dos cofres públicos, o FCO tem em caixa cerca de R$ 15 bilhões.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Parceria é saída para crescer em inovação

Uma maior integração entre as empresas de inovação na área de biotecnologia, que abrange sobretudo as indústrias farmacêuticas, biocombustíveis e de defensivos, e grandes corporações pode ser uma das saídas para o avanço dessas pequenas companhias focadas em pesquisa no Brasil. O estudo "A indústria de biociências nacional: caminhos para o crescimento", co-desenvolvido pela Biominas Brasil e PricewaterhouseCoopers (PwC), que será divulgado hoje, aponta as principais perspectivas para esse segmento. "Tradicionalmente, a Biominas desenvolve estudos, mas sempre de diagnóstico, voltados para o passado. Desta vez, é mais analítico, com base nas perspectivas futuras para essas empresas", diz Isabela Drummond, gerente de consultoria da Biominas, uma das responsáveis por esse estudo. Criada há 20 anos, a Fundação Biominas, uma entidade privada sem fins lucrativos, prospecta projetos em todo país com foco em inovação. O estudo foi realizado com base em questionários respondidos por 103 empresários desse setor. Para 62,9% dos entrevistados, o desenvolvimento e a comercialização de produtos e serviços inovadores constitui principal parâmetro de sucesso de um empreendimento. O perfil de faturamento desse setor mantém-se relativamente estável, composto em sua maioria por empresas que faturam até R$ 1 milhão por ano. Os principais desafios para alavancar o crescimento desse segmento devem passar por uma gestão profissional e de planejamento estratégico, e um processo regulatório mais ágil e ambiente de financiamento mais inclusivo. "A capacidade de poder de desenvolvimento e inovação dessas empresas é muito forte", afirma Isabela, da Biominas. Rodrigo Viñau, gerente sênior da PwC, observa que as empresas de inovação instaladas no país não aproveitaram o ótimo momento da economia brasileira e as medidas governamentais para alavancar o crescimento da indústria. Em um cenário adverso com alta carga tributária, falta de ambiente regulatório e restrição de crédito, as empresas precisam buscar parcerias com entidades privadas de grande e médio porte. Contudo, ele observa, faltam canais para viabilizar essa interação. Viñau afirma que casos de sucesso surgem da parceria com entidades privadas, que além de aportarem recursos financeiros e transferirem infraestrutura, agregam valor trazendo para a parceria profissionais com experiência na gestão do negócio e na comercialização do conhecimento. "Apesar das restrições para obtenção de patentes [longo prazo para concessão, legislação restritiva e dificuldade de acesso à biodiversidade brasileira], cresce o número de pedidos seja nacional ou internacional", afirma. A concentração de doutores e cientistas nas universidades e institutos de pesquisa faz com que haja uma concentração do depósito de patentes (67%) em nome dessas organizações. O estudo realizado em parceria entre a Biominas e PwC mostra ainda que, apesar da dependência de fontes de recursos não reembolsáveis e do capital próprio para realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), as empresas que adotaram o caminho das parcerias corporativas têm obtido bons resultados, porque vem acompanhado de suporte gerencial e direcionamento estratégico " Cabe destacar o número bastante limitado de fundos de capital semente e de venture capital dispostos a investir no setor de biociências", observa Viñau. Esse setor também sofre com o "apagão" de mão de obra especializada. O maior gargalo atualmente concentra-se na disponibilidade de pesquisadores aptos a atuar na área de desenvolvimento, convertendo conhecimento em inovação tecnológica, e de profissionais com competências multidisciplinares e experiência para atuar na comercialização do conhecimento. Valor / Por Mônica Scaramuzzo | De São Paulo / 19.9.2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Embrapa da indústria começa com R$ 30 milhões

O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante: foco do repasse de recursos será a demanda e dependerá da carteira de projetos de inovação.
O governo vai criar, dentro de um mês, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), a grande aposta do governo Dilma Rousseff para fortalecer a indústria brasileira diante da competição com produtos importados de alto teor tecnológico. A Embrapii contará, já de partida, com R$ 30 milhões para emprestar a três institutos de pesquisa já conveniados. O capital da empresa receberá um aporte duas vezes maior no ano que vem, cumprindo a meta traçada pelo governo federal de destinar R$ 90 milhões para pesquisa industrial entre o último trimestre deste ano e o fim de 2012.

Largamente baseado no sucesso da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada em 1973, no auge do milagre econômico, e na alemã Fundação Fraunhofer, a Embrapii, no entanto, não será uma companhia estatal. Diferentemente da Embrapa, que ao longo deste ano consumirá um orçamento de R$ 1,8 bilhão e conta com 9,2 mil funcionários, a Embrapii terá gestão enxuta e não contará com um corpo de pesquisadores. Funcionará como um "selo certificador" dos institutos habilitados a operar junto à indústria.

De partida, a Embrapii já conta com três institutos conveniados, isto é, habilitados a receber recursos públicos. A partir de outubro, o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), no Rio de Janeiro, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia (Senai-Cimatec), receberão R$ 10 milhões cada. A meta do governo é atingir 30 institutos até o fim de 2014, o que representará um orçamento total de R$ 270 milhões a R$ 300 milhões em três anos.

"O foco do repasse de recursos será a demanda", afirma o ministro Aloizio Mercadante, da Ciência, Tecnologia e Inovação, a pasta que coordena os trabalhos em torno da nova empresa. "A Embrapii fechará um contrato de gestão com o instituto de acordo com a carteira de projetos de inovação coletada junto às fábricas", explica.

O modelo de gestão da Embrapii já está definido. A nova empresa entrará com o equivalente a um terço dos recursos necessários a cada projeto, e o restante será dividido entre o instituto conveniado e a própria fábrica interessada na inovação. Na semana passada, os técnicos do governo fecharam o Termo de Referência (TR) da companhia, que funcionará como "projeto piloto" nos primeiros 18 meses, período em que o agente operador será a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Isto é, os técnicos do ministério trabalharão com os especialistas da CNI na definição dos institutos que receberão os recursos. Até lá, a Embrapii não vai imobilizar capital - a empresa não terá uma sede até o início de 2013.

"Criamos um novo modelo operacional, que é em si inovador, algo que queremos fomentar na indústria", diz João Fernandes de Oliveira, diretor-presidente do IPT, que falou ao Valor logo após a reunião com técnicos do governo em que se consolidaram os procedimentos iniciais da nova empresa. "Vamos pagar por desempenho, pelo resultado concreto de atendimento que cada instituto desenvolver com a indústria, pelo volume de empresas e capacidade de contrapartida ao Estado", diz Mercadante, "e seria impossível realizar isso tudo com uma estrutura pesada", diz.

Os primeiros três institutos foram selecionados pelo governo por atender às demandas que a partir do mês que vem serão da Embrapii. Segundo Mercadante, no IPT há expertise em modelagem de navios, o INT conta com forte know-how no complexo industrial de petróleo e gás e o Senai-Cimatec conta com laboratórios especializados em automação e logística fabril. "O instituto que oferecer mais, em pessoal, infraestrutura e número de empresas interessadas, receberá mais", afirma o ministro.

Para Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai, a Embrapii vai "começar a alterar" o equilíbrio construído pela equipe econômica do governo entre a política macroeconômica e a política industrial. "A política industrial é subordinada à política macroeconômica, que busca condicionar crescimento e inflação controlada, algo crucial, sem dúvida, mas que tem tirado o fôlego dos incentivos à indústria", avalia Lucchesi, para quem esse desequilíbrio tem levado a um processo de desindustrialização no país. "A Embrapii nasce em momento oportuno, em que ainda é possível fazer essa virada, e a saída evidente é por meio da inovação".

Os técnicos envolvidos na criação e gestão da nova empresa pública entendem que a Embrapii ocupará o espaço mais sensível para a inovação industrial - o custeio dos projetos. "Uma empresa que apresentar seu projeto a um instituto conveniado pela Embrapii gastará apenas um terço do que gastaria com seu projeto de inovação, porque todo o resto virá do instituto e do governo", afirma Lucchesi.
Valor 12.9.2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

À caça de talentos


Ao encerrar as inscrições para seu programa Jovens Engenheiros, em julho, a Mineração Usiminas deu início a um intenso trabalho: selecionar 30 entre os 3.600 candidatos formados entre 2008 e 2011 para ocupar, a partir de setembro, as vagas destinadas a jovens graduados nas áreas de engenharia civil, de minas, mecânica, metalurgia, e ambiental, ou em mecatrônica e geologia. O salário inicial, de R$ 4.633, e os benefícios previstos no contrato foram grandes atrativos. Mas havia outro igualmente importante: o acesso a conhecimento especializado por meio de ações de treinamento, além de acompanhamento de engenheiros experientes durante 36 meses.

Criada em 2010 como uma joint venture a partir de parceria com o grupo japonês Sumitomo, a Mineração Usiminas tem como meta, até 2015, elevar de 7 milhões para 29 milhões de toneladas sua produção anual de minério de ferro. E não há nada de que a companhia necessite mais hoje do que profissionais com os conhecimentos técnicos específicos demandados pela atividade.



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Como os candidatos que participaram do programa da mineradora, cerca de 80% dos engenheiros saem hoje da universidade decididos a encontrar um emprego, diz o professor Segen Estefen, diretor de tecnologia e inovação da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas a maioria precisa, ainda, de treinamento intensivo por um simples motivo: a falta crônica de profissionais especializados, capazes de atender as necessidades de uma economia em crescimento, está ligada a fatores complexos, de difícil solução, que mistura deficiência nos ensinos básico e fundamental, professores despreparados para estimular o interesse dos jovens pelas ciências exatas, currículos universitários muito teóricos e desvalorização da profissão num passado recente.

Estefen diz que o Brasil precisa investir na melhoria do ensino de base, como fazem Europa, Japão e os países asiáticos, onde a preparação para as ciências exatas começa de forma sólida já no ensino básico. "Aqui, além de não se estimular a preparação de professores capazes de transmitir esses conhecimentos, convivemos com uma cultura de aversão ao risco, um desestímulo ao processo criativo", diz. Nesse ambiente não se formam profissionais inovadores, tampouco jovens cientistas interessados na carreira acadêmica ou em se tornar empreendedores de alta tecnologia, avalia.

Pedro Wongtschowski, presidente do grupo Ultra e do Movimento Empresarial pela Inovação (MEI), ligado à Confederação Nacional da Indústria (CNI), tem a mesma visão: "A forma de ensino no Brasil não desperta a característica inovadora das pessoas. O ensino discursivo continua em muitas salas de aula". Segundo ele, embora a evasão nos cursos de engenharia tenha diminuído de 45% para 20%, ainda é alto o percentual de universitários que deixa a universidade por falta de preparo para acompanhar do curso.

Para Ronald Dausha, diretor de tecnologia e inovação da Siemens, os cursos precisam ter currículos mais adequados e com maior carga de matemática e demais disciplinas que estimulem o raciocínio lógico. Além disso, os pais precisam estimular os filhos a se interessar pelo estudo dessas disciplinas.

"O que faz um país crescer são as ciências duras", complementa o professor Oswaldo Massambani, que levou para o Centro Paula Souza a experiência de coordenador da Agência USP de Inovação, que ajudou a criar. Massambani defende a criação de mais cursos de ciências exatas. "É mais difícil, custa mais, precisa de laboratórios, mas é necessário."

A boa notícia: já se nota um movimento de renovação do interesse dos jovens pelas diversas áreas da engenharia, em decorrência do boom da construção civil, da indústria do petróleo e do agronegócio. Isso sem falar da implantação de diversos programas e iniciativas nos últimos anos que aproximam empresa e universidade, preveem bolsas de estudo para a pesquisa científica e tecnológica, disseminando a cultura de inovação e do empreendedorismo de alta tecnologia. O Inova Paula Souza é uma dessas iniciativas, cuja meta é promover a cultura de inovação entre os 8 mil professores e 200 mil alunos das Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Estado de São Paulo.

O Idea, do Coppe, é outro. O objetivo do projeto é estimular alunos e pesquisadores a transformar os resultados de suas pesquisas em produtos e novos empreendimentos e, assim, ampliar o número de micro e pequenas empresas de base tecnológica no país, diz o professor Stefen. A grande questão, porém, é como fazer a sociedade despertar para a questão de que a educação básica é fundamental.
Por Marlene Jaggi | Para o Valor, de São Paulo