segunda-feira, 15 de março de 2010

Para BNDES e Finep, inovação demanda tempo

"Empresários brasileiros não têm tradição de investir no desenvolvimento de novas tecnologias"

A falta de tradição em investir em inovação, um empresariado marcado por longos períodos de incertezas na economia e uma ainda recente ação governamental coordenada de apoio ao desenvolvimento em tecnologia mais sofisticada são parte do diagnóstico de que o país ainda tem muito a caminhar para ganhar maior espaço entre àqueles que conquistam posições diferenciadas quanto se trata de alta tecnologia.

A questão é se ainda há lugares no bonde da história. Passados quase sete anos da primeiro movimento coordenado do governo Lula voltado ao incentivo à inovação e desenvolvimento tecnológico com a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce) há críticas de que, até agora, os resultados são incipientes.

Uma das questões básicas com poucas respostas é se o país vai se consolidar como exportador de commodities de sucesso mas, em paralelo, continuará mantendo sucessivo saldo devedor na balança comercial quanto aos itens de alta complexidade tecnológica.
Aline Massuca/Valor
Foto Destaque
Luiz Fernandes, presidente da Finep: instrumentos de apoio ainda recentes

"O conjunto do sistema de incentivos brasileiro tem sido pouco eficaz em alterar de maneira mais radical o quadro da inovação brasileira" resume estudo de uma série chamada "Desafios da Inovação", do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industria (Iedi). A entidade avalia que "inovação é o que em última análise promove o crescimento de longo prazo de uma economia e assegura sua competitividade a nível global". Por isso, para o Iedi, ela deve figurar no primeiro bloco de preocupações de um programa de desenvolvimento econômico para o país.

Para quem atua de perto na destinação dos recursos e no movimento das empresas brasileiras envolvidas em projetos de inovação, "ainda é cedo para medir resultados" das ações que começaram a ser deflagras no governo tucano e se ampliaram no petista. "Os instrumentos são recentes", afirma o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Luiz Fernandes.

O primeiro passo da década de apoio à inovação foi o Fundo Verde Amarelo (2002). A Pitce foi anunciada em 2003 e ampliada em 2009 com a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP). A Lei de Inovação chegou em 2004, mas o principal mecanismo de apoio à inovação é a subvenção regulamentada por decreto presidencial em 2005. "O primeiro edital saiu em 2006 e os primeiros desembolsos em 2007. São só dois anos e pouco de execução de um instrumento. Estamos no meio do processo", diz o presidente da Finep.

O diretor de Planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz, também destaca que o processo de inovação é lento: " Inovação é de longo prazo e tem que vencer resistências". Ele é um dos que avaliam que falta tradição no empresariado brasileiro para focar em projetos de inovação.

"É preciso perceber que é um negócio que vai dar um diferencial lá na frente. Acho que é uma coisa do país, do ambiente e seus momentos de incerteza que definem uma postura mais conservadora. Não conservador no sentido político, mas nos seus ativos, na baixa disposição ao risco e na falta, lá atrás, de políticas consequentes e duradouras. Quantos empresários existem como os da Totvs , quantos da Bematech, da Aché? Agora, não é porque o empresário não é inovador. Tem Havaianas, São Paulo Fashion Week, tudo criativo para danar, mas transformar em negócio é de longo prazo", afirma.

Ele mostra uma caixa de costura e diz: "Meu trabalho é fazer costuras. Somos muito bons em idealizar, desenhar, implementar e avaliar. Todos temos boas ideias, mas colocar um projeto de pé dá um trabalho... fico costurando as coisas o dia inteiro", brinca.

"Inovação está crescendo em termos de prioridade no país, mas este processo demanda persistência, longo prazo, tenacidade, tanto do ponto de vista do empresário como dos institutos de pesquisa e do governo. Os resultados de uma política que pretende fazer mudança estrutural se mede em décadas. São dez, quinze, vinte anos, não são políticas de curto prazo", diz. o diretor de planejamento do BNDES.

Ele lembra que a estrutura industrial brasileira é composta de setores naturalmente inerentes de baixa densidade em pesquisa e desenvolvimento aliada disposição empresarial ao risco baixa. Isso por um lado. Por outro lado, até a entrada do (Ronaldo) Sardenberg (ministro da Ciência e Tecnologia no governo Fernando Henrique Cardoso) careciam de continuidade e evolução das políticas de apoio à mudança estrutura", afirma Ferraz.

Ele explica que a estrutura industrial brasileira é complexa. "A percepção nossa, a síntese, que temos que mudar por dentro e por fora. Temos que mudar por dentro ou seja aonde nos temos empresas competitivas que são muito competitivas o seu setor terá destaca na estrutura industrial brasileira, commodities, diga de passagem, tem que fortalecer essas empresas. E não só fortalecer patrimonialmente, competitivamente, mas fortalecer em termos de dar mais densidade, estender o que for possível os investimentos em inovação dado as limitações de que tem a indústria, por exemplo, de minério de ferro que não é uma indústria de chips. Temos que trabalhar por dentro não só a empresa mas sua cadeia. E por fora, suas empresas de software, de defesa, biotecnologia. A política de desenvolvimento produtivo ela está direcionada a elevar o patamar de competitividade e capacidade inovativa a partir do estágio de desenvolvimento que a empresa ou o setor estão", diz

Fernandes, da Finep, por sua vez, lembra que o Brasil tem muitas potencialidades de capacidade clara em vários segmentos mas o "grande dilema é o desafio de passar do conhecimento para a geração de riqueza". Um caminho é o de ampliar investimentos privados em pesquisa e desenvolvimento indo além da presença do Estado. Ele diz que quanto aos investimentos públicos em ciência e tecnologia e inovação o patamar é o mesmo dos países ricos, entre 0,7% a 0,8% do PIB. Só que nos países mais ricos o investimento público alavanca o privado que é duas ou três vezes maior que o brasileiro.

A análise do Iedi mostra que para o objetivo de elevar o gasto privado, como é proposto pela PDP, de 0,61% para 0,65% do PIB, é necessário rever a forma de incentivar as empresas. Mantendo o patamar de incetivo atual, isso exigiria que o apoio governamental subisse de 0,07% para 0,09% do PIB.

Fonte: Valor - Heloísa Magalhães - 15/03/2010

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