quinta-feira, 26 de maio de 2011

Fundo de R$ 100 milhões busca pequenos projetos

Inovação une banqueiros, biólogo e empresários - buscam entre 10 e 20 negócios inovadores para investir

O que há em comum entre três banqueiros, três empresários do ramo de cosméticos, um ex-executivo do mercado financeiro e um biólogo? Resposta: a veia empreendedora, que resultou na criação de um fundo de R$ 100 milhões para investir em projetos de inovação tecnológica e científica.

Entre os investidores, estão três nomes de peso do setor bancário: Pedro Moreira Salles, da família que criou o Unibanco e hoje presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco; Fernão Bracher, fundador do banco BBA e atual vice-presidente do conselho do Itaú BBA; e seu filho Cândido Bracher, presidente do Itaú BBA. Com eles estão os três fundadores da Natura - Luiz Seabra, Pedro Passos e Guilherme Leal.

Compõem ainda a lista Eduardo Vassimon, bastante conhecido no mercado financeiro e um dos executivos mais próximos de Fernão Bracher na época da compra do BBA pelo Itaú, e Fernando Reinach, um biólogo que foi o diretor responsável pelo braço de private equity do grupo Votorantim, na Votorantim Novo Negócios.

O objetivo desses investidores é preencher uma lacuna que existe no Brasil de identificar e apostar em negócios inovadores, que muitas vezes não passam apenas de uma ideia inicial. "Estamos em busca de boas histórias, que sejam originais e viáveis comercialmente, mesmo que elas ainda estejam apenas na cabeça de um cientista dentro de um laboratório", diz Reinach, que além de investidor será um dos gestores do fundo juntamente com Vassimon.

Nos Estados Unidos, esses fundos, chamados de "venture capital", ou capital de risco, são muito difundidos e procuram projetos especialmente no mundo acadêmico. "Não é à toa que os escritórios de muitos desses fundos ficam em frente às grandes universidades, como a de Stanford, na Califórnia", cita Reinach.

Empresas americanas importantes como American Airlines, Fedex, Google e Facebook nasceram de pequenos investimentos de fundos de venture capital e da crença de investidores de que essas ideias se transformariam em negócios rentáveis.

Segundo Vassimon, o fundo, batizado de Pitanga, já está olhando alguns projetos, mas ainda não há nada em fase de negociação. Por se tratar de um investimento de maior risco, o objetivo é aplicar os R$ 100 milhões numa quantidade maior de pequenas empresas ou projetos - entre 10 e 20 -, até para que as apostas bem-sucedidas compensem os fracassos. Reinach lembra que no fundo do Votorantim, por exemplo, foram analisados 1.200 projetos, para se investir em 12 deles e apenas quatro deram certo.

No mundo, a taxa de sucesso dos fundos de venture capital é bastante baixa, um investimento a cada dez. Por esse motivo, os projetos vencedores precisam oferecer retornos acima de 40% ao ano, para que assim os fundos consigam uma rentabilidade de no mínimo 20% ao ano, explica Reinach. Nos melhores fundos multiplica-se o patrimônio investido entre 10 e 15 vezes. "O retorno precisa ser alto para compensar o risco de se apostar em novas ideias que também é considerável", diz ele.

Vassimon afirma que não existe uma meta de retorno mínimo entre os oito investidores, mas que obviamente ambicionam o maior ganho possível. Não há também uma definição dos setores nos quais buscam encontrar boas oportunidades de negócios. "Não importa o ramo de atuação, precisa apenas ser uma boa ideia e com grandes chances de se tornar líder em seu mercado", explica Reinach.

Além da própria rede de contatos dos oito investidores, que não é pequena, o Pitanga vai garimpar boas oportunidades em universidades e até no exterior. O fundo poderá ser acionista majoritário das companhias ou minoritário, mas com participação no acordo de acionistas. Nos casos em que há apenas uma ideia, o fundo vai, inclusive, participar da criação da empresa.

O mercado de venture capital no Brasil ainda é incipiente, mas deve crescer juntamente com a participação do Brasil na produção científica mundial, que hoje está em torno de 2%, completa o biólogo Reinach.
Valor 26.5.2011

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Para exportador, país já vive processo de desindustrialização

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O atual comportamento das vendas de bens manufaturados na pauta brasileira de exportações mostra o início de um processo de desindustrialização e não há, no curto prazo, nenhuma perspectiva de mudança na tendência. A análise é do presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, que ressaltou que a balança comercial dos manufaturados deverá continuar deficitária em 2011.

A expectativa da AEB é de que este ano os manufaturados representem apenas 36% do total vendido pelo Brasil. Em 2000, quando começou o ciclo de alta das commodities, esse percentual era de 59%. Do total de 520 milhões de toneladas exportadas pelo país no ano passado, 424 milhões foram de produtos básicos e apenas 47 milhões de manufaturados.

"Não tem nenhuma expectativa de reduzir o déficit no curto prazo. O próprio governo admite que a taxa de câmbio não deve sofrer alteração este ano e o Brasil vai ter que conviver com esta taxa de câmbio, que desestimula a exportação de manufaturados", disse Castro, que participou do 23º Fórum Nacional, no Rio de Janeiro. "Só se houver uma reversão no cenário internacional e essa reversão provocar uma queda nas commodities. Aí sim poderia a taxa de câmbio subir um pouco mais."

Apesar do cenário ruim para os produtos manufaturados, Castro acredita em um saldo positivo na balança comercial do país entre US$ 25 bilhões a US$ 28 bilhões este ano, gerado totalmente pelo comportamento das commodities.

"O superávit é claramente graças às commodities. Os manufaturados têm déficit comercial que está aumentando ano a ano, e isso indica um princípio de desindustrialização", destacou.

O executivo frisou que a importação de bens de consumo cresce percentualmente "muito mais" que as compras de matérias-primas e bens intermediários. "Quando importa matéria-prima e bens intermediários, o país está gerando processo de industrialização. Quando importa o produto pronto, o país acaba deixando de produzir, que é o que está acontecendo", lamentou.

Castro elogiou ainda a decisão do governo brasileiro de exigir licenças prévias para a importação de automóveis, como forma de retaliação a medidas protecionistas tomadas pela Argentina. Em março, o governo de Cristina Kirchner havia elevado de 400 para 600 o número de produtos que passariam a ter que apresentar licença prévia de importação, o que atingiu em cheio as vendas de alguns produtos brasileiros.

"A medida é necessária porque na realidade o Brasil acostumou mal os nossos parceiros. Chega uma hora que tem que dar um basta e o basta foi agora", afirmou, lembrando que "há tempos" a Argentina "vem criando dificuldades".

"A Argentina promete que vai estabelecer as licenças automáticas em 60 dias, que é o prazo estabelecido pela OMC, e esse prazo dá 120, 180 dias. Outras vezes autoriza a importação e proíbe a venda para o mercado interno", criticou Castro. "A argentina sempre tem uma tendência a adotar medidas protecionistas, só que agora avançou um pouquinho o sinal e o Brasil decidiu dar um breque", resumiu.
Valor19.5.11

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tecnologia industrial Brasileira: uma “morte” anunciada

Encontro nacional discutirá o tema e fará carta à Presidente Dilma Rousseff
Já não é novidade que a indústria brasileira vem perdendo espaço a cada dia. Falta à produção nacional poder de fogo para competir no mercado internacional, especialmente com a China. O grave é que, para sobreviver, as indústrias estão sendo obrigadas a importar componentes chineses e, aos poucos, se transformam em meras montadoras, enquanto o Brasil vai ficando cada vez mais um exportador de commodities. Diante dessa realidade, a décima edição do Encontro Nacional de Inovação Tecnológica (Enitec) não só discutirá o tema como produzirá uma carta a ser entregue à presidência da República e ministérios competentes, expondo a gravidade do problema e apontando possíveis caminhos.

O objetivo do evento, que reunirá representantes dos setores público e privado, é avaliar as políticas em vigor e propor mecanismos eficazes para fomentar a inovação tecnológica na indústria nacional. O tema central, “Déficit tecnológico e risco de desindustrialização”, será enriquecido com painéis de avaliação de resultados dos programas de incentivo ao desenvolvimento tecnológico baseados em apoios não reembolsáveis e em financiamentos com juros subsidiados. Para debater essas questões, foram convidados para o Enitec, entre outras autoridades, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel; o presidente do BNDES, Luciano Coutinho; o secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Antonio Luiz Elias Rodrigues; o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, e o presidente da FINEP, Glauco Arbix, e o presidente da Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial (ABDI), Mauro Borges. “A discussão é oportuna, agora que janelas de oportunidades se abrem a partir do crescimento do Brasil. Infelizmente elas têm sido aproveitadas principalmente por fabricantes estrangeiros que exportam para o País”, afirma Roberto Nicolsky, diretor geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), que promove o evento.

De acordo com o diretor da Protec, a indústria brasileira está caminhando para se tornar uma mera montadora de itens importados, o que já está ocorrendo em segmentos de bens de consumo eletroeletrônicos, como aparelhos celulares, TVs etc. “Um exemplo disso é a situação da Zona Franca de Manaus, que só trabalha com montagem”, destaca, acrescentando que em 2010, nos três setores intensivos em tecnologia que mais contribuem para o PIB e o comércio exterior - indústria química e farmacêutica, de eletroeletrônicos e de máquinas e equipamentos – o Brasil amargou um déficit de US$ 60,6 bilhões. Segundo ele, para 2011 a expectativa é ainda pior. “A Protec trabalha com a possibilidade de o déficit atingir de US$ 75 a 80 bilhões”.

Compras públicas

Outro assunto a ser debatido no Enitec será a questão das compras públicas. Segundo Nicolsky, a Lei nº 12.349/2010, que altera a Lei 8.666/1993 e dá preferência, nas licitações públicas, a produtos e serviços produzidos no País com tecnologia própria, pode ser um meio de estimular a inovação. “Se for bem aplicada essa lei pode ser um divisor de águas”, afirma, lembrando que a prioridade terá que ser justificada em estudos que levem em consideração a geração de emprego e renda, a arrecadação de tributos, o desenvolvimento e a inovação tecnológica realizados no Brasil, o custo adicional dos produtos e serviços, e a análise retrospectiva dos resultados.

Evento: X Enitec - “Déficit tecnológico e risco de desindustrialização”
Datas: 25 e 26 de maio
Horários: 25/05 – 9h às 18h / 26/05 – 9h às 13h30
Local: São Paulo

terça-feira, 10 de maio de 2011

FIAP anuncia vencedor do Call to Innovation

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Augusto Cesar de Camargo Neto foi escolhido entre uma centena de concorrentes por apresentar projeto de inovação tecnológica que permite várias aplicações práticas

Augusto Cesar de Camargo Neto, autor do projeto “CleverPhone: atenção gerenciada pelos seus donos”, foi o grande vencedor do concurso “Call to Innovation”. Ele recebe como prêmio principal uma bolsa de estudos para o curso de verão GSP 2011 da Singularity University, que fica localizada dentro de um dos campus da NASA, na Califórnia, Estados Unidos.

A ideia apresentada por Camargo prevê uma nova aplicação para uma tecnologia já existente, de RFID. Com a fixação de pequenas tags RFID (sigla para Radio-Frequency Identification) nos celulares, os aparelhos se tornam uma nova plataforma de comunicação. Os usuários vão carregar nessa tag informações pessoais que podem ser usadas de diferentes maneiras. Por exemplo, por que pegar fila para preencher o cadastro na entrada de uma empresa se basta você aproximar o seu telefone de um leitor para informar seus dados?

Outra possibilidade é o emprego da tecnologia na área de saúde. Informações sobre doenças, alergias ou mesmo medicações utilizadas são cadastradas na tag para que, em segundos, possam ser consultadas em caso de emergência. O vídeo http://vimeo.com/23125042 mostra diferentes aplicações para a plataforma.

FINEP aprova documento que sugere alterações no Marco Legal

(4/5/2011)


A diretoria da FINEP aprovou um documento que sugere mudanças na estrutura do Marco Legal Regulatório do Sistema Nacional de C,T&I. O texto de 14 páginas apresenta mais de 10 propostas de alteração legislativa, de forma a garantir maior integração e eficácia dos seus instrumentos de apoio financeiro a projetos inovadores.

A proposta está fundamentada em três pilares básicos: revisão dos instrumentos do FNDCT voltados a empresas, definição mais clara e ampla para mecanismos de financiamento que ainda possuem insegurança jurídica (como o de Subvenção Econômica) e uma orientação definitiva sobre a divisão orçamentária e a cooperação entre ICTs e empresas.

Agora, o documento receberá sugestões de representantes da ANPEI (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Empresas Inovadoras). Recentemente, FINEP e ANPEI criaram um grupo de trabalho que vai estruturar um pacote de planos para facilitar os mecanismos de apoio à inovação.

A primeira reunião entre representantes das duas instituições ocorreu no dia 29 de abril. A próxima ocorrerá no dia 20 de maio, em São Paulo. A pauta principal será a discussão dos pontos abordados pelo documento da FINEP e as propostas de emenda sugeridas pela Associação. A ideia, em última instância, é estabelecer uma Frente Parlamentar no Poder Legislativo, liderada pelo MCT e pela FINEP, para propor estas alterações.

Com esta parceria, a Financiadora busca maior autonomia na promoção da inovação no Brasil. O documento aprovado pela direção sugere, por exemplo, que toda empresa inovadora possa buscar aporte de capital (investimento) – o que ainda não é expresso em lei – e que a devolução dos recursos de operações de investimento da FINEP se torne uma das fontes de receita do FNDCT.

Já com relação à Subvenção Econômica, a prioridade da Financiadora é acabar com a necessidade de chamadas públicas, podendo este instrumento ter a concessão de recursos também condicionada à integração com outras vias de incentivo à inovação.

“A Subvenção pode atuar de forma contínua, o que permitirá às empresas uma melhor adequação ao uso dessa ferramenta”, explica João De Negri, diretor de inovação da FINEP.

Outro ponto trata da relação entre capital empresarial e a academia. A FINEP quer ter poder de decisão para encomendas ligadas a projetos cooperativos entre as empresas e universidades, o que a legislação ainda não contempla.

Durante a primeira reunião do Grupo de trabalho FINEP-ANPEI, o diretor João De Negri tratou do tema. Com a modificação da legislação do FNDCT, será regulamentada a prática do voucher em financiamentos da Agência.

“Este mecanismo fará com que as empresas possam contratar profissionais nos meios universitários para desenvolver seus projetos inovadores, ampliando, assim, os instrumentos de integração entre eles”, explicou.
site da Finep 04.5.2011