quinta-feira, 26 de novembro de 2009

"The Triple Helix" - A era da inovação em tripé

Autor do conceito de Hélice Tríplice, o professor de Stanford Henry Etzkowitz defende a sinergia entre universidade, indústria e governo para estabelecer novos parâmetros de inovação

Fazer com que a sociedade industrial migre para a sociedade do conhecimento - eis uma forma de sintetizar a finalidade do conceito "Hélice Tríplice", criado por Henry Etzkowitz, professor da Universidade de Stanford (Estados Unidos). Nesta quarta-feira, Etzkowitz teve cerca de uma hora para falar a respeito do tema durante o 2º Congresso Internacional de Inovação, promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre. A ideia de integrar ações de governo, indústria e universidade - daí o termo "Hélice Tríplice" - percorre o mundo em congressos e seminários, além de estar detalhada minuciosamente no livro "The Triple Helix - University - Industry - Government: Innovation in Action", recém lançado em português.

Para Etzkowitz, é preciso romper com o paradigma de sociedade meramente industrial. Na visão do autor, a sociedade precisa se amparar no conhecimento. "As universidades corporativas são um exemplo que mostram o papel das empresas na formação das pessoas", explica, citando o caso da Vale, cuja universidade corporativa já conta com uma incubadora tecnológica. "É a inovação dentro da inovação", avalia. Ao dar o exemplo da mineradora brasileira, o autor fala não apenas a aproximação entre ensino e mundo empresarial. Segundo o Etzkowitz, o papel do governo nesse tipo de iniciativa é fundamental. "O governo começa a ter um papel mais importante na inovação, com leis, regulamentos, concessão de crédito e incentivo financeiro a novas empresas", afirma. A criação de parques tecnológicos e incubadoras em universidades é, na visão dele, um caso emblemático de Hélice Tríplice - em que governo, iniciativa privada e academia se complementam.

Na visão de Etzkowitz, as universidades precisam sair da posição secundária que ocupam, hoje, na sociedade. "Elas têm de ser tão importantes quanto a indústria e o governo", apregoa. Conforme a teoria, as interações entre esses três eixos se estreitam à medida que se tornam mais livres - até o momento em que geram "inovações dentro da inovação", como diz Etzkowitz. "Estive em uma formatura na PUC Rio um tempo atrás. Não eram alunos que estavam se formando, eram empresas incubadas", lembra. Ao trabalhar com incubadoras, diz o professor, as pessoas aprendem a constituir uma organização - ou seja, uma empresa: "Aí, cresce o papel delas na sociedade".

Hoje, é comum ouvir falar de patentes e propriedade intelectual dentro de empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento. Para o criador do conceito de Hélice Tríplice, o ideal é fazer com que a inovação rompa as barreiras do mundo empresarial. "A sociedade industrial cria pessoas cartesianas, que mantêm empregos vitalícios. Neste novo conceito, há mudanças, implicações e interações", explica. Uma dessas mudanças é a forma de abordar crises econômicas. Etzkowitz conta que na sociedade do conhecimento sempre estão surgindo novas capacidades produtivas. "Quando tudo está mais integrado, chamo isso de emergência do conhecimento polivalente, algo que está entre o teórico e o prático, que pode ser publicado e patenteado", destaca. Para ele, propriedade intelectual não é apenas pesquisa e desenvolvimento: "É também trabalho acadêmico. Assim, a universidade modifica seu formato e assume a identidade de negócio".

Baseado nisso, Etzkowitz sugere a transferência de conhecimento docente para empresas e de executivos para as universidades. Tudo incentivado pelos governos. "Veja, por exemplo, a regra de um quinto dos Estados Unidos, onde os professores são consultores de empresas uma vez por semana. É a reinvenção dos papéis", exemplifica. Para auxiliar essa transição, o autor recomenda que os governos interfiram por meio de fundos de suporte ou aliviando a carga tributária - e elogia a Lei de Informática brasileira, que isenta o setor produtivo de vários impostos.

fonte: Ricardo Lacerda / Redação de AMANHÃ

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