segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

'Open innovation' desafia as empresas

Henry Chesbrough, da Haas School of Business da Universidade da Califórnia em Berkeley:
"Foi a prática cotidiana que me mostrou o caminho"

O site de uma das mais prestigiosas revistas científicas do planeta, a britânica "Nature", traz já há algum tempo uma série de desafios dentro de um programa de inovação aberta. São US$ 25 mil para quem apresentar um projeto capaz de reduzir custos de aplicação de vacinas para pólio em países de renda média ou baixa. O desafio foi postado no dia 10 de novembro e o prazo final para envio de propostas é 20 de janeiro. Um centro de pesquisas oferece US$ 10 mil para quem desenvolver linhas de células ou animais para pesquisas sobre cordoma, um tipo de câncer ósseo que raramente reage a quimioterapia ou radioterapia. Qualquer pessoa de qualquer parte do mundo pode participar. E os prazos para envio de propostas costumam mesmo ser reduzidos, variando de 3 a 6 meses. Rapidez é uma característica essencial da chamada open innovation, ou inovação aberta.

Esse modelo vem causando furor em alguns setores, principalmente porque reduz os custos de P&D para empresas e acelera a introdução e aceitação de inovações no mercado, já que é capaz de estar antenado com os desejos e necessidades do consumidor durante todo o processo. Pequenas e médias empresas, com poucos recursos para investir em P&D, também aparecem como beneficiárias desse modelo de gestão de inovação.

Além disso, abre as portas do mercado de trabalho para jovens com ideias criativas, mesmo que seus projetos ainda não estejam suficientemente maduros para decolar - a empresa que lança o desafio e acolhe a proposta se encarrega de viabilizá-lo. Especialistas reunidos em São Paulo para a 4ª edição do Open Innovation Seminar veem nessa nova forma de gestão da inovação uma alternativa viável para o Brasil, cujo crescimento econômico se ressente da crônica falta de investimento empresarial em P&D e da falta de mão de obra especializada.

"Foi a prática cotidiana que me mostrou o caminho", conta Henry Chesbrough, professor da Haas School of Business da Universidade da Califórnia em Berkeley, e criador do conceito de inovação aberta. Chesbrough trabalhava numa pequena empresa de informática, a Quantum, que conseguia competir com a poderosa IBM, detentora da patente de um sistema de disk drive que ela não vendia para a concorrência. A IBM, claro, tinha investido milhões na contratação de PhDs, na montagem de laboratórios de ponta e guardava ciosamente sua patente. O produto semelhante desenvolvido pela Quantum invadiu o mercado.

"A lógica da open innovation é darwiniana. Quem sobrevive, na natureza ou no mercado, não é o mais forte, mas aquele que melhor se adapta ao ambiente e o ambiente econômico hoje é o de mudanças e inovações aceleradas. Nesse novo ambiente, as empresas grandes, presas ao modelo convencional de P&D, se movem com a lentidão de um dinossauro pesadão", compara.

No modelo convencional, uma inovação que apareça no processo de pesquisa pode ser patenteada e encostada, porque não atende às prioridades da empresa. No modelo de inovação aberta, essa inovação é disponibilizada para aquelas que possam aproveitá-la eventualmente. Nesse tipo de gestão, a empresa integra recursos internos e externos tanto no P&D, como na colocação do produto no mercado, formando uma rede de inovação que pode incluir centros de pesquisa - inclusive de universidades - clientes, fornecedores, startups e até os concorrentes.

"O Brasil, por exemplo, tem uma oportunidade única no caso do etanol, mas ao invés de compartilhar essa tecnologia com outros países e efetivamente ser líder mundial num setor inovador, mantém o conhecimento para si. A abertura do conhecimento não é abrir mão dele, mas expandir sua liderança", exemplifica.

De acordo com Henry Chesbrough, o Brasil vive um momento econômico fantástico e tem uma oportunidade única para atrair a melhor tecnologia do mundo, absorvê-la e realmente ocupar uma posição internacional de destaque. "Este é o momento de correr risco, já que os países que tradicionalmente eram líderes mundiais não o são mais, estão mergulhados em crises econômicas. O que falta ao Brasil hoje é confiança no processo de inovação", afirma. O país, segundo ele, passou anos mergulhado no combate à inflação e investindo muito pouco em inovação, praticamente restrita ao ambiente acadêmico. "O que se percebe agora é um país com vastos recursos naturais e sem know-how, que precisa urgentemente de mais iniciativas e atividades no setor, algo que poderia receber forte incentivo governamental.


Por Ruth Helena Bellinghini | Para o Valor, de São Paulo

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